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Arquivos Pais - Bibiana Malgarim

Ser o presente e Estar presente

Hoje podemos dizer que há o melhor presente do mundo, e diferentemente da minha posição mais comum, digo que esse presente pode ser generalizado: todas as crianças querem e precisam: você!

A presença dos pais na vida de seus filhos  virou um presente: Algo especial! Isso pode ser ótimo, tanto quanto pode ser um tanto assustador. Estar presente é fundamental para o desenvolvimento das crianças, é enriquecedor para o laço social e potencializa a condição afetiva dos miúdos. Mas, quando a presença das figuras mais importantes para os pequenos virou um presente? Numa perspectiva mais otimista e romântica, sempre o foi; numa perspectiva menos otimista, calcada nas observações diárias, virou um presente porque é raro, porque não é frequente, e justamente por ser algo incomum torna-se tão precioso.

Não soa estranho isso? Pai e mãe é como feijão com arroz: algo que se tem todos os dias, gostoso, nutritivo, comum e especial simultaneamente, que até parece ser enjoativo pela sua frequência – “Quem dera que hoje tivesse outra coisa para comer aqui em casa!” – mas que, quando falta, dá saudade, faz uma falta tremenda. Por incrível que pareça, criança (todas!) gosta e precisa do bom feijão com arroz, ou seja, precisa de você.

Você é o presente mais comum e especial, é o brinquedo mais incrível, é o caminho mais necessário, então, o negócio é investir em estar presente na vida do seu miúdo.

Feliz dia das crianças!

Homem ao mar! Joguem a Galinha Pintadinha!

Sim pessoal, é notório que Galinha Pintadinha é um fenômeno entre as crianças! Isso é indiscutível, basta colocar uma criança na frente da televisão com a Galinha Pintadinha e pronto, a mágica está feita: a casa está em paz novamente!

                É igualmente fato que, esse desenho musicado – e hipnótico – não é comprado, muito menos passado incansáveis vezes (ao dia!), somente pela felicidade dos pequenos rebentos, muitas vezes parece que a Galinha Pintadinha é a atual “boia salva-vidas” de pais que avistaram uma ilha – o desenho – e se jogam para lá sem questionar se será um ambiente inóspito, ou não. Apenas, busca-se um refúgio, e eis que surge a Galinha Pintadinha!

                Na melhor das hipóteses, esses pais estão exaustos da rotina de seus dias e disponibilizam para seus bebês esse momento “lúdico televisivo” para conseguirem alguns momentos mais tranquilos e retomarem um equilíbrio necessário para tocar o dia – que certamente ainda não acabou! Na pior das hipóteses, essa “boia salva-vidas”, é a alternativa mais fácil, mais rápida, mais eficaz e constante de manter uma criança absorta, sem necessidade de se envolver demais com a mesma, e ainda assim, manter a ilusão de que: “Sim, eu estou envolvido com meu filho!”.

                O problema, definitivamente, não é a Galinha Pintadinha – pois, antes dela, havia outros e depois dela, haverá muitos outros desenhos nesse formato – mas sim, a serviço do que está essa ferramenta: Entreter? Absorver? Estimular? Aliviar? Divertir? Saída de emergência?

                E então, a Galinha Pintadinha, foi comprada para quem aí na casa?

Não brinca! Os pais mentem para seus filhos?

A Revista Super Interessante (Dezembro de 2012) novamente aparece com uma capa interessante para discutirmos aqui: “As mentiras que os pais contam para os filhos” e são muitas! A maioria delas vocês como filho já ouviu, e como pai ou mãe, vocês já contou. Seguem algumas delas: amo todos meus filhos da mesma maneira, você deve amar seu irmão, aqui em casa podemos conversar sobre qualquer assunto, estudar é mais importante do que os amigos, seu desenho ficou lindo… e por aí vai. Como disse, se você não ouviu, já aplicou uma dessas!

