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Psicanálise

Encontro sobre o Pensamento de Winnicott

Winnicott é um dos grandes teóricos infantis e psicanalistas da história.

Ele nos apresentou uma nova perspectiva sobre o amadurecimento do ser humano, introduzindo conceitos absolutamente sensíveis e inovadores à psicanálise tradicional.

Um conceito que é vibrante dentro da sua teoria é o de “criatividade”,  o qual ultrapassa a questão da sublimação e abrange uma grande parcela do desenvolvimento emocional infantil.


VI ENCONTRO BRASILEIRO SOBRE O PENSAMENTO DE  D.W. WINNICOTT

Criatividade e Clínica

Curitiba

23, 24 e 25 de Setembro

Complexo de Édipo – um conceito clássico

É interessante pensar sobre as relações que se estabelecem nas famílias e como alguns fenômenos do desenvolvimento psíquico podem ser percebidos. Certo dia, estava observando uma menina que tinha em torno de 6 anos, a cena era a seguinte: estava rodeada pelo avô, tios e pai enquanto todos tentavam decidir o que almoçar; todos eles olhavam para a menina e tinham em seus olhos um sentimento de devoção, carinho e atenção. Algo incrível de ser analisado.

Você sabe aquela “historinha” que certo senhor, no início do séc. XX, contou sobre o menino que se apaixona pela mãe e rivaliza com o pai para ficar com ela?

Sim, estamos falando do conhecido Complexo de Édipo cunhado por Freud, esse estudioso que para muitos é uma referência, para outros, só motivo de riso.

Independe do que você pense esse momento, o Complexo de Édipo existe e de forma poderosa perpassa nossas vidas, atravessando nosso desenvolvimento.

Na prática percebemos isso de maneira sutil, nas relações familiares, dentro dessas dinâmicas tão peculiares: a menina que anda de mãos dadas com o pai e imita o comportamento da mãe; ou, a admiração que cabe nos olhos do menino quando analisa os movimentos do pai.

Mas como esse complexo afeta o cotidiano de cada um de nós?

Esse processo é algo que irá acontecer naturalmente no decorrer do desenvolvimento das crianças e que, em geral, passará sem muito alarde. Ele ajudará a criança a ingressar nos seus processos de identificação e consolidação do que chamamos de personalidade. Apesar da importância desse processo, muitos de nós nunca pensaremos sobre ele de maneira direta ou indireta e clara sem estarmos em um processo de análise.

Que assim seja!

A epidemia de doença mental (Revista Piauí)

 

Essa reportagem merece ser lida.

Além de lida, ser pensada diante desse contexto que estamos inseridos e, portanto também somos responsáveis.

O texto vai discutir como a doença mental se instalou na nossa sociedade atual  e por que razão ela está em franca expansão. Cita autores que tecem críticas ferozes e que problematizam a indústria dos laboratórios farmacêuticos.

Mas aqui, saliento o trecho que discutem a questão da infância.

Segue o texto original:

A indústria farmacêutica influencia psiquiatras a receitar drogas psicoativas até mesmo a pacientes para os quais os medicamentos não foram considerados seguros e eficazes. O que deveria preocupar enormemente é o aumento espantoso do diagnóstico e tratamento de doenças mentais em crianças, algumas com apenas 2 anos de idade. Essas crianças são tratadas muitas vezes com medicamentos que nunca foram aprovados pela FDA para uso nessa faixa etária, e têm efeitos colaterais graves. A prevalência de “transtorno bipolar juvenil” aumentou quarenta vezes entre 1993 e 2004, e a de “autismo” aumentou de 1 em 500 crianças para 1 em 90 ao longo da mesma década. Dez por cento dos meninos de 10 anos de idade tomam agora estimulantes diários para o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.

Seria muito difícil achar uma criança de 2 anos que não seja às vezes irritante, um menino de 5ª série que não seja ocasionalmente desatento, ou uma menina no ensino médio que não seja ansiosa. Rotular essas crianças como tendo um transtorno mental e tratá-las com medicamentos depende muito de quem elas são e das pressões que seus pais enfrentam.

Como as famílias de baixa renda estão passando por dificuldades econômicas crescentes, muitas descobriram que o pedido de renda de seguridade suplementar com base na invalidez mental é a única maneira de sobreviver. Segundo um estudo da Universidade Rutgers, descobriu-se que crianças de famílias de baixa renda têm quatro vezes mais probabilidade de receber medicamentos antipsicóticos do que crianças com plano de saúde privado.

[…]

o mínimo, precisamos parar de pensar que as drogas psicoativas são o melhor e, muitas vezes, o único tratamento para as doenças mentais. Tanto a psicoterapia como os exercícios físicos têm se mostrado tão eficazes quanto os medicamentos para a depressão, e seus efeitos são mais duradouros. Mas, infelizmente, não existe indústria que promova essas alternativas. Mais pesquisas são necessárias para estudar alternativas às drogas psicoativas.

