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Bibiana Malgarim

Diário de uma anti-fitness: às verdades dos 40

Não vou começar com “querido diário” porque não tenho mais idade para isso… Ah, foda-se!

Querido diário! Cheguei na casa dos 40 anos! Lembro quando essa idade para mim representava o fim da vida, velhos, dinossauros, um horror… e aqui estou bastante crédula de que até que é uma boa idade, não tá tão ruim assim. Mas, irei aos fatos que contradizem o “não tá tão ruim assim”: exames de sangue e raio-x do joelho. Ferrou tudo!

Sempre fui avessa a exercícios físicos. Sempre. No colégio me esquivava a todo custo, cheguei a implorar ao meu pai (médico) um atestado para me desobrigar das aulas de educação física – o que nunca consegui! Vai para lista dos traumas! kkk. Um único momento na vida o esporte fez meu olho brilhar e me dediquei como jogadora por alguns meses, dois honestamente. Sendo ainda mais honesta, não era o esporte em si, mas algum ou outro jogador. Bom, treino se trata de motivação e com 16 anos achei uma ainda tão efêmera quanto o tal brilho no olho.

Com esse meu histórico em mente fui criando a convicção que exercício físico não era pra mim. Meu fitness era rir com amigos. Minha dieta? Dois bifes a milanesa no almoço porque proteína é fundamental. O equilíbrio em pessoa, prazer!

Ah, então os exames de sangue dos 40 anos e a dor no joelho se impuseram. E aí começou minha saga pela vida fitness.

Sabe aquele storie “tá pago por hoje?” Um horror! “Cardio de hoje”, ria de cair da cadeira. “Levantar as 6 pra treinar” é uma frase que não consigo entender o sentido de uma pessoa fazer isso com ela mesma.  Na verdade, qualquer horário para mim seria estranho.

Mas, como diz o ditado, a volta vem a galope! E a frase “tu tem que descobrir algo que tu goste” voltou a roda de conversa, sem falar daquele sorrisinho de canto de boca dos amigos quando me flagraram cogitando iniciar minha vida fitness. Descobri o que gosto faz tempo! E talvez seja justamente esse meu problema: não gosto de atividade física. E agora?

Registre-se: Nunca postei NENHUMA foto com a #tápago – até hoje…

ATENÇÃO: ESSE TEXTO É OBRA DE FICÇÃO. Qualquer semelhança com a realidade pode ser mera coincidência. Exercício físico é importante.

You: O que é amor?

Atenção! TEXTO COM SPOILER!

Amor é uma palavra poética em si mesma. Há literalmente infinitas formas de amar. Contudo, quando o amor pode machucar? E se machuca, podemos chamar de amor?

Na Série da Netflix, YOU, Joe vem mostrando como ele entende o que é amor. Uma noção bastante complicada, diga-se de passagem. Joe é um homem que escolhe sua parceira baseado no que ele mesmo descreve como “padrão” – na linguagem psicanalítica seria compulsão a repetição – e dentro dessa lógica ele tenta “arrumar” a vida da parceira escolhida. Muito onipotente, ele entende que consegue consertar o que julga que atrapalha o caminho da relação idealizada. Marcadamente observamos uma psicopatia severa.

Joe é um livreiro que possui uma história de violência, abandono e institucionalização. As lembranças desse passado vão aparecendo no decorrer dos episódios, como um contexto para seus pensamentos e suas ações. Não sei se é coincidência ou se foi proposital, mas quando Joe se torna pai, na terceira temporada, esses flashes se tornam mais frequentes

O que Joe descreve como cuidados, atenção e amor incondicional logo passará a ser sentido e visto pelas parceiras como o avesso disso: intrusão, descuidado e, claro, violência. Os desfechos são trágicos.

Na primeira temporada fica mais difícil ter empatia por Joe. Já nas demais temporadas, segunda e terceira, a série brinca com o espectador fazendo você oscilar na “torcida”. Essa oscilação parece mais intensa especialmente na terceira temporada porque Joe tem um filho e com esse bebê ele claramente demonstra o que vemos cotidianamente nas pessoas: somos muitos, temos muitas facetas, somos irredutíveis a um rótulo. Ele ama seu filho. Entretanto, a terceira temporada é intensa e tem toques de comédia interessantes.

