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Arquivos Desenvolvimento - Bibiana Malgarim

Por que adulto perdoa

(Texto dedicado à minha avó, Otalina! Essa menina de olhos verdes linda da foto!)

Adulto perdoa mais fácil que criança e adolescente.

Me dei conta disso escutando pessoas e escutando a mim mesma.

Estava cozinhando esses dias e lembrei da minha avó. Morei com ela por 1 ano quando fazia o já antigo segundo grau. E entre aromas e panelas lembrei do quanto ela cuidou de mim e o quanto eu não fui cuidadosa com ela.

Fui uma típica adolescente, com o contexto de estar loucamente estudando querendo provar meu valor pelo listão do vestibular.

Se todas essas expressões não fazem sentido para você, deixe-me localizar a época da qual falo: estou falando da década de 90, interior do RS, numa cidade conhecida por ser a cidade universitária.

Retomando…

Fui egoísta em quase todos os momentos que lembro.

E ela estava lá, igual. As vezes mais cansada, mas parecida com o que sempre foi.

Hoje quando nos falamos e declaramos descaradamente nosso amor uma à outra, fica claro para mim que ela me perdoou. Nem sei se lembra dessas mal criações que fiz. Não há nada de mágoa nas suas palavras, ela só é feliz por mim.

Adulto perdoa porque sabe que adolescentes e crianças ferem quem os ama, é da sua natureza, é do seu momento. Eles perdoam porque são maiores em amor e paciência.

E eles sabem que você vai chegar lá. Eles acreditam, eles apostam nisso.

Você vai chegar aonde eles estão e também será capaz de perdoar, porque foi perdoado tantas necessárias vezes. Na verdade, eles estão te ensinando algo importante sobre crescer. Guarde essa lição. Acima de tudo, cultive essa sensação.

Crescer também se trata de aprender a perdoar, ora bolas!

Para crescer, é preciso perder: Discurso aos meus afilhados e afilhadas Psicologia UNISINOS/2018

É inevitável para mim, desde o convite para ser paraninfa dessa turma, pensar frequentemente na questão: O que mais podemos, posso eu, dizer para essa turma que hoje concretiza um sonho se tornando psicólogos e psicólogas?

O que ainda não foi dito?

Foi então, que em um de nossos encontros tive meu insight, mais precisamente numa aula da disciplina de Intervenção com Crianças e Adolescente, quando alguns de vocês apresentavam seus trabalhos finais da disciplina, na qual me dei por conta que não precisava falar necessariamente de uma novidade hoje, mas sim, falar de algo que constante se renova em todo o curso do nosso desenvolvimento: Para crescer é preciso e necessário dizer adeus!

Irei fazer uma analogia entre a formação e o desenvolvimento de uma criança.Afinal vocês sabem que ministro essa disciplina também!

A universidade gesta um curso, cuida, alimenta, compõem, faz todo o pré-natal para esperar seus rebentos: vocês nascem, bebês! Na mesma proporção que há toda uma potencialidade para crescer e aprender – e sabemos que a mais incrível  condição de aprender está nos recém-nascidos –, há o medo do desconhecido, e a pergunta inevitável se faz: Que vida é essa que me aguarda nesse mundo?

Como bebês, repletos de recursos e tempo, querem e precisam crescer.

Crescemos! Vocês cresceram!

Para tanto, abrimos mão constantemente de coisas que nos são muito preciosas, muito queridas, mas que já não podem, nem precisam ser mantidas: Abrimos mão da segurança do colo materno em prol de andar com as próprias pernas, abrimos mão do que é conhecido, em prol de terras novas e cheias de pessoas que se tornarão como uma nova família para nós;  abrimos mão de um corpo infantil e de onipotências infantis, para ganhar tanto mais, inclusive a maturidade para suportar a dúvida constante que é marcadamente característica da vida de um adulto.

Poder ir frente é tolerar deixar para trás algo. É tempo de delicadeza, e concomitantemente, de firmeza.

Hoje vocês correm! Hoje vocês estão crescidos! Mais precisamente, vocês ESTÃO crescendo!

Não mais bebês, nem mais adolescentes – lembrando daquela crise bem comum no meio do curso, onde as demandas parecem impossíveis de serem vencidas – hoje são nossos / nossas colegas agora. Gente grande!

Paramos de perder então?

Perder é necessário. Ao se perder não se deixa de ganhar, é escolha. Isso que é uma aparente contradição,  é lindo! E cheio de possibilidades!

A Psicologia foi escolhida por vocês – e cada um de vocês certamente escolheu essa profissão por uma razão tão particular que não poderia ser generalizada – e para essa escolha ter sido feita, muitas outras possibilidades foram deixadas de lado: E será que isso foi ruim? Nesse momento, aqui com vocês, olhando vocês, os olhos, os sorrisos, só posso crer que foi uma acertada escolha!

