Carta aberta ao analista (do paciente para o analista)

Caro analista, 

Essa carta não é algo definitivo. Com certeza não é. Mas, é algo que gostaria de dizer a você e a algum outro que por ventura ler essa carta. Talvez somente eu pense isso, talvez não. Talvez ajude, talvez seja só uma pretensão minha – algo não analisado? Agora não saberei dizer.

Primeiro eu quero agradecer por todo processo porque devido a ele, inclusive, eu pude escrever essa carta e expressar, ainda que por escrito, sentimentos e observações que fiz nesse processo.

Caro analista, quando uma pessoa procura você e pergunta se você pode ajudar, algumas delas certamente não estão te perguntando se você vai pagar os boletos dela, ou falar por ela algo que ela não está conseguindo, ou ainda, pegar em sua mão e conduzi-la de forma cega. Ela quer acolhimento porque está doendo o que está dentro dela. Ela quer sua escuta atenta. Ela quer a ajuda de ter um lugar seguro para sentar e chorar sem ser julgada ou apressada. Ela quer alguém vivo e afetivo junto.

Quando alguém lhe disser:

“Não entendi o que você disse”, nem sempre será por conta da resistência. 

É que, muitas vezes, suas palavras são desconhecidas para pessoas que não são da área ou ainda, elas tem um sentido que não é o popular. Quando disse que “não entendi” eu quero me aproximar do que está acontecendo ali naquele momento, e não ao contrário. Quero que as palavras façam tanto sentido para mim que se tornem minhas, ou eu as sinta como minhas. Quero sentir-me entendido.

Quando eu questiono alguma norma do tratamento, meu analista, uma possibilidade que deveria ser considerada é que eu quero de fato pensar junto o que significa para nós aquela combinação e não colocar em risco nosso vínculo terapêutico. Ah, e tem outra sobre a questão do vínculo: quando, vez ou outra, eu perguntar como você está depois de alguma sessão que você desmarcou, por exemplo, eu posso ter ficado preocupado porque tem afeto nessa relação. Juro que não imagino – nem quero!!! – que você irá me contar sobre suas intimidades.

Meu analista, não quero aula na minha sessão, mas sentir que você sabe o que está fazendo é algo que transmite segurança. Não quero conselhos, nem quero que me diga “que tudo ficará bem” – porque talvez não fique – mas, sim, quero alguém próximo, humano, alguém que, errando – porque sendo humano, irá errar – não tenha nenhum problema em dizer que “pisou na bola”. Eu vou te admirar. Mais uma coisinha, dizer “não sei” é zero problema, viu? Essa pinta de quem sabe tudo, cansa bastante, a mim e certamente a ti também. 

Analista não deve ser um trabalho fácil, tenho certeza. Fico imaginando o tanto que você estudou e estuda para estar nesse lugar. Admiro tanto! 

Mas, uma coisa que aprendi com a psicanálise é que ela é afetiva e isso não a deixa menos neutra ou ética. Psicanálise é sobre a vida de todo mundo, ela se implica, ela é uma experiência que se vive a dois. Ou seja, meu analista, a Psicanálise não é cinza, sisuda e enigmática, isto é outra coisa. E se tem algo que aprendi é que, Psicanálise é sobre relação – essa poderosa experiência que nos torna humanos de verdade.Sendo assim, não me deixe sozinho na minha sessão.

E mais uma vez, obrigada!

ATENÇÃO: Essa carta é um texto ficcional.

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