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Algumas Palavras

Instagram é um álbum de fotos

Você tem ou já viu um álbum de fotos? 

Isso mesmo, daqueles impressos com foto de papel. Fotos reveladas, como dizem os mais velhos. 

Eu sugiro que antes de seguir neste texto, procure um álbum perto de você e veja-o. Pode servir também a opção do facebook que tem no item Fotos, os álbuns, caso você não tenha nada a mão ou nunca tenha visto um desses objetos.

Feito isso, eu pergunto: qual a sensação que você teve olhando para as fotos e as pessoas nas fotos? Que sentimentos estão registrados da forma mais eterna possível naquelas imagens impressas?

Em regra, ou, de maneira generalizada, poderemos todos responder: felicidade. 

E é verdade. As fotos registradas e impressas, ou publicadas como são atualmente, congelam em nossas memórias afetivas os momentos de felicidade, realização, amor, conquistas, dentre outros nessa mesma linha de sensações. O que elas não mostram são os outros tantos momentos da vida, os de tristeza, de decepção, de saudade, de injustiça, de medo, de traição, e por aí vai. O interessante é que ambos momentos existem, os bons e os ruins, na vida. E o fato que termos registros somente dos bons não significa que eles são a síntese de tudo, ou seja, da vida. Eles são uma parte boa, a parte que queremos lembrar e mostrar. 

O instagram é um álbum de fotos. 

Nele há registros de coisas extraordinárias, de pessoas que aparentam sucesso, de felicidade, corpos esculpidos por deuses, amores eternos, filhos que enchem seus pais de orgulho. Enfim, um álbum infinito e público do que é uma parte da vida, não é A vida. 

Se fossemos ver esse álbum com um olhar mais inteiro talvez as legendas seriam assim:

“Depois de 5 anos desempregada finalmente consegui um emprego, que não está me remunerando de acordo com minha qualificação, mas desempregada estava osso!”

“Tive uma intoxicação alimentar e nesta, entre hospital e tal, perdi 7 kg. A foto não vai contar isso, mas vai mostrar que minha barriga chapou! #tá pago”

“Foi um ano bastante difícil e acompanhei de perto meu filho na escola depois de notas abaixo da média. Ele estava muito angustiado. Hoje um presente para nós todos: um 8 na prova de história! Parabéns, filho!”

Dá para notar a diferença?

A fantasia de uma vida cheia de benesses e facilidades, normal quando somos bebês, segue viva dentro de nós e rapidamente somos capturados pelas imagens que transmitem essa mensagem porque cola com um desejo que ainda resiste à uma vida que é inteira.

Olhar o álbum com os bons momentos é uma delícia, entender que tem uma grande parte de coisas que não está lá não anula a beleza dos registros. Acreditar que só existe o “álbum” na vida é outra história.

Uma noite, ou duas…

“Uma noite não muito diferente de várias outras, junto com a comida chinesa que foi entregue na minha casa veio um biscoito da sorte: aqueles biscoitinhos interessantes e adocicados que vem de brinde. Após o jantar, abri o meu e no interior dele veio a seguinte frase:

´Acumule forças no período de ação impossível para assim realizar grandes obras.´

Essas frases, em geral, não surtem muito efeito. Soam como frases prontas, simplesmente embaladas junto a um biscoito, entretanto na conjuntura em que ela me caiu nas mãos, meus pensamentos se tornaram mais intensos em relação a ela.

Existe um momento em que a ação realmente parece impossível e dolorosamente nos aponta a inevitável impotência que o humano é obrigado a conviver. Hoje, pensei mais uma vez nessa frase, voltei a lê-la e novamente refleti sobre o que poderia implicar seu conteúdo.

Meu espírito intenso como só não consegue sossegar frente à impossibilidade de ação, a razão para isso pode ser múltipla. Pode ser porque sou assim, seja porque sempre acreditei que poderia fazer alguma coisa, ou, ainda, devido a uma crença infantil na onipotência de que as coisas dependem somente de você mesmo para acontecer (uma palavra para isso: HAHAHA!!).

Diante dessa torrente reflexiva, dei-me conta que muitas coisas foram assim até agora: desejei algo, organizei meus planos e tratei de abrir o caminho até o ponto em questão. Obstinada. Na prática, sempre levada pela impaciência e pela pressa, possivelmente passei correndo por experiências das quais poderia ter tirado mais proveito; passei por pessoas sem conhecê-las direito ou profundamente; ignorei avisos importantes; ou ainda, simplesmente fui como sei ser.