Em particular, precisamos repensar o tratamento de crianças. Nesse ponto, o problema é muitas vezes uma família perturbada em circunstâncias conturbadas. Tratamentos voltados para essas condições ambientais – como auxílio individual para pais ou centros pós-escola para as crianças – devem ser estudados e comparados com o tratamento farmacológico.” (por Marcia Angell, Revista Piauí_59).

Não deixe de ler a reportagem na íntegra. No mínimo você vai ficar pensando.

 


 

 

E o pai dessa criança?

 

É um chavão clássico do senso comum: “na psicologia tudo é culpa da mãe!”.

E essa afirmação não está de toda errada, entretanto a primeira correção necessária é trocar a palavra “culpa” por “responsabilidade”; e em segundo, temos que levar em consideração uma figura que fica sempre acaba em segundo plano nessa discussão: o pai.

 

Os pais de maneira alguma são renegados dentro da psicologia, muito menos na psicanálise infantil. Eles ocupam um lugar importante e fundamental no desenvolvimento dos seus filhos, assim como as mães. Entretanto, o que diferencia fundamentalmente essas figuras são os papéis que eles ocupam e o tempo em que vão se colocando na vida das crianças.

 

A figura do pai no primeiro momento de vida dos seus filhos é ser uma espécie de ambiente seguro e acolhedor para a díade mãe-bebê. É ele quem pode garantir que a figura da mãe possa se dedicar tudo o que precisa para esse novo sujeito que está emergindo.

 

Com o tempo, a função paterna vai se ampliando e o pai irá ocupar um espaço cada vez maior na vida da criança.  É ele que ajudará a mostrar o mundo externo para o bebê e introduzir questões importantes que o auxiliarão na organização de sua identidade. O pai cuida do bebê de uma maneira diferenciada e, com isso, apresenta outras possibilidades que compõem a subjetividade do filho.

 

Um ponto que está razoavelmente claro é que, quando essas mães as quais afirmam que “tudo” é culpa delas, nada mais fazem do que reafirmar seus sentimentos de onipotência e fomentar a cultura que o pai ocupa lugar inferior ao delas.

Mães Neuróticas, Filhos Nervosos

 

Você já viu o filme de Woody Allen “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”?

 

Pois foi justamente pensando nesse título que pensei no caso das mães e dos seus filhos.

 

Primeiramente, é necessário clarificar que o título de neurótica é utilizado em um sentindo muito mais popular do que é utilizado no meio acadêmico ou científico. Entretanto, cabe também dizer que quando falamos em mães neuróticas, fazemos referência a mães que apresentam muita dificuldade em conectar-se efetivamente com seus bebês e, dessa forma, impõem a eles seu ritmo, suas expectativas e, porque não, suas neuroses, impossibilitando um espaço de espontaneidade e criatividade que poderia emergir dessa relação.

 

Notadamente, mães de primogênitos são claramente mais ansiosas e, com isso, seus bebês parecem responder a esse sentimento demonstrando também sinais de ansiedade, os quais podem ser manifestados de várias maneiras, como dificuldades na hora de ir dormir e durante o sono, com a alimentação, dentre outros.

 

O que podemos generalizar com tranqüilidade é que, as mães têm uma relação estreita com seu bebê e isso, obviamente, não é novidade alguma. Entretanto, isso é válido tanto para coisas boas da relação, como para as que não são muito bem-vindas. A dificuldade para lidar com essas últimas é conseguir perceber isso devido ao grau de aproximação que essa relação demanda. Então, às vezes, buscar certo distanciamento crítico já é suficiente para checar se as coisas vão bem nessa relação tão importante e fundamental do ponto de vista da saúde mental desse bebê.

 

Os filhos, principalmente os bebês, são absolutamente sensíveis ao que suas mães querem deles, desejam ou sentem.

 

É importante ter clareza que não se tratar de um grau de perfeição idealista, de forma alguma isso seria mais apropriado dos que os erros espontâneos e afetivos; trata-se da compreensão profunda da conexão que existe entre o estado afetivo da mãe com o bebê.

 

É brincando que a gente se entende!

 

O brincar tem um lugar e um tempo próprios… Para controlar o que está fora, deve-se fazer coisas e não simplesmente pensar ou desejar, e fazer coisas, implica em tempo. Brincar é fazer.

                                                                                                                                                                                                                      Winnicott (1975)

 

Quem foi que disse que brincar não é coisa séria?

 

Pois sim, brincar é algo muito sério e deve ser respeitado, pois é através dessa atividade – extremamente elaborada e complexa – que as crianças começam a se descobrir como sujeitos, elaborar suas questões, dar vazão a criatividade e preparar-se para adentrar o mundo dos adultos posteriormente.

