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Psicanálise

Nunca mais estaremos inteiros (.)ou(?)

Eu estava observando meus alunos esses dias – durante as aulas muitos deles, alternadamente, levantavam-se para procurar tomadas para carregar seus telefones num claro movimento de urgência e preocupação, um misto, indiferentes ao que esteja acontecendo na aula – parece que: “Se meu celular fica sem bateria eu fico também, não posso descarregar!”

Pensei se eu faria isso também. Faria, é a resposta. Já fiz, seria outra resposta. Provavelmente continuarei fazendo – uma terceira resposta.

A partir dessa observação me flagrei pensando: Nunca mais seremos inteiros! Nunca mais estaremos inteiros numa situação! Um pensamento afirmativo, querendo ser seguido de uma interrogação no lugar do ponto, mas não tenho certeza – aliás, tendo a pensar que se trata realmente de uma afirmação que ocupará nossas vidas por longos anos, décadas ou séculos.

Por alguma razão, sentimo-nos como que convocados a estarmos ligados a todos e tudo, e paradoxalmente, nossa atenção fica tão dispersa quanto nossos vínculos. Não estamos onde estamos, nem escutamos o que estamos ouvindo. Conectados em tempo integral, os olhos se lançam entre o que acontece ao redor, e as chamadas ou mensagens que “entram” na nossa tela – descarto, abro, respondo, volto para onde estava – ou não.

Qual a sensação de não se sentir inteiro em um lugar ou numa experiência? Será que nos transformamos em pessoas que podem viver pela metade – ocupar dois espaços ou estar conectados a vários estímulos e mesmo assim dar conta?

Qual o preço que se paga por deixar tanto em torno de nós mesmos passar como secundário? Pendura essa que pago mais tarde, tenho que checar minhas mensagens.

Pessoas usando celular

 

Tão cheios de manias!

É muito comum ouvirmos que alguém é “cheio de manias”. À essas manias se atribuem comportamentos habituais, comportamentos muitas vezes não propositais, mas que fazem parte de todo um ritual e que o sujeito sente necessidade de fazer.

Algumas coisas precisam ser esclarecidas:

  • O sentido popular de mania nada tem a ver com o sentido científico – popularmente atribui-se mania como sinônimo de hábito; mania, para a psicologia e psiquiatria diz respeito a um estado de humor.
  • Esses comportamentos chamados de manias, em muitas situações, são comportamentos obsessivos que fazem parte de um ritual necessário para o sujeito e que visam aliviar a ansiedade.

A dificuldade dessa situação é que o alívio da ansiedade começa a ficar cada vez mais difícil para o sujeito e a tendência é haver um sofrimento muito grande, mesmo em situações aparentemente muito simples da rotina.

“Manias” não são situações que devem ser desconsideradas e precisam ser entendidas como um sinal de alerta. Não são coisas bobas, nem passageiras. A indicação mais adequada é uma avaliação com um profissional capacitado. Pense nisso!

Para não ter erro… ou muitos erros! #Dicas para o dia nascer feliz!

Sair de casa no horário, é:

  1. Improvável
  2. Impossível
  3. Um sonho
  4. Todas as alternativas acima

Sair de casa no horário com as crianças sempre é um desafio, pelo menos para a maioria dos pais. São muitas variáveis envolvidas em uma rotina atribulada e, muitas vezes, cansativa. Vou deixar umas dicas bem básicas e práticas – e óbvias – mas, que podem ajudar um pouquinho! Veja se te ajudam

I. Mochila: arrumar a mochila é um ponto, lembrar-se de leva-la junto é outro – então, quando arrumar a mochila para o dia seguinte com o seu miúdo já a deixe ao lado da porta por onde habitualmente saem pela manhã. Isso vai ajudar a visualizar e diminui a chance de ter que voltar

II. Lanche: o lanche entra na lógica da mochila. Algumas escolas possuem seus próprios cardápios, mas se você não conta com isso, mesma coisa – antes ainda da mochila na porta, separe o que a criança levará para escola, coloque tudo dentro de um pote para deixar tudo junto e mais fácil do miúdo localizar na hora de comer. Depois, direto para mochila, que vai ficar na porta pronta

III. Escolher roupa: Deixar a roupa escolhida para a manhã seguinte também é outra coisa que ajuda bastante, mesmo que seja o uniforme. Enquanto o/a pequeno/a escova os dentes e faz o último xixi, você pode deixar a roupinha separada – claro que, dependendo da relação de vocês, após a escolha pode haver um debate sobre o “modelito”, mas isso faz parte da graça toda

IV. Visita ao banheiro: é um clássico essa “visitinha” e realmente ajuda porque evita (pode! Nada é garantido nessa vida!) o/a miúdo/a de acordar a noite para ir ao banheiro. Noite com sono melhor! Lembrando: horas antes de dormir a ingesta de líquidos deve diminuir – isso se aplica a todas idades, aliás!!