Contudo hoje, frente a um desejo crescente de estar junto a alguém importante para mim e perceber que a ação é – literalmente – impossível nesse momento, meu coração dói ao se dedicar a guardar forças. Devo crer que essa é a única alternativa, e possivelmente o mais correto a ser feito, entretanto nunca me pareceu tão difícil esperar o tempo próprio da vida.

A urgência íntima me enganou muitas vezes e, dessa forma, forças foram gastas sem critério. O que quero passar a crer de verdade é que haverá uma grande obra como diz o bilhetinho do biscoito, e que eu saberei aguardar. Por que isso aconteceria? Porque eu desejo também?

Ouço de novo a mesma voz que riu um pouco antes: Cresce e vai dormir porque amanhã é dia de trabalho.

Às vezes, as noites podem ser cruéis com o coração das pessoas.”

(Pequeno conto escrito em 2010)

As faces da violência

“Bibiana, o que você chama de agressividade eu chamo de insistência…”

Essa frase foi enviada para mim por uma pessoa, um homem que não era meu paciente, numa situação em que ele estava em desacordo com minha conduta profissional.

Claramente, nós dois víamos a situação de formas muito diferentes: eu entendia que ele estava sendo violento verbalmente através de ameaças, ele, por sua vez, entendia que era simplesmente enfaticamente insistente (a palavra “enfática” também foi usada por ele).

O que eu quero discutir aqui?

Quero trazer um recorte do meu trabalho com crianças, do que eu vivo como mulher, do que eu leio e escuto de outras pessoas, o qual conta sobre as diferentes faces e nuances que a violência pode ter. 

Usualmente a violência mais explícita é a física, na qual as marcas no corpo são dificilmente dissimuladas, ainda que possam vir a ser. Há muitos tipos de violências, assim como há muitas nuances dela e assim, formas bastante perversas de “interpretação” do que é violento ou não. Discriminação, preconceito, homofobia, racismo, machismo, todas estas podem ser maquiadas e parecerem algo banal, ou, simplesmente, uma “insistência”. Mas, não o são. E não podem seguir sendo vistas dessa forma.

A violência psicológica, embora muito frequente, é pouco reconhecida, e, com isso, sua face não é clara para a maior parte da sociedade.
Talvez você pense: “Ah, Bibiana, agora tudo virou violência!”

Não, nem tudo é sobre isso, mas muita coisa é. E é sobre o que ainda é – e há muito, basta ver as estatísticas, caso isso seja necessário – que sistematicamente precisamos falar, pensar e, acima de tudo, mudar essa realidade.

Para fins de educação, irei utilizar algumas linhas conceituando o que é a violência psicológica:

Seu diagnóstico é bastante complexo e quanto detecta-se, frequentemente está associada a outros quadros severos de maltrato e ainda que confirmada a suspeita, a intervenção dos profissionais e/ou do sistema legal ocorre de forma mais cautelosa.

É caracterizada como hostilidade verbal crônica em forma de burla, desprezo, crítica ou ameaças. Quem maltrata psiquicamente pode adotar atitudes tais como ameaçadas indiretas, privação, humilhar frente aos outros, privar de saídas e de integração social, por exemplo.

A agressão verbal é uma das faces mais comuns da violência psicológica, e em contextos familiares, por exemplo, não raro está acompanhada da violência física. É uma forma usada para agredir uma pessoa com palavras. Usa por exemplo, xingamentos ou outras expressões que façam o outro se sentir inferior.

Com faces tão indistintas por vezes, a violência vai passando entre nós e naturalizando-se entre quem é agredido e agressores, tornando-se banal até um ponto crítico no qual eclode em uma situação fatal. Nesse ponto, a sociedade olha com pavor e pergunta-se: Como se chegou a esse ponto? É sobre isso que falo nesse texto: o processo, não o resultado trágico final.

Violência pode ter um o rosto que tiver, mas essas agressões cotidianas são corrosivas como ferrugem: aos poucos vão desmontando a coragem, a auto estima, a confiança. Sobrará o que, então?

Farei uma pergunta, do meu ponto de vista, mais esperançosa:

O que nós faremos para mudar essa face?

haverá um mês

Haverá um mês diferente. 

Haverá um mês, que mesmo anunciando a mudança de estações, estará recoberto de um outro clima, um ar mais denso, folha caída, um cinza indeciso, uma saudade.

Haverá um mês que será confuso por muitos anos.

Passa um, passa dois, passarão mais, e ele será o mês.