O que Joe entende por amor é algo que leva suas parceiras a sumirem – e isso pode ser bem literal. É um estado de relação na qual um pressupõe que sabe tudo o que o outro quer e precisa, desconsiderando a individualidade deste outro. Seria um amor que não enxerga o/a parceiro/a subtraindo-lhe a condição de diferenciação, de frustração e de confiança. Em teoria, Joe faz o que faz pela felicidade integral da parceria, por You (você), na prática, Joe busca um controle absoluto que garanta a ele nunca ser abandonado – custe o que custar.

Aniversário

No dia do aniversário acorda-se para uma espécie de renascimento: nasce-se tantas vezes e no dia em que viemos oficialmente ao mundo, pela primeira vez, não poderia ser diferente.

Aniversário é algazarra.

Aniversário é aquele friozinho na barriga com as mensagens e telefonemas – alguém ainda liga ai?

É uma data em que se olha para trás e coloca-se a pensar: valeu até aqui?

Aniversário é para estar junto. É para ser surpreendido e não esquecido. É um momento em que você quer se sentir especial – único mesmo.

Aniversário é carinho.

E agora é saudade também. Feliz aniversário.

26 de outubro

Sobre ler, escrever e manter-se vivo

Esse texto foi escrito como meu discurso na abertura da Feira do Livro de Júlio de Castilhos, dia 14 de Outubro de 2021. Logo, o texto tem como característica uma fluidez adequada à expressão oral.

Inicialmente, gostaria de dizer do quanto gostei e fiquei surpresa com o convite para representar autores e leitores da cidade através do evento da Feira, o qual sei que exige muito investimento de tempo e afeto de todas as pessoas envolvidas.

E como não poderia ser diferente, nesse discurso de abertura vou falar sobre o slogan da Feira: Ler é um superpoder.

No primeiro momento, logo que li o slogan da Feira, ele me trouxe uma feliz proximidade com o  último livro, dedicado, a princípio, para o público infantil. Em seguida, pensei em um autor bastante relevante para área da psicologia e saúde mental como um todo, provavelmente vocês já tenham ouvido falar dele, Michel Foucault.

Esse filósofo francês, escreveu obras importantíssimas, como a História da Loucura e Vigiar e Punir, por exemplo. Contudo, quero especificamente falar de uma das suas principais ideias que é referente a noção de que o SABER, como noção de conhecimento, está relacionado com a noção de PODER. Segundo ele, quem tem o conhecimento detém o poder.  A perspectiva dele é bastante política, complexa e duramente realista. Mas não é sobre essa perspectiva que quero trazer ele, e sim poder dar uma conotação mais otimista a essa noção de conhecimento e poder, a qual em tudo relaciono com livros, pensar, com a feira do livro e com esse super poder que é ler – e ainda, não somente ler, mas conseguir pensar sobre o que se lê. E esse último ponto faz toda a diferença.

E como começamos a pensar?

Pode ser que muitos entendam que pensar é um ato natural do ser humano. Não é. Para pensar pensamentos é necessário estímulos de ampla ordem, desde comida a ler. Nossos heróis e heroínas precisam de um ambiente, um entorno, que alimente seus corpos e suas mentes. Ou seja, nossos heróis e heroínas precisam de uma rede de apoio, afinal o que seria do Batman sem o Alfred, seu mordomo fiel, atendo e cuidadoso?

E falando em heroínas, essa ideia de um ambiente que apoia fica ainda mais explícito para nós no primeiro filme da franquia “Mulher Maravilha”, no qual Diana, princesa oriunda de um reino de amazonas as quais tem como uma das missões formar e cuidar das meninas e das futuras guerreiras, além de contar com essa origem, fica explicitado o notável apoio que essa super heroína recebe de uma equipe pouco provável a qual encontra quando ela vem para o mundo dos humanos. Por que falo tudo isso?

Porque ler é um poder incrível mesmo e pode ser um superpoder, desde que também encontre um apoio, um acolhimento para se desenvolver.

Ler é algo que propicia viver outras vidas, alimenta e desenvolve a condição de pensar. E quem pensa, escolhe. Quem escolhe, não é escolhido. E quem não é escolhido tem capacidade para se responsabilizar pelos caminhos que circula – em psicanálise, que é com o que trabalho, é disso que tratamos TODOS os dias com miúdos e grandes também.

