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Arquivos Relação mãe-bebê - Bibiana Malgarim

Falso e Verdadeiro Self: Caminhos pela linguagem

O bebê disse Ououou

A mãe respondeu Aiaiai

O bebê não entendeu. Disse Ououou

Aiaiai, a mãe com um tom sutilmente mais enfático disse.

O bebê não entendeu, mas algo diferente ocorreu: sentiu.

O bebê disse: Ououai?

A mãe o olhou e disse: Só aiaiai.

O bebê não entendeu. O bebê desistiu.

O bebê aprendeu.

Agora o bebê: Aiaiai.

Tempos: Um novo tempo para uma nova vida

A vida se divide em um antes e um depois: antes do bebê, depois dele. O tempo que conhecemos antes da chegada do bebê, do filho, não é mais o mesmo. Ele muda radicalmente, e não em um sentido metafórico: muda radicalmente e isso pode ser percebido na rotina e na narrativa das memórias.

Entre mamadas, arrotos, banho, trocas de fraldas, algumas escapadas para uma cochilada e tudo novamente. E o dia acaba. Paradoxalmente, passa rápido e lento: a sensação de uma intensidade é marcante nessa relação – muitas sensações perpassam o que pode ser descrito como “um dia comum”. Passa rápido, transcorre lento, simultaneamente.

A figura da mãe imersa, especialmente nesses primeiros dias de vida do bebê, percebe que sua vida não é mais a mesma, não quer que seja mais a mesma, mas vai se chocar quando sair desse tempo singular que marca sua relação com seu bebê e tiver que se (re)introduzir no tempo comum: um tempo de atropelo, um tempo em que as sutilezas muitas vezes não podem ser percebidas – tão diferente do tempo com o seu bebê nesses momentos iniciais.

Não entendemos como esses tempos se conciliarão, mas de fato, alinham-se: vemos isso diariamente. E pergunto, o que pode ser mais gentil do que abrir mão do tempo comum para deixar-se viver no tempo de alguém que ainda sequer entende que existe como sujeito?

Ao Artur, à minha irmã e ao meu cunhado, com todo amor!

O Brincar e o Desenvolvimento Infantil

bebe e chocalho

 

 

Semana passada (dia 23 de agosto de 2013) fui convidada a falar em um seminário promovido pelo Programa Primeira Infância Melhor sobre o Brincar e o Desenvolvimento Infantil, temática já abordada aqui no Blog, e que retomo dada a sua importância no desenvolvimento infantil e nas implicações que o processo / ato pode ter na família.

O brincar possui influencia em múltiplas áreas do desenvolvimento da criança, assim como pode ser utilizado como uma ferramenta de intervenção de áreas quando o enfoque é na família e na criança.  Do ponto de vista psicológico, o brincar pode ser entendido como o que constitui o fundamento da cultura, ou seja, fornece uma espécie de molde para as relações futuras, com o mundo, com os demais sujeitos e consigo mesmo.

O brincar para a criança é compreendido como um ato repleto de significados, é uma atividade comprometida, até poderíamos dizer, séria – assim, como várias atividades para os adultos – e sendo assim comporta em si a possibilidade de transformar sua realizada interna, ou seja, através do brinquedo a criança pode “achar soluções” para suas angústias, repetindo situações de prazer ou de desprazer.

Logo, dessa perspectiva em especial, notamos que os bebês possuem formas de brincar bem típicas e esperadas para determinadas faixas etárias, vejamos algumas até o primeiro ano de vida do bebê:

  • Do primeiro ao sexto mês do bebê, sua atenção está quase que totalmente focada na figura materna: a exploração do corpo dessa pessoa através do cheiro, do tato, do sabor da pele (amamentação), dos tons da voz irão fomentando esse mundo interno de fantasias, enriquecendo o bebê;

 

  • É fundamental que a pele da mãe esteja em contato com a do bebê: só gradativamente deve ir se afastando e cedendo espaço para as demais atividades, dentre elas o brincar propriamente dito;

 

  • Especificamente entre o 3º e o 4º mês do bebê há uma clara maturação desse sujeito: suas capacidades fisiológicas estão mais aguçadas e psiquicamente a criança começa a ter uma noção de integralidade das coisas (objetos): como por exemplo, a mãe é uma pessoa diferente dele, boa e má ao mesmo tempo. Nesse mesmo período há o primeiro brincar propriamente dito, a atividade lúdica tem seu início: brinca de se esconder com os lençóis, paninhos ou cobertas, buscando elaborar a angústia do desprendimento – o objeto mãe passa a ter a característica de “poder ser perdido” (quando não o vejo): é o brincar de perder e achar. Brinca com o seu próprio corpo e objetos circundantes: balbucios, por exemplo;