Nele cabe o impossível: o início e o fim. 

Nele coube o que não tem palavra até hoje.

O tempo parece que enlouqueceu.

Haverá um mês que teimamos em não querer sentir.

As marcas estão presentes e ditam que ali algo findou.

E é essa inevitabilidade que arrasa com as defesas.

Sempre haverá um mês em que não se poderá esquecer.

Não se esquece o que está tão profundo:

Como as árvores, folhas e flores e frutos não se sustentam nos passar dos meses. 

As raízes, sim. Elas seguem. E cavam mais fundo todos os anos.

Então, seguiremos raiz, mês a mês, ano a ano.

8 de outubro

Luto vivo

O luto não morre.
Ele é vivo.
Uma presença chata e constante.
Um olhar que vem de um canto.
Fica. Fica. Fica. E fica.
Visita que se acomodou.
Virou morador fixo.
Chato.
Desnecessário, mas não optativo.
Fica, fica… fica.

Posseiro, na espreita como de hábito, acomodou-se.
Não queria, mas não houve questionamento prévio.
Visita indesejada.
Mas, que visita é essa que faz morada?

Luto morador doído, inconformado, que não deixa esquecer.
E só o que eu queria era não lembrar para dar sossego, para parar de doer.
Ele fica, fica…

Escolhas aqui não são permitidas.
Lamentamos o inconveniente, mas Luto só vem, não vai.
Ele fica. E cria casa.

À você cabe escolhe: ou se avizinha conformado, ou, se muda!
Ops! Lamentamos informar: não há para onde ir.
Fica.

Aniversário

No dia do aniversário acorda-se para uma espécie de renascimento: nasce-se tantas vezes e no dia em que viemos oficialmente ao mundo, pela primeira vez, não poderia ser diferente.

Aniversário é algazarra.

Aniversário é aquele friozinho na barriga com as mensagens e telefonemas – alguém ainda liga ai?

É uma data em que se olha para trás e coloca-se a pensar: valeu até aqui?

Aniversário é para estar junto. É para ser surpreendido e não esquecido. É um momento em que você quer se sentir especial – único mesmo.

Aniversário é carinho.

E agora é saudade também. Feliz aniversário.

26 de outubro

Sobre ler, escrever e manter-se vivo

Esse texto foi escrito como meu discurso na abertura da Feira do Livro de Júlio de Castilhos, dia 14 de Outubro de 2021. Logo, o texto tem como característica uma fluidez adequada à expressão oral.

Inicialmente, gostaria de dizer do quanto gostei e fiquei surpresa com o convite para representar autores e leitores da cidade através do evento da Feira, o qual sei que exige muito investimento de tempo e afeto de todas as pessoas envolvidas.

E como não poderia ser diferente, nesse discurso de abertura vou falar sobre o slogan da Feira: Ler é um superpoder.

No primeiro momento, logo que li o slogan da Feira, ele me trouxe uma feliz proximidade com o  último livro, dedicado, a princípio, para o público infantil. Em seguida, pensei em um autor bastante relevante para área da psicologia e saúde mental como um todo, provavelmente vocês já tenham ouvido falar dele, Michel Foucault.

Esse filósofo francês, escreveu obras importantíssimas, como a História da Loucura e Vigiar e Punir, por exemplo. Contudo, quero especificamente falar de uma das suas principais ideias que é referente a noção de que o SABER, como noção de conhecimento, está relacionado com a noção de PODER. Segundo ele, quem tem o conhecimento detém o poder.  A perspectiva dele é bastante política, complexa e duramente realista. Mas não é sobre essa perspectiva que quero trazer ele, e sim poder dar uma conotação mais otimista a essa noção de conhecimento e poder, a qual em tudo relaciono com livros, pensar, com a feira do livro e com esse super poder que é ler – e ainda, não somente ler, mas conseguir pensar sobre o que se lê. E esse último ponto faz toda a diferença.

E como começamos a pensar?

Pode ser que muitos entendam que pensar é um ato natural do ser humano. Não é. Para pensar pensamentos é necessário estímulos de ampla ordem, desde comida a ler. Nossos heróis e heroínas precisam de um ambiente, um entorno, que alimente seus corpos e suas mentes. Ou seja, nossos heróis e heroínas precisam de uma rede de apoio, afinal o que seria do Batman sem o Alfred, seu mordomo fiel, atendo e cuidadoso?