Os livros são verdadeiros salva-vidas.

Quando eu estava no ensino médio eu me sentia especialmente deslocada, isso ainda mais claramente no terceiro ano. Para onde eu ia? Para a biblioteca do colégio.

Já bem menos deslocada, na faculdade, vivia eu pela biblioteca também. Adorava. Era conhecida das bibliotecárias. Li Os Lusíadas, Divina Comédia – que não consegui terminar, diga-se de passagem! – poesia nacional, literatura regional. Os livros foram me aproximando das pessoas, de mim e de pensar cada vez mais. Fui desenvolvendo meus super poderes.

A leitura acolhe quem se sente deslocado. Dá assas para quem quer voar. Propicia o encontro também. A leitura te integra ao mundo.

Lendo a gente começa a pensar que escrever é uma alternativa possível. Fiquei pensando também nessa pergunta: Por que precisamos escrever?

A escrita possui diferentes funções no mundo, desde diários pessoais, puramente catárticos, até, comunicações científicas ou políticas, as quais geram impactos globais. A escrita é para quem escreve principalmente porque ela é o ato final em si. Depois que está escrito o texto não é mais seu, ele já não pertence mais a você ou ao seu entendimento exclusivamente.

Quando escrevo eu tiro de mim: não mais sou eu ali, é outra coisa, tem uma outra vida. Vida própria. Enquanto está em mim, inquieta-me; já no papel, leio com certa surpresa, como se fosse uma primeira vez com certeza.

Para escrever precisamos de um estado de solidão habitada por um universo. Parece um paradoxo, e talvez seja. Estamos sós, cheios de pessoas dentro. É um ato de achar uma voz a ser evocada, calar outras tantas que só fazem burburinho. É silencioso e intenso. Vazio e completo. Povoado e solitário. É o próprio paradoxo o tempo todo.

Escrevemos para alguém, imaginário, interno ou externo, sempre há uma presença “escrever não é um ato solitário.” (MEIRA, p.237) e é uma potente ferramenta para alcançarmos a elaboração de dificuldades, sofrimento ou até mesmo dar conta de eventos traumáticos, como é o caso da incrível Clarice Lispector.

Pronto, por que ler é imperioso? Porque oferece uma passarela para uma vida possível: acolhe, identifica, dá um cenário, alcança esperança, faz crescer. Ou seja, nos torna muito poderosos!

Escolher ter filhos é tão difícil quanto escolher não os ter

Escolher é a questão. Escolher é o difícil.

Optar por ter filhos é uma atitude de desprendimento titânica: não há como voltar. A vida ganha afetos, intensidades, cheiros e amores antes desconhecidos. Mescla-se com dias repletos de ansiedades pelo desconhecido, pelo cansaço e por dúvidas atrozes.

Contudo, escolheu-se fazer um ser humano. E esse caminho é um caminho necessário para a humanidade. A escolha das palavras aqui é precisa: escolha, ser humano e humanidade. Não se está falando de capacidade reprodutiva. Fala-se de humanos fazendo outros humanos com qualidades que os elevem.

Em nenhum momento será fácil. Será bom. Será ótimo. E será ruim também.

O contrário é verdadeiro.

Escolher não ter filhos também é uma opção que não trará a completude idealizada. É desprendimento? Total, mas de outra ordem: desprende-se de estigmas ou obrigações os quais parecem já estarem registrados na certidão de nascimento, especialmente esse você nasceu menina. Escolher não os ter é um caminho que se organiza em função de uma opção e de uma renúncia. A vida será pautada por afetos, com noites e dias de uma autonomia gostosa, uma calma para olhar e sentir a vida. Quem escolhe esse caminho não será poupado das dúvidas. Também é um lugar que espinha porque não há certezas, e há muitos olhares duvidosos e críticas cruéis. Afinal, não são somente os pais quem são alvos.

E talvez esse seja um ponto importante: quem consegue e pode escolher algo para seu caminho de vida pode se tornar alvo porque optou por algo, renunciando a outras tantas possibilidades. Lidou com a castração, psicanaliticamente falando.

