Atenção! TEXTO COM SPOILER!

Amor é uma palavra poética em si mesma. Há literalmente infinitas formas de amar. Contudo, quando o amor pode machucar? E se machuca, podemos chamar de amor?

Na Série da Netflix, YOU, Joe vem mostrando como ele entende o que é amor. Uma noção bastante complicada, diga-se de passagem. Joe é um homem que escolhe sua parceira baseado no que ele mesmo descreve como “padrão” – na linguagem psicanalítica seria compulsão a repetição – e dentro dessa lógica ele tenta “arrumar” a vida da parceira escolhida. Muito onipotente, ele entende que consegue consertar o que julga que atrapalha o caminho da relação idealizada. Marcadamente observamos uma psicopatia severa.

Joe é um livreiro que possui uma história de violência, abandono e institucionalização. As lembranças desse passado vão aparecendo no decorrer dos episódios, como um contexto para seus pensamentos e suas ações. Não sei se é coincidência ou se foi proposital, mas quando Joe se torna pai, na terceira temporada, esses flashes se tornam mais frequentes

O que Joe descreve como cuidados, atenção e amor incondicional logo passará a ser sentido e visto pelas parceiras como o avesso disso: intrusão, descuidado e, claro, violência. Os desfechos são trágicos.

Na primeira temporada fica mais difícil ter empatia por Joe. Já nas demais temporadas, segunda e terceira, a série brinca com o espectador fazendo você oscilar na “torcida”. Essa oscilação parece mais intensa especialmente na terceira temporada porque Joe tem um filho e com esse bebê ele claramente demonstra o que vemos cotidianamente nas pessoas: somos muitos, temos muitas facetas, somos irredutíveis a um rótulo. Ele ama seu filho. Entretanto, a terceira temporada é intensa e tem toques de comédia interessantes.

O que Joe entende por amor é algo que leva suas parceiras a sumirem – e isso pode ser bem literal. É um estado de relação na qual um pressupõe que sabe tudo o que o outro quer e precisa, desconsiderando a individualidade deste outro. Seria um amor que não enxerga o/a parceiro/a subtraindo-lhe a condição de diferenciação, de frustração e de confiança. Em teoria, Joe faz o que faz pela felicidade integral da parceria, por You (você), na prática, Joe busca um controle absoluto que garanta a ele nunca ser abandonado – custe o que custar.

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