E falando em heroínas, essa ideia de um ambiente que apoia fica ainda mais explícito para nós no primeiro filme da franquia “Mulher Maravilha”, no qual Diana, princesa oriunda de um reino de amazonas as quais tem como uma das missões formar e cuidar das meninas e das futuras guerreiras, além de contar com essa origem, fica explicitado o notável apoio que essa super heroína recebe de uma equipe pouco provável a qual encontra quando ela vem para o mundo dos humanos. Por que falo tudo isso?

Porque ler é um poder incrível mesmo e pode ser um superpoder, desde que também encontre um apoio, um acolhimento para se desenvolver.

Ler é algo que propicia viver outras vidas, alimenta e desenvolve a condição de pensar. E quem pensa, escolhe. Quem escolhe, não é escolhido. E quem não é escolhido tem capacidade para se responsabilizar pelos caminhos que circula – em psicanálise, que é com o que trabalho, é disso que tratamos TODOS os dias com miúdos e grandes também.

Os livros são verdadeiros salva-vidas.

Quando eu estava no ensino médio eu me sentia especialmente deslocada, isso ainda mais claramente no terceiro ano. Para onde eu ia? Para a biblioteca do colégio.

Já bem menos deslocada, na faculdade, vivia eu pela biblioteca também. Adorava. Era conhecida das bibliotecárias. Li Os Lusíadas, Divina Comédia – que não consegui terminar, diga-se de passagem! – poesia nacional, literatura regional. Os livros foram me aproximando das pessoas, de mim e de pensar cada vez mais. Fui desenvolvendo meus super poderes.

A leitura acolhe quem se sente deslocado. Dá assas para quem quer voar. Propicia o encontro também. A leitura te integra ao mundo.

Lendo a gente começa a pensar que escrever é uma alternativa possível. Fiquei pensando também nessa pergunta: Por que precisamos escrever?

A escrita possui diferentes funções no mundo, desde diários pessoais, puramente catárticos, até, comunicações científicas ou políticas, as quais geram impactos globais. A escrita é para quem escreve principalmente porque ela é o ato final em si. Depois que está escrito o texto não é mais seu, ele já não pertence mais a você ou ao seu entendimento exclusivamente.

Quando escrevo eu tiro de mim: não mais sou eu ali, é outra coisa, tem uma outra vida. Vida própria. Enquanto está em mim, inquieta-me; já no papel, leio com certa surpresa, como se fosse uma primeira vez com certeza.

Para escrever precisamos de um estado de solidão habitada por um universo. Parece um paradoxo, e talvez seja. Estamos sós, cheios de pessoas dentro. É um ato de achar uma voz a ser evocada, calar outras tantas que só fazem burburinho. É silencioso e intenso. Vazio e completo. Povoado e solitário. É o próprio paradoxo o tempo todo.

Escrevemos para alguém, imaginário, interno ou externo, sempre há uma presença “escrever não é um ato solitário.” (MEIRA, p.237) e é uma potente ferramenta para alcançarmos a elaboração de dificuldades, sofrimento ou até mesmo dar conta de eventos traumáticos, como é o caso da incrível Clarice Lispector.

Pronto, por que ler é imperioso? Porque oferece uma passarela para uma vida possível: acolhe, identifica, dá um cenário, alcança esperança, faz crescer. Ou seja, nos torna muito poderosos!

Por que adulto perdoa

(Texto dedicado à minha avó, Otalina! Essa menina de olhos verdes linda da foto!)

Adulto perdoa mais fácil que criança e adolescente.

Me dei conta disso escutando pessoas e escutando a mim mesma.

Estava cozinhando esses dias e lembrei da minha avó. Morei com ela por 1 ano quando fazia o já antigo segundo grau. E entre aromas e panelas lembrei do quanto ela cuidou de mim e o quanto eu não fui cuidadosa com ela.

Fui uma típica adolescente, com o contexto de estar loucamente estudando querendo provar meu valor pelo listão do vestibular.

Se todas essas expressões não fazem sentido para você, deixe-me localizar a época da qual falo: estou falando da década de 90, interior do RS, numa cidade conhecida por ser a cidade universitária.

Retomando…

Fui egoísta em quase todos os momentos que lembro.

E ela estava lá, igual. As vezes mais cansada, mas parecida com o que sempre foi.

Hoje quando nos falamos e declaramos descaradamente nosso amor uma à outra, fica claro para mim que ela me perdoou. Nem sei se lembra dessas mal criações que fiz. Não há nada de mágoa nas suas palavras, ela só é feliz por mim.

Adulto perdoa porque sabe que adolescentes e crianças ferem quem os ama, é da sua natureza, é do seu momento. Eles perdoam porque são maiores em amor e paciência.