Escolher não se trata de “se jogar” impulsivamente, ou fazer algo pautado por um afeto intenso e descarrilhado, nem sequer não o fazer pela impossível culpa que o pretenso ato gerará. Escolher é arcar com o que se opta, isso inclui o ônus e o bônus. Sempre.

Ter ou não ter filhos? Não há escolha mais fácil aqui. O difícil não é tê-los ou não, o difícil é fazer a escolha.

Por que adulto perdoa

(Texto dedicado à minha avó, Otalina! Essa menina de olhos verdes linda da foto!)

Adulto perdoa mais fácil que criança e adolescente.

Me dei conta disso escutando pessoas e escutando a mim mesma.

Estava cozinhando esses dias e lembrei da minha avó. Morei com ela por 1 ano quando fazia o já antigo segundo grau. E entre aromas e panelas lembrei do quanto ela cuidou de mim e o quanto eu não fui cuidadosa com ela.

Fui uma típica adolescente, com o contexto de estar loucamente estudando querendo provar meu valor pelo listão do vestibular.

Se todas essas expressões não fazem sentido para você, deixe-me localizar a época da qual falo: estou falando da década de 90, interior do RS, numa cidade conhecida por ser a cidade universitária.

Retomando…

Fui egoísta em quase todos os momentos que lembro.

E ela estava lá, igual. As vezes mais cansada, mas parecida com o que sempre foi.

Hoje quando nos falamos e declaramos descaradamente nosso amor uma à outra, fica claro para mim que ela me perdoou. Nem sei se lembra dessas mal criações que fiz. Não há nada de mágoa nas suas palavras, ela só é feliz por mim.

Adulto perdoa porque sabe que adolescentes e crianças ferem quem os ama, é da sua natureza, é do seu momento. Eles perdoam porque são maiores em amor e paciência.

E eles sabem que você vai chegar lá. Eles acreditam, eles apostam nisso.

Você vai chegar aonde eles estão e também será capaz de perdoar, porque foi perdoado tantas necessárias vezes. Na verdade, eles estão te ensinando algo importante sobre crescer. Guarde essa lição. Acima de tudo, cultive essa sensação.

Crescer também se trata de aprender a perdoar, ora bolas!

A Psicanálise na Universidade: Como e para que?

Em 1919 Freud escreveu um texto chamado “Deve-se ensinar a Psicanálise nas universidades?” no qual ele aponta se a Psicanálise é para a universidade. Se considerarmos que a formação para psicanalistas é orientada para o que se chama de tripé analítico – estudo, supervisão e prática – o ensino da psicanálise é bastante restrito no contexto universitário. Freud afirma dos ganhos que os profissionais teriam ao estudar essa ciência, entretanto, ao fim do texto ele afirma “o estudante de medicina jamais aprenderá a psicanálise. […] é suficiente que ele aprenda sobre e com a psicanálise…” (p.381, 1919/2010).

O ponto é: os cursos universitários formam psicanalistas? Não, não formam. O objetivo da maioria dos cursos de graduação atualmente, se não todos, é uma formação generalista – o que se opõe a uma formação profunda em algo, como a psicanálise. Então, o que se aprende em um curso de Psicologia, por exemplo? Para que a psicanálise na graduação?

Farei uma metáfora para exemplificar:

Quando o bebê nasce você não oferece uma maçã para ele. Com o passar dos meses você oferecerá o suco da maçã; mais meses se passam, a maçã em forma de purê; em seguida um pedaço da maçã, o qual o bebê irá brincar, cheirar e sentir a textura da fruta. A criança, enfim, recebe a fruta maçã, tal como é: irá comer ou brincar? Ou ambos? Adulto, a maçã se transforma em sofisticadas receitas.

Na universidade o que se oferece é o suco. É tudo que pode ser uma maçã? Nunca. Não é maçã? Sim, é, mas com toda certeza é uma ideia bastante básica de tudo o que a fruta pode oferecer e ser. Para que ela é oferecida? Porque é uma prática consagrada pela sua relevância clínica, pela condição de compreensão de processos complexos típicos do humano, pela prática como uma via de pesquisa que se dá no campo – no setting –, da prática para a teoria, e não o contrário, etc. São muitas as razões.