Uma das então mentiras contadas pelos pais que me chama a atenção é a referida na página 18, “Engole o choro. No futuro, vai me agradecer.”, a famosa chinelada e castigos físicos. Em um artigo anterior do blog, cujo título era Terapia das Havaianas – quando as palavras falham, as ações surgem (http://conversadegentemiuda.wordpress.com/2011/07/22/terapia-das-havaianas-quando-as-palavras-falham-as-acoes-surgem-2/ ) discuti sobre o tema porque, em geral, é algo que cria muita polêmica, ainda mais em uma cultura que ainda incentiva e entende que a punição física é uma alternativa adequada para resolução de problemas – e não falo somente das crianças, refiro-me inclusive a situações de violência contra mulher, por exemplo.

 

Quando a regra ou a lei não está internalizada, ou seja, a normativa não faz parte do sujeito, na ausência do estímulo concreto – os pais, por exemplo – a criança tende a transgredir e agir como deseja. Isso, futuramente, será visível no comportamento do adulto que, onde não localiza uma referência concreta da lei – um policial, um controlador de velocidade (pardal), etc. – não cumprirá com a regra. E aí? Quem vai dar as chineladas nesse adulto?

 

Outra mentira interessante é “Em casa falamos sobre tudo.” (pág. 12) e essa, definitivamente sabemos que é mentira. Talvez, menos mentira hoje do que já foi, mas ainda sim, uma mentirinha das boas. Há um tempo tive a oportunidade de conversar com adolescentes do ensino médio, cujo repertório teórico sobre a temática da sexualidade e sexo em geral parecia de uma infinita sabedoria – e prática! Entretanto, quando a conversa ficou realmente mais casual e os deixou a vontade, surge então, a verdade: eles não sabem do que estão falando e o pior, não sabem a quem perguntar! Teoricamente, essas questões – ainda mais nesse período – deveriam ser acolhidas em casa, não é? Não, não é. Ao que tudo indica, e na reportagem referida isso é ratificado, os adolescentes não tem essa abertura toda para conversar em casa, ainda mais quando o “caldo entorna” e a questão pode ser: “Será que estou grávida? Como eu poderia evitar isso?”. É fato, igualmente e também citado na reportagem que, os adolescente querem e demarcam bem esse território da sexualidade como algo de cunho privado, deixando, por vezes, pouca margem para os pais avançarem sobre o assunto. Então, aí, mais uma vez os pais devem retomar as suas memórias e lançar mão de estratégias não invasivas, e de acolhimento – quando o filho entender que precisa desse espaço.

Mentiras a parte, pais, desde que o mundo é mundo elas existem e existem por uma razão – cultural, social, evolucionista, enfim! – a questão é poder pensar sobre elas e como driblar essas mentirinhas que não ajudam nem facilitam de fato a vida do rebento. Nem tudo deve ser dito aos filhos – crianças ou adolescentes – porque nem tudo é da conta deles, mas o que for, pode ser mais verossímil, não pode?

Meu filho é muito apegado a mim! Chora quando não estou por perto… (Ansiedade de Separação)

Nessa época, de volta as aulas ou início de escolarização, é relativamente comum presenciarmos situações de crianças chorando e inconsoladas pela possibilidade da mãe se afastar dela, deixando-a na escola. Em um período de adaptação do pequeno na escola algumas esperneadas até são esperadas, compreensíveis e naturais – pois é um ambiente novo com muitas pessoas desconhecidas.

            Contudo, essa não pode ser a regra. A criança que não consegue se separar da mãe (ou figura cuidadora) porque sente-se muito angustiada e acaba ficando desesperada frente a essa situação, muito diferentemente do que o senso comum pensa, pode não estar “excessivamente apegada” e sim nutrindo um sentimento profundo de insegurança frente ao ambiente.

            É importante prestar atenção a uma reação de desespero frente a ausência dos pais porque pode ser um sinalizador importante para um cuidado mais específico e uma investigação das razões pelas quais a criança está se sentindo dessa forma, insegura.