Durante todo esse percurso muitos momentos se tornaram marcos, marcos do crescimento de cada um de vocês, foi necessário escolher o tempo todo: estudar ou descansar? Quais disciplinas em quais horários? Qual estágio fazer e onde fazer? Tcc agora ou no próximo semestre? Quem escolher para me orientar? Estar em casa, ou, estar na universidade? Dormir ou levantar?

Vocês são testemunhas uns dos outros o quanto todas essas escolhas e simultâneas renúncias compuseram cada um de vocês de maneira única e fizeram da jornada de se tornarem psicólogos e psicólogas um desejo possível, e que foi alcançado.

Queremos crescer! Desde que nascemos!

Quando crescemos, paramos de perder? Não, queridos queridas afilhados e afilhadas. E volto a dizer: isso ainda assim é bom!

Inocentemente podemos pensar que quando se cresce, vira gente grande, dizer adeus fica mais fácil, mas não fica. Nunca é. Mas, é tão importante e tão potente: dizer adeus hoje é só um outro começo; um outro momento no qual tantas novidades e possibilidades se apresentarão que se torna irresistível crescer!

Hoje estamos aqui juntos para comemorar um grande crescimento e vocês me deram a honra de apadrinha-los.

Dessa maneira, desejo que como todo adulto, continuem crescendo.

Continuem se questionando! Inquietando-se! Ganhamos muita coisa ao mesmo tempo em que renunciamos outras. Sejam esses colegas que nós todos aqui, como universidade, gestamos e apostamos: pessoas éticas, cuidadosas, afetivas, comprometidas e em permanente movimento!

Então, nesse momento, adeus acadêmicos de Psicologia, e sejam muito bem vindos meus e minhas colegas!

Bem vindos a um novo caminho!

 

 

 

Com quem contar? O começo da vida para os bebês

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Como se começa a viver? Em quais condições? Com quem se conta quando se entra no mundo? Quando um miúdo estreia na vida as pessoas do entorno são tão fundamentais quanto o ar que enche seus pulmões.

Um miúdo que conta com o olhar, cuidado, atenção e desejo de adultos terá um início privilegiado com toda certeza. Podemos imaginar uma cena facilmente: um bebê com vários adultos em torno, felizes com sua existência e absolutamente dispostos a fazer com que esse pequeno se sinta confortável na sua existência – adultos disponíveis para dar carinho.

Contar com um ambiente em que as ações mais básicas e fundamentais para um bebê sejam garantidas e fáceis para o miúdo – dormir, alimentar-se, sentir-se seguro – demanda muito esforço e uma constante disponibilidade por parte dos adultos que cuidam. É preciso para os cuidadores além de desejar, sentir que consegue cuidar.

Carinho: tão fácil e tão gratuito – como poderia faltar para alguns miúdos?

Falta porque, de fato, não é tão fácil, nem tão gratuito, muito menos óbvio. Em um contexto de dificuldades, tais como violência, vulnerabilidade, pobreza extrema, os adultos são tão afetados quanto os miúdos. Logo, como dar o que não se tem? O que não se consegue frente a fome e a insegurança que se sente no corpo e na mente?

No documentário “O começo da vida” (2016) há uma frase que julgo emblemática, que é mais ou menos assim: Não são as instituições ou projetos que cuidam de crianças, são pessoas que o fazem.

Não temos como considerar que todas as crianças tem um mesmo início, possuem as mesmas chances ainda que no começo da vida. A desigualdade começa tão precocemente na vida de muitos sujeitos que fica difícil escutar sem se incomodar frases feitas nas quais jaz a ideia absurda que ‘todos tivemos as mesmas chances, há quem as aproveita e quem não’.

Para cuidar de crianças precisamos de adultos que contaram com cuidados também – ou que podem passar a contar em algum momento.

Capítulo: As relações de gênero na escola: Provocações psicanalíticas

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Já dizia o sábio:

Felicidade só é felicidade quando compartilhada.

Escrever para mim é uma felicidade, escrever sobre o que faço, é muita felicidade. Então, compartilho com vocês o capítulo do livro “Compêndio de Artigos I Encontro História & Psicologia: dialogando Relações de Gênero” o qual foi divulgado no dia 12 de Dezembro (2016).

Em parceria com a colega e amiga Renata Plácido lançamos provocações a respeito das questões de gênero no contexto escolar, pelo olhar psicanalítico – que sempre nos acompanha (e que ótima companhia!).

Abaixo o trechinho que dá o ponta pé na nossa discussão, confere:

Na atualidade, a diversidade, especificamente as manifestações da ordem da sexualidade, apresenta-se na sociedade de forma aparentemente mais democrática ou, ao menos, em termos entendidos como mais “politicamente corretos” do que outrora. De qualquer maneira, tronar-se evidente que há mais espaço para o que nesse momento cultural e social se identifica como “diferente”, o que não significa dizer que há mais tolerância para o “diferente”.” (Plácido e Malgarim, 2016, p.35)

(Imagem retirada do Google Imagens)

Complexo de Édipo – um conceito clássico

É interessante pensar sobre as relações que se estabelecem nas famílias e como alguns fenômenos do desenvolvimento psíquico podem ser percebidos. Certo dia, estava observando uma menina que tinha em torno de 6 anos, a cena era a seguinte: estava rodeada pelo avô, tios e pai enquanto todos tentavam decidir o que almoçar; todos eles olhavam para a menina e tinham em seus olhos um sentimento de devoção, carinho e atenção. Algo incrível de ser analisado.