E então, você provou dessa fruta?

Referência:

Freud, S. História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”): além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

A Introdução do livro Psicanálise e Resiliência – Capítulo 1

Pensei em compartilhar com vocês o Capítulo 1 Introdução do nosso livro Psicanálise e Resiliência! Isso porque o capítulo conta como o livro foi pensando e também apresenta todos os capítulos dele! Confere e me conta o que achou!

Se tiver interesse em adquirir, pode entrar em contato comigo pelo e-mail bmalgarim@yahoo.com. ou pelo meu Whastapp (51) 982095051. Nosso livro foi editado pela Editora Zagodoni.

Capítulo 1: Introdução

Por que estudar e entender sobre Resiliência? Por que seguir estudando Psicanálise? E como esses dois conceitos se relacionam? Como a Resiliência tem sido entendida e estudada pela Psicanálise? Em que casos ou situações a Resiliência pode ser percebida?

Essas questões todas, e provavelmente muitas outras, motivaram a escrita desse livro que hoje está materializado nessas folhas. Trata-se de questões todas muito complexas, igualmente profundas e com inúmeras possibilidades de respostas. Dessa forma, o que buscamos apresentar nesse material são algumas alternativas de caminhos para essas respostas, frente as quais cada um poderá buscar outras alternativas, através de seu estudo e de sua prática clínica.

O livro “Psicanálise e Resiliência” começou a ser pensado de maneira muito latente ainda quando a organizadora, Bibiana G. Malgarim, desenvolvia sua pesquisa de Doutorado, cujo tema era justamente esse. Através das pesquisas teóricas, diversas dúvidas se agregaram e a pesquisa se tornou ainda mais complexa, intensa e menos propensa a encerrar-se com o término do Doutorado. Esse último ponto em tudo tem a ver com as características próprias à ciência e à Psicanálise: seguir contemporânea ao tempo em que vive.

A partir dessas inquietações, surgiu o desejo de materializar a obra. Para isso, a Profa. Daniela C. Levandowski, que já havia orientado pesquisa sobre o tema e tem experiência em publicação científica, foi convidada a contribuir na tarefa de organização. Após isso, autores de diferentes âmbitos de atuação, filiados a diferentes instituições, reconhecidos por suas produções na Psicanálise e, particularmente, pelo estudo da Resiliência, foram convidados a contribuir com capítulos de caráter conceitual e/ou aplicado. Este livro, portanto, é fruto de um esforço coletivo, uma produção tecida por muitas e diversas mãos.

O livro está dividido em três grandes seções: na primeira delas, o tema da Resiliência é explorado através do seu conceito e as relações que estabelece com a Psicanálise. Para tanto, apresenta-se cinco capítulos que veiculam ideias que se complementam no entendimento da noção do que é Resiliência dentro da perspectiva psicanalítica. Na segunda seção, apresentamos seis capítulos, todos igualmente interessantes e originais, os quais versam sobre a Resiliência no contexto da clínica psicanalítica, o que pressupõe diferentes facetas da escuta clínica. Por fim, na terceira seção, são apresentados dois capítulos nos quais se visualiza a relação entre Resiliência e saúde, com enfoque em situações específicas de saúde, a partir de dados de pesquisas realizadas em nosso meio. Nas três seções é possível constatar o cuidado dos autores em, a cada início de capítulo, apresentar a perspectiva conceitual com a qual estão trabalhando, especialmente no que diz respeito à resiliência – conceito amplo e frequentemente empregado de maneira superficial e inconsistente.

Compondo a Seção 1, no Capítulo 2, intitulado “Por que a Resiliência: Um Panorama Geral e Conceitual”, encontramos uma explanação de por qual razão estudar e compreender o conceito de Resiliência dentro da perspectiva psicanalítica, assim como uma introdução sobre o tema, o que auxiliará na leitura dos capítulos subsequentes. No Capítulo 3, “Resiliência na Psicanálise: Uma construção psíquica” a interlocução entre a Psicanálise e a Resiliência fica ainda mais explicitada, pois, além do resgate das noções de trauma e traumatismo, também encontradas no Capítulo 2, aborda-se a compreensão de autores franceses contemporâneos sobre o tema, com destaque para o conceito de vulnerabilidade e a importância da relação mãe-pai-bebê no processo de constituição psíquica e, por conseguinte, de resiliência do indivíduo.