E eles sabem que você vai chegar lá. Eles acreditam, eles apostam nisso.

Você vai chegar aonde eles estão e também será capaz de perdoar, porque foi perdoado tantas necessárias vezes. Na verdade, eles estão te ensinando algo importante sobre crescer. Guarde essa lição. Acima de tudo, cultive essa sensação.

Crescer também se trata de aprender a perdoar, ora bolas!

Até onde vai uma mãe???

(Aviso 1: Baseado em fatos reais. Aviso 2: Contém ironia e verdade difíceis.)

Numa noite de sábado qualquer uma mãe desesperada procura um lugar para desfrutar de alguns pouquíssimos minutos de silêncio. È caso de vida ou morte: são 24 horas e ela precisa garantir seus 5 minutos de solidão. O que uma mãe é capaz de fazer por isso? Quais os limites? Até onde ela iria?

Lembrem-se , é sábado a noite, um momento típico da semana no qual pessoas ao redor do mundo se divertem, mas não uma mãe! Não ela! Ela para comprovar seu amor incondicional  não pode querer descansar, muito menos ficar algum tempo longe da cria. Dedicar-se integralmente, 24 horas do dia, seu corpo e pensamento, ao filho é a sua (única e possível) felicidade – sqn (sabemos!).

Mas, contra todas as expectativas sociais, essa mãe precisa de alguns minutos para si. Ela não sabe para que exatamente, mas quer se refugiar em algum lugar. O banheiro, tradicional esconderijo materno, já é clichê: todos os filhos e parceiros já possuem a informação que mãe de todos os lugares se refugiavam em banheiros alegando hora estarem sentadas no vaso sanitário (desculpa muito frágil porque nada impede de todos ficarem juntos a olhando!), ou no chuveiro molhada, e portanto, não “conseguia” abrir a porta. A “sugestão” do(a) parceiro (a) é que da próxima vez, deixe a porta destrancada.

Claro, responde a mãe, com um franco desespero no rosto, “Como não pensei nisso!”.

Mas, nossa mãe tem artimanhas! E ela não está só!

Seguem orientações: Na cozinha, a despeito dos olhares, você abre a espumante com um pano de prato, para que ninguém ouça o estouro da rolha. Quase em parelho faça um barulho com pratos e um xingamento aleatório, simulando um pseudo incômodo.  O passo seguinte consiste em encher uma taça: encher, nada de golinho!  Taça quase transbordando! Se você não tiver uma taça a mão, não se preocupe mãe, ela pode ser substituída por qualquer recipiente que esteja por perto! Agora o pulo do gato: Com taça em mãe, se joga para lavandeira!! Isso mesmo!! Com o copo “moqueado” em meio a produtos diversos, isopor, brinquedos e demais objetos típicos de uma área de serviço, você fecha a porta e desfruta dos seus minutos. É importante que o entorno acredite que você está trabalhando, esse ponto é fundamental , porque sim, mesmo em 2021, ninguém quer lavar roupa com você no sábado de noite. Estranho, não é?

Qualquer solicitação a resposta agregada a barulhos é simples: A mãe tá ocupada!

Comoção e esquiva garantidas!

E você terá seu sossego por alguns minutos. Só conseguimos garantir poucos minutos por enquanto, mas estamos aperfeiçoando a igualdade de gêneros e de demandas da vida doméstica e familiar. Agradecemos a sua compreensão!

Palavras que se calam. Palavras que se sente

As vezes não falamos coisas difíceis uns para os outros não porque não queremos, mas simplesmente por ainda, infantilmente, acreditar que quando não falamos o que nos dói (ou, doeu) essa dor deixará de existir… ou ficará mais branda… ou quem sabe foi bobagem nossa, nem vale a pena!
O duro é que o não falar não garante nada disso dito acima: não falar não garante que deixemos de sentir tanto o ódio do outro, como o amor desse – e aí está a chave, parece-me: quando tu te sentes amado, mesmo que não se fale sobre o assunto, você sente. Quando você é odiado, também sente.
Quando um “amo você” ou “me importo contigo” vem em palavra, dá aquele abraço, aquele contorno que torna tudo real e dá passagem para se seguir sentindo.
Calar não promove garantia de proteção.
Calar esconde.
Falar coloca em jogo.
Calar endurece.
Falar ajuda. Falar não faz com que você deixe de sentir (ainda bem!!), mas dá endereço a dor… e assim, ela segue seu caminho.

 

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