 

Percebemos aqui que o Chocalho é o brinquedo que mais chama atenção do bebê: o chocalho e a palavra passam a ser alvo de atenção: o som aparece e desaparece;

 

  • Ente o 4º e o 6º mês os sons tomam mais intensidade e percebe-se que a brincadeira fica centrada no jogar os brinquedos para o chão esperando que os mesmos sejam devolvidos, aprimorando sua capacidade de experimentar o poder de perder e recuperar o que ama – embora, para o adulto seja extenuante esse jogo!

 

Nessa época, a criança exige mais dos pais, da sua presença concreta, isso porque paradoxalmente encontrou a via de elaborar suas angústias de separação/perda; O pai entra em jogo também – sua presença passa a ser muito relevante (o pai vem se colocar como um terceiro nessa relação e concomitantemente reforça-la);

 

 

  • Aos 6 meses um novo interesse lúdico surge: brinquedos que são ocos: tirar e botar – esse grande descobrimento vem a ser, na fase adulta, a forma como manifestará o amor: entrar e sair de alguém, dar, receber, unir-se ou separar-se. Aqui, os objetos prediletos passam a ser de tamanho pequeno. O brincar passa, gradativamente, do seu corpo para objetos inanimados, entretanto, nessa fase tudo deve servir para tirar e pôr, unir e separar;

 

  • Entre os 8 a 12 meses a questão da sexualidade toma a cena e meninos e meninas passam a explorar esses conteúdos nas suas brincadeiras. A exploração do ambiente é mais intensa, uma vez que os bebês já engatinham e alguns já colocam-se em pé, afastando de forma voluntária;

 

O símbolo da sua capacidade criadora passa a ser o que seu corpo mesmo produz: urina e fezes. Embora, não possa brincar com isso, uma vez que os adultos não permitem, outros elementos serão utilizados como substitutos permitidos: areia, massa de modelar, argila. Nessa fase os tambores e bolas emergem como brinquedos mais interessantes. O tambor simboliza algo do materno e da comunicação, além de ser satisfatório em termos de descarga motora – tendências agressivas.

 

Referência para Pesquisa:

Aberastury, A. Acriança e seus jogos. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.20130826_172701

 

 

Mães Neuróticas, Filhos Nervosos

 

Você já viu o filme de Woody Allen “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”?

 

Pois foi justamente pensando nesse título que pensei no caso das mães e dos seus filhos.

 

Primeiramente, é necessário clarificar que o título de neurótica é utilizado em um sentindo muito mais popular do que é utilizado no meio acadêmico ou científico. Entretanto, cabe também dizer que quando falamos em mães neuróticas, fazemos referência a mães que apresentam muita dificuldade em conectar-se efetivamente com seus bebês e, dessa forma, impõem a eles seu ritmo, suas expectativas e, porque não, suas neuroses, impossibilitando um espaço de espontaneidade e criatividade que poderia emergir dessa relação.

 

Notadamente, mães de primogênitos são claramente mais ansiosas e, com isso, seus bebês parecem responder a esse sentimento demonstrando também sinais de ansiedade, os quais podem ser manifestados de várias maneiras, como dificuldades na hora de ir dormir e durante o sono, com a alimentação, dentre outros.

 

O que podemos generalizar com tranqüilidade é que, as mães têm uma relação estreita com seu bebê e isso, obviamente, não é novidade alguma. Entretanto, isso é válido tanto para coisas boas da relação, como para as que não são muito bem-vindas. A dificuldade para lidar com essas últimas é conseguir perceber isso devido ao grau de aproximação que essa relação demanda. Então, às vezes, buscar certo distanciamento crítico já é suficiente para checar se as coisas vão bem nessa relação tão importante e fundamental do ponto de vista da saúde mental desse bebê.

 

Os filhos, principalmente os bebês, são absolutamente sensíveis ao que suas mães querem deles, desejam ou sentem.

 

É importante ter clareza que não se tratar de um grau de perfeição idealista, de forma alguma isso seria mais apropriado dos que os erros espontâneos e afetivos; trata-se da compreensão profunda da conexão que existe entre o estado afetivo da mãe com o bebê.

 

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