O Capítulo 4, intitulado “A Força da Resiliência frente ao Traumático: Conceitos e Reconfigurações”, aborda diferentes concepções e significados de resiliência encontradas na literatura, tendo como pano de fundo o contexto de trauma psíquico, uma vez que a resiliência permite entender as respostas dos indivíduos frente a eventos adversos da vida, em especial os eventos traumáticos.

No Capítulo 5, intitulado “A Mentalização como um Fator de Resiliência”, os autores discorrem sobre um conceito bastante importante, mas ainda pouco explorado na Psicanálise, que é o de mentalização. A partir da teoria psicanalítica das relações objetivais e da vertente psicanalítica contemporânea da teoria do apego, nesse texto os autores refletem sobre a possibilidade de o funcionamento reflexivo de um indivíduo, ou, dito de outro modo, sua capacidade de mentalização, ser um vetor capaz de promover resiliência. Para tanto, o papel do trauma na trajetória desenvolvimental do indivíduo e na capacidade de mentalização e resiliência também é abordado.

Iniciando a segunda parte do livro, que trata das interconexões entre resiliência e prática clínica, o Capítulo 6, “Entre o trauma e a resiliência: Os percursos do narrar em Psicanálise” apresenta um fator fundamental na composição da Resiliência, que também é condição para a prática clínica: a possibilidade de narrar, isto é, de construir narrativas sobre acontecimentos traumáticos. A narrativa é uma ação presente na história da humanidade, assim como na própria Psicanálise, e é através dela que o sujeito e o coletivo de sujeitos, a cultura, pode atribuir sentidos às experiências, vivências, dificuldades e sofrimentos.

No Capítulo 7, “A Vida Secreta e a Aparente de Karen”,  apresenta uma personagem a qual fusiona em sua existência partes diversas de analisantes do autor. O capítulo lembra um conto, ou poderia ser também um sonho ou caso clínico em torno dos temas da resiliência e da monogamia.

No Capítulo 8, intitulado “A Resiliência e a Escuta do Trauma”, as autoras, a partir de relatos de pacientes de um programa destinado ao atendimento precoce de pacientes que vivenciaram situações traumáticas de natureza diversa, refletem sobre as possibilidades de escuta e acolhimento dessas narrativas. Destacam a relevância das experiências do sujeito com o ambiente, incluindo aí as experiências intersubjetivas, especialmente a partir de aportes de Sándor Ferenczi e Donald Winnicott. Pautadas nesses aportes, pontuam, ao longo do capítulo, características importantes para o trabalho clínico com pacientes, cujas vidas foram perpassadas por vivências traumáticas.

Já no Capítulo 9, A Matriz da Resiliência, as autoras dedicam-se a apresentar alguns pressupostos teóricos sobre a constituição física e psíquica que ocorre no período fetal, destacando a importância do ambiente-mãe nesses processos que, segundo elas, constituiriam a base da matriz da resiliência. Com base nisso, relatam um atendimento no qual a intervenção psicanalítica a uma gestante em situação de risco possibilitou a manutenção da vida do bebê e, com isso, da matriz da resiliência.

O último capítulo da Seção 2, intitulado Resiliência, Psicanálise e o Processo de Supervisão de Pacientes de “Difícil Acesso” (capítulo 10), aborda o tema da Resiliência na Psicanálise a partir de uma perspectiva diferente: a resiliência do psicoterapeuta. Nesse sentido, as autoras tecem uma reflexão sobre o campo da supervisão, envolvendo o analista, o supervisor e os denominados “pacientes de difícil acesso”. Com isso, buscam compreender aspectos presentes na relação analista-supervisor, destacando a possibilidade de pensar esse espaço como uma oportunidade com potencial para o desenvolvimento da resiliência do terapeuta.