Você sabe aquela “historinha” que certo senhor, no início do séc. XX, contou sobre o menino que se apaixona pela mãe e rivaliza com o pai para ficar com ela?

Sim, estamos falando do conhecido Complexo de Édipo cunhado por Freud, esse estudioso que para muitos é uma referência, para outros, só motivo de riso.

Independe do que você pense esse momento, o Complexo de Édipo existe e de forma poderosa perpassa nossas vidas, atravessando nosso desenvolvimento.

Na prática percebemos isso de maneira sutil, nas relações familiares, dentro dessas dinâmicas tão peculiares: a menina que anda de mãos dadas com o pai e imita o comportamento da mãe; ou, a admiração que cabe nos olhos do menino quando analisa os movimentos do pai.

Mas como esse complexo afeta o cotidiano de cada um de nós?

Esse processo é algo que irá acontecer naturalmente no decorrer do desenvolvimento das crianças e que, em geral, passará sem muito alarde. Ele ajudará a criança a ingressar nos seus processos de identificação e consolidação do que chamamos de personalidade. Apesar da importância desse processo, muitos de nós nunca pensaremos sobre ele de maneira direta ou indireta e clara sem estarmos em um processo de análise.

Que assim seja!

Amamenta-se até que idade mesmo?

 

Há uma campanha veiculada muito recentemente com uma atriz e seu bebê na qual se afirma que amamentação deve ser estendida até dois anos ou mais da criança.

Será?

As alegações em defesa a essa postura são diversas, cita-se o fato da criança ter aumentada sua imunidade, ter melhorada sua capacidade respiratória, entre vários outros benefícios. Entretanto, psicologicamente como isso se processa? Ouve-se alguma consideração clara e mais profunda sobre as conseqüências psicológicas, boas ou más, desse largo período de amamentação? Seria apropriado?

Creio que a palavra correta nem seria “apropriado”, poderia ser qualquer outra que nos remetesse a pensar sobre os laços vinculares desse bebê e dessa mãe, sobre o apego, a dificuldade de separação, autonomia e independência, enfim, uma série de questões de cunho psicológico que se dão nesse mesmo momento em que os tantos benefícios fisiológicos são defendidos.

Não se trata de minimizar as conseqüências positivas da amamentação para o desenvolvimento físico do bebê, e sim salientar outros pontos que devem ser considerados, pois todos eles são absolutamente importantes para a saúde física e psíquica da criança.

Além disso, ainda caberia salientar algumas questões de ordem prática e da nossa realidade, com a finalidade de acalmar aquelas mães que se encontram angustiadas, visto que não conseguiram ou não conseguirão amamentar seus filhos por mais meses que a licença maternidade lhes permite:

– o bebê precisa muito da mãe nos primeiros meses e anos de vida, sendo que no decorrer do seu desenvolvimento vai gradativamente precisando cada vez menos e isso é saudável; com a amamentação é a mesma coisa, uma criança em condições de explorar o mundo e outros alimentos, pode substituir o peito de sua mãe sem danos físicos ou psicológicos e isso, será saudável para ambos.

É sempre importante frisar: qualidade é fundamental, a quantidade nem tanto.

É brincando que a gente se entende!

 

O brincar tem um lugar e um tempo próprios… Para controlar o que está fora, deve-se fazer coisas e não simplesmente pensar ou desejar, e fazer coisas, implica em tempo. Brincar é fazer.

                                                                                                                                                                                                                      Winnicott (1975)

 

Quem foi que disse que brincar não é coisa séria?

 

Pois sim, brincar é algo muito sério e deve ser respeitado, pois é através dessa atividade – extremamente elaborada e complexa – que as crianças começam a se descobrir como sujeitos, elaborar suas questões, dar vazão a criatividade e preparar-se para adentrar o mundo dos adultos posteriormente.

 

É através da brincadeira que as crianças exploram um mundo intermediário, que nem pertence a realidade externa, nem a interna, pertence a uma zona própria para a criação, na qual a ilusão é a força motriz. Aqui, utilizamos a palavra “ilusão” no sentido de poder criar, não de maneira pejorativa ou de cunho patológico.

 

É interessante frisar que essa atividade começa muito cedo, por volta dos primeiros meses de vida do bebê. Em um primeiro momento, a criança vai brincar com ela mesma, com o corpo da mãe e depois passará a outros objetos. Será brincando que o mundo interno será povoado e por conseguinte, teremos um sujeito criativo (no mais amplo sentido) e saudável.

 

Brincando com uma propaganda veiculada recentemente: Porque brincar faz bem!

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