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Arquivos Bebês - Bibiana Malgarim

Falso e Verdadeiro Self: Caminhos pela linguagem

O bebê disse Ououou

A mãe respondeu Aiaiai

O bebê não entendeu. Disse Ououou

Aiaiai, a mãe com um tom sutilmente mais enfático disse.

O bebê não entendeu, mas algo diferente ocorreu: sentiu.

O bebê disse: Ououai?

A mãe o olhou e disse: Só aiaiai.

O bebê não entendeu. O bebê desistiu.

O bebê aprendeu.

Agora o bebê: Aiaiai.

Com quem contar? O começo da vida para os bebês

bebe 2

Como se começa a viver? Em quais condições? Com quem se conta quando se entra no mundo? Quando um miúdo estreia na vida as pessoas do entorno são tão fundamentais quanto o ar que enche seus pulmões.

Um miúdo que conta com o olhar, cuidado, atenção e desejo de adultos terá um início privilegiado com toda certeza. Podemos imaginar uma cena facilmente: um bebê com vários adultos em torno, felizes com sua existência e absolutamente dispostos a fazer com que esse pequeno se sinta confortável na sua existência – adultos disponíveis para dar carinho.

Contar com um ambiente em que as ações mais básicas e fundamentais para um bebê sejam garantidas e fáceis para o miúdo – dormir, alimentar-se, sentir-se seguro – demanda muito esforço e uma constante disponibilidade por parte dos adultos que cuidam. É preciso para os cuidadores além de desejar, sentir que consegue cuidar.

Carinho: tão fácil e tão gratuito – como poderia faltar para alguns miúdos?

Falta porque, de fato, não é tão fácil, nem tão gratuito, muito menos óbvio. Em um contexto de dificuldades, tais como violência, vulnerabilidade, pobreza extrema, os adultos são tão afetados quanto os miúdos. Logo, como dar o que não se tem? O que não se consegue frente a fome e a insegurança que se sente no corpo e na mente?

No documentário “O começo da vida” (2016) há uma frase que julgo emblemática, que é mais ou menos assim: Não são as instituições ou projetos que cuidam de crianças, são pessoas que o fazem.

Não temos como considerar que todas as crianças tem um mesmo início, possuem as mesmas chances ainda que no começo da vida. A desigualdade começa tão precocemente na vida de muitos sujeitos que fica difícil escutar sem se incomodar frases feitas nas quais jaz a ideia absurda que ‘todos tivemos as mesmas chances, há quem as aproveita e quem não’.

Para cuidar de crianças precisamos de adultos que contaram com cuidados também – ou que podem passar a contar em algum momento.

Tempos: Um novo tempo para uma nova vida

A vida se divide em um antes e um depois: antes do bebê, depois dele. O tempo que conhecemos antes da chegada do bebê, do filho, não é mais o mesmo. Ele muda radicalmente, e não em um sentido metafórico: muda radicalmente e isso pode ser percebido na rotina e na narrativa das memórias.

Entre mamadas, arrotos, banho, trocas de fraldas, algumas escapadas para uma cochilada e tudo novamente. E o dia acaba. Paradoxalmente, passa rápido e lento: a sensação de uma intensidade é marcante nessa relação – muitas sensações perpassam o que pode ser descrito como “um dia comum”. Passa rápido, transcorre lento, simultaneamente.

A figura da mãe imersa, especialmente nesses primeiros dias de vida do bebê, percebe que sua vida não é mais a mesma, não quer que seja mais a mesma, mas vai se chocar quando sair desse tempo singular que marca sua relação com seu bebê e tiver que se (re)introduzir no tempo comum: um tempo de atropelo, um tempo em que as sutilezas muitas vezes não podem ser percebidas – tão diferente do tempo com o seu bebê nesses momentos iniciais.

Não entendemos como esses tempos se conciliarão, mas de fato, alinham-se: vemos isso diariamente. E pergunto, o que pode ser mais gentil do que abrir mão do tempo comum para deixar-se viver no tempo de alguém que ainda sequer entende que existe como sujeito?

Ao Artur, à minha irmã e ao meu cunhado, com todo amor!

Babies, Documentário

Sabe aquele documentário que você não cansa de assistir? “Babies” (2010) é assim! Já o vi tantas vezes e todas as vezes que o assisto, vejo-o de novo: há sempre uma sensação de algo novo aos olhos e às sensações que as cenas despertam.

O documentário acompanha 4 bebês – Japão, Mongólia, EUA e Namibia – durante seu primeiro ano de vida em diferentes contextos culturais e como o desenvolvimento de cada um deles vai acontecendo. Conheça esses bebês!

 

babies1

https://www.youtube.com/watch?v=AXtgjdJ_8DE

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