Iniciando a Seção 3 do livro, que tem como foco a Resiliência e a Saúde, são apresentados dois capítulos derivados de pesquisas realizadas no contexto gaúcho, envolvendo pacientes portadores de condições de saúde física diferentes, ambas bastante complexas, e seus familiares. Um deles, intitulado “Trauma, resiliência e ressignificação: Um olhar psicanalítico sobre os cônjuges de pessoas com câncer” (capítulo 11), tem como foco analisar a perspectiva dos cônjuges sobre a doença oncológica dos(as) seus parceiros(as). Essa vivência é entendida como potencialmente traumática. As autoras refletem, então, sobre as possibilidades de ressignificação da doença por intermédio do conceito de resiliência.

Por fim, o capítulo 12, intitulado “Trauma e Elaboração em Pacientes após a Internação na UTI”, articula as concepções de Freud e Lacan sobre o trauma para compreender as vivências de pacientes após a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva e suas possibilidades de elaboração e (re)significação a partir da noção de resiliência. As autoras entendem essa experiência de internação como potencialmente traumática, devido ao estado de saúde crítico e de risco à vida que esses pacientes apresentam.

Sendo assim, a partir dessas diferentes contribuições teóricas, clínicas e de pesquisa, aportadas nesses capítulos por autores com experiências profissionais diversas, embora sempre fundamentadas na Psicanálise, espera-se que esta obra possa contribuir para a continuidade das reflexões sobre Resiliência nessa vertente teórica, dado o potencial desse construto para a promoção da saúde e da qualidade de vida dos indivíduos e seus coletivos.”

Até onde vai uma mãe???

(Aviso 1: Baseado em fatos reais. Aviso 2: Contém ironia e verdade difíceis.)

Numa noite de sábado qualquer uma mãe desesperada procura um lugar para desfrutar de alguns pouquíssimos minutos de silêncio. È caso de vida ou morte: são 24 horas e ela precisa garantir seus 5 minutos de solidão. O que uma mãe é capaz de fazer por isso? Quais os limites? Até onde ela iria?

Lembrem-se , é sábado a noite, um momento típico da semana no qual pessoas ao redor do mundo se divertem, mas não uma mãe! Não ela! Ela para comprovar seu amor incondicional  não pode querer descansar, muito menos ficar algum tempo longe da cria. Dedicar-se integralmente, 24 horas do dia, seu corpo e pensamento, ao filho é a sua (única e possível) felicidade – sqn (sabemos!).

Mas, contra todas as expectativas sociais, essa mãe precisa de alguns minutos para si. Ela não sabe para que exatamente, mas quer se refugiar em algum lugar. O banheiro, tradicional esconderijo materno, já é clichê: todos os filhos e parceiros já possuem a informação que mãe de todos os lugares se refugiavam em banheiros alegando hora estarem sentadas no vaso sanitário (desculpa muito frágil porque nada impede de todos ficarem juntos a olhando!), ou no chuveiro molhada, e portanto, não “conseguia” abrir a porta. A “sugestão” do(a) parceiro (a) é que da próxima vez, deixe a porta destrancada.

Claro, responde a mãe, com um franco desespero no rosto, “Como não pensei nisso!”.

Mas, nossa mãe tem artimanhas! E ela não está só!

Seguem orientações: Na cozinha, a despeito dos olhares, você abre a espumante com um pano de prato, para que ninguém ouça o estouro da rolha. Quase em parelho faça um barulho com pratos e um xingamento aleatório, simulando um pseudo incômodo.  O passo seguinte consiste em encher uma taça: encher, nada de golinho!  Taça quase transbordando! Se você não tiver uma taça a mão, não se preocupe mãe, ela pode ser substituída por qualquer recipiente que esteja por perto! Agora o pulo do gato: Com taça em mãe, se joga para lavandeira!! Isso mesmo!! Com o copo “moqueado” em meio a produtos diversos, isopor, brinquedos e demais objetos típicos de uma área de serviço, você fecha a porta e desfruta dos seus minutos. É importante que o entorno acredite que você está trabalhando, esse ponto é fundamental , porque sim, mesmo em 2021, ninguém quer lavar roupa com você no sábado de noite. Estranho, não é?

Qualquer solicitação a resposta agregada a barulhos é simples: A mãe tá ocupada!

Comoção e esquiva garantidas!

E você terá seu sossego por alguns minutos. Só conseguimos garantir poucos minutos por enquanto, mas estamos aperfeiçoando a igualdade de gêneros e de demandas da vida doméstica e familiar. Agradecemos a sua compreensão!

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