            Sabem aquele ditadinho popular “Filho a gente cria para o mundo.”? Nesse caso, ele é puramente verdadeiro!

Um assunto a ser retomado: quais são os limites? (Jornal do Almoço do dia 10 de outubro)

Essa semana – na segunda-feira (10 de outubro) estive no Jornal do Almoço em um quadro que busca responder dúvidas dos telespectadores. O tema em questão era Educação Infantil e como lidar com as crianças hoje.

Duas coisas me chamaram a atenção de maneira mais intensa:

A primeira é uma constatação em relação ao fato dos pais se encontram ansiosos e inseguros com a sua posição de educadores. E a segunda, é referente à velha questão: fazer uso de força física com crianças ou não (bater ou não?).

Em relação a primeira constatação,  é interessante pensar que na mesma proporção em que os pais se questionam e assustam-se com o fato dos filhos “não terem limites” , eles mesmos parecem estar perdidos com o que podem fazer ou não na educação dos seus filhos, inseguros com relação ao que estão “autorizados”, ou seja, parecem estar absolutamente perdidos com seus próprios limites como pais e como sujeitos. Onde acaba a função dos pais? Ou melhor, onde ela deveria começar?

No que diz respeito à questão que se arrasta para nós, se é válido bater em uma criança, parece-me que ela está intimamente articulada com a constatação anterior. Quando pensamos nessa notável dificuldade dos pais com seus papéis – e o mais relevante nesse caso: eles se sentirem à vontade com seus papéis – o uso da força física com as crianças parece ainda ser um recurso útil e lógico, na medida em que a diferença física é mais concreta e, assim, pode ser exercida com relativa “tranquilidade” visto ainda pairar certa aprovação cultural ao castigo físico.

Entretanto, quando passamos para um plano de idéias, de conceitos e de diferença de papéis a situação fica obscura, pois os pais parecem estar sentindo que suas posições dentro das famílias estão fragilizadas e postas em dúvida. Logo, esses sentimentos de insegurança alcançam suas relações com os filhos e com a sociedade através de uma questão latente: qual o meu limite como pai?

Que fique claro: é ótimo podermos pensar sobre novas formas de educar e transmitir conhecimento e afeto para os pequenos, contudo, a impressão que muitas vezes fica é que, o que se discute não é nada novo, ao contrário, é relativo a algo absolutamente tradicional: ser mãe e ser pai.

 

E o pai dessa criança?

 

É um chavão clássico do senso comum: “na psicologia tudo é culpa da mãe!”.

E essa afirmação não está de toda errada, entretanto a primeira correção necessária é trocar a palavra “culpa” por “responsabilidade”; e em segundo, temos que levar em consideração uma figura que fica sempre acaba em segundo plano nessa discussão: o pai.

 

Os pais de maneira alguma são renegados dentro da psicologia, muito menos na psicanálise infantil. Eles ocupam um lugar importante e fundamental no desenvolvimento dos seus filhos, assim como as mães. Entretanto, o que diferencia fundamentalmente essas figuras são os papéis que eles ocupam e o tempo em que vão se colocando na vida das crianças.

 

A figura do pai no primeiro momento de vida dos seus filhos é ser uma espécie de ambiente seguro e acolhedor para a díade mãe-bebê. É ele quem pode garantir que a figura da mãe possa se dedicar tudo o que precisa para esse novo sujeito que está emergindo.

 

Com o tempo, a função paterna vai se ampliando e o pai irá ocupar um espaço cada vez maior na vida da criança.  É ele que ajudará a mostrar o mundo externo para o bebê e introduzir questões importantes que o auxiliarão na organização de sua identidade. O pai cuida do bebê de uma maneira diferenciada e, com isso, apresenta outras possibilidades que compõem a subjetividade do filho.

 

Um ponto que está razoavelmente claro é que, quando essas mães as quais afirmam que “tudo” é culpa delas, nada mais fazem do que reafirmar seus sentimentos de onipotência e fomentar a cultura que o pai ocupa lugar inferior ao delas.

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