V. O óbvio precisa ser dito: Se o/a miúdo/a precisa acordar cedo para ir para escola, precisa dormir cedo – é fato, lamento. Aí a rotina pode ajudar vocês todos com isso e se naturalizar o dormir mais “cedinho”. O que é mais cedinho? Certamente será antes que você e que conte, no mínimo, com 8* boas horas de sono. (*Esse número depende muito da idade do/a miúdo/a.)

Tudo isso – eu posso ouvir! – requer mais um tempinho seu e você não tem esse tempo. “Quisera que o dia tivesse 30 horas ou mais!” Eu sei, eu sei – também já desejei isso. Mas, pergunto: Se o dia pudesse ter mais horas, você não as preencheria igualmente e o desejo de mais perpetuaria? Pense nisso.

Parece, em várias circunstâncias, que não se trata de mais tempo, mas usar seu tempo com o que importa – e essa é outra questão: O que importa de verdade? Então, lanche, mochila, pijama, xixi antes de deitar, boa noite e todos esses detalhes que fazem a vida ser como ela é ao lado desse miudinho, deveriam “ocupar” o seu tempo, sim. Se isso é o que importa, claro. 😉

Antes da cor da minha boneca

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No ano anterior escrevi no BLOG sobre brincar de boneca, motivada especialmente por uma reportagem que falava do quanto brincar de boneca é importante para as crianças.

Esse brincar envolve um processo de identificação muito complexo e fundamental para o desenvolvimento psíquico do miúdo. A identificação é um dos mecanismos de defesa que os indivíduos (saudáveis, inclusive) utilizam e o qual serve como importante ferramenta para a constituição da identidade. Semana passada uma miúda chama atenção da mídia quando escolhe uma boneca negra para ganhar de sua mãe. A questão toda foi o impacto que essa escolha causou na vendedora da loja que não entendia a razão pela qual uma menina branca escolhia uma boneca negra. Ver reportagem: http://www.geledes.org.br/essa-boneca-nao-parece-com-voce-resposta-de-garota-de-2-anos-vendedora-e-fabulosa/

Sophia, a menina com sua boneca, deu uma aula sobre processos de identificação: a cor da boneca não era um fator para ela, antes disso (e mais importante que isso!) o que a chama e cola nela era o que a boneca representava: uma boneca bem sucedida e bonita. É claro que esses estereótipos também podem ser questionados, nada mais justo. Contudo, há de se convir que é um grande passo para uma miúda e para uma sociedade marcada historicamente pela escravidão e preconceito racial.

O fato de Sophia conseguir enxergar além do óbvio e da superfície que é a pele – dentro de uma sociedade que parece relutar para abrir mão de uma cultura de exclusão – pode nos indicar que há uma geração apontando com novas estruturas identificatória. Será bom? Será ruim? Será diferente? Só o tempo, como sempre, conseguirá dar conta desses questionamentos, mas dá uma certa esperança, não dá? 😉

Freud + Pacha = Boas Risadas

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Não é necessário ser alegre para ter humor, já nos foi dito isso! Freud já nos ensinou há bastante tempo que os chistes são formas poderosas de expressão. Boris Cyrulnik também nos ajuda a entender que o humor é uma importante faceta do sujeito resiliente: lançar mão do riso, do bom humor para se expressar, para compreender e para proteger também. Para Boris, “Essa reação [humor] desconcerta porque, ao descentrar o sujeito de sua fascinação pelo horror, livra-o do sofrimento e remaneja as imagens de pesadelo. Essa estratégia psicológica aproxima-se portanto dos mecanismos de defesa…” (CYRULNIK, p.45, 2009).

Um livro que nos ajuda a liberar o humor, sem ser pretensioso, é “As traumáticas aventuras do Filho do Freud” de Pacha Urbano.  No volume da foto as tirinhas ilustram as aventuras do filho de Freud no que seriam suas tentativas de lidar com as experiências edípicas. Tudo isso, com participações mais que especiais da sua irmã e outros personagens já conhecidos da história da Psicanálise.

O melhor disso tudo? É poder ver a graça de algo que, na nossa prática diária, é tão sério. E ainda, lembrar que nem o pai da Psicanálise estava imune a sua própria teoria… claro que, isso tudo com muito bom humor.

Referências:

Cyrulnik,B. Autobiografia de um espantalho – Histórias de resiliência: O retorno à vida. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

Urbano, P. Filhos do Freud. Rio de Janeiro: Zás, 2013.

 

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