 

É através da brincadeira que as crianças exploram um mundo intermediário, que nem pertence a realidade externa, nem a interna, pertence a uma zona própria para a criação, na qual a ilusão é a força motriz. Aqui, utilizamos a palavra “ilusão” no sentido de poder criar, não de maneira pejorativa ou de cunho patológico.

 

É interessante frisar que essa atividade começa muito cedo, por volta dos primeiros meses de vida do bebê. Em um primeiro momento, a criança vai brincar com ela mesma, com o corpo da mãe e depois passará a outros objetos. Será brincando que o mundo interno será povoado e por conseguinte, teremos um sujeito criativo (no mais amplo sentido) e saudável.

 

Brincando com uma propaganda veiculada recentemente: Porque brincar faz bem!

Trauma e Boris Cyrulnik: um autor que merece ser lido

A questão do trauma e suas implicações certamente é um dos pontos centrais na teoria psicanalítica. Entretanto, diante da realidade atual em que vivemos, das situações diárias com as quais nos defrontamos com violência, negligência, dentre tantas outras possibilidades da dor mostrar sua face, trazer o tema do trauma para discussão me parece absolutamente necessário.

Para tanto, vou começar esse tema – o qual será explorado em vários outros momentos novamente – trazendo um autor que trata da questão com a delicadeza necessária, sem perder o comprometimento com a complexidade que se exige quando abordamos pontos delicados como esse, do trauma e suas implicações.

Quando falamos de algo que nos traumatizou, buscamos um lugar para isso dentro de nós mesmos. Buscamos um sentido para algo que circula como um fantasma sem nome, sem casa, sem destino – mas que perturba, que nos inquieta, que nos assombra. É sobre isso e nesse tom que Cirulnyk traz a noção de trauma e as possibilidades que cada sujeito acha de lidar com ele.

Cyrulnik (2005, p.47) nos diz que:

“Toda fala pretende iluminar um pedaço do real. Mas, ao fazer isso, transforma o acontecimento porque objetiva tornar claro algo que, sem a palavra, continuaria na ordem do confuso ou da percepção sem representação.

Contar o que aconteceu significa interpretar o acontecimento, atribuir um significado a um mundão que foi perturbado, a uma desordem que compreendemos mal e à qual já não podemos reagir.

É necessário falar para tornar a pôr as coisas em ordem, mas falando interpretamos o acontecimento, o que pode lhe atribuir mil direções diferentes. “

                                                                                Fragmento do livro O Murmúrio dos fantasmas,

de Boris Cyrulnik (2005) 

 

Depressão Infantil: que bicho papão é esse?

 

 

Nem sempre carinha triste, falta de motivação para atividades diárias ou lentidão de movimentos e ações estão presentes nos quadros de depressão infantil.

A depressão pode ser entendida como um estado de humor em que o indivíduo se encontra com o humor modificado, caracterizado pelo que se concebe como um aspecto de tristeza constante, irritação, diminuição ou aumento de apetite, alterações de sono (aumento das horas de sono, em geral), sentimentos negativistas, dentre tantos outros sinais. Entretanto, esses sintomas não podem ser generalizados de maneira absoluta, pois dependem da faixa etária em que se encontra o sujeito e da análise do contexto em que isso está acontecendo.

E quando falamos especificamente de crianças, devemos tomar mais cuidado ainda, pois a depressão pode tomar outra face, isto é, não apresenta necessariamente sinais tão parecidos com os dos adultos. Nos pequenos, muitas vezes, o que encontramos são quadros de agitação motora agregados a outros sintomas, ou ainda, o que se popularizou pelo nome de “hiperatividade”, visto que a criança pode ficar exageradamente ativa diante de um ambiente confuso para ela.

A depressão infantil pode ser desencadeada por várias situações, dentre elas por razões aparentemente tolas para os adultos, como por exemplo, a perda de um animal de estimação, mudança de casa ou cidade, perdas em geral.

Entretanto, cabe salientar que todos esses sintomas ou sinais devem ser entendidos como indicadores de que algo não está bem e como uma forma de comunicação que a criança nos faz de um estado interno dela. As causas mais profundas serão passíveis de serem entendidas através de uma avaliação psicológica ou psicoterapia.

A depressão é um bicho-papão porque é algo sério e que deve receber atenção, contudo não é tão feio ou tão assustador que não possa ser transformado em outra coisa, mudando de cara, mudando seu caminho.

Por

Bibiana G. Malgarim 

Psicóloga – 07/13403

 

O peso da expectativa

Muitos de nós nascemos com algumas tarefas pré-determinadas para nossa vida, que mal começou a respirar. Muitas crianças já sabem desde cedo que deverão cumprir com uma série de objetivos já traçados e desempenhar com louvor uma verdadeira performance. Esse será o peso que cada um levará consigo: o peso da expectativa.

Essa expectativa se arrastará como grilhões para alguns; já para outros será apenas uma referência e, finalmente, para alguns nada significará. Entretanto, o que aparecerá, certamente, serão os casos em que esse peso se tornou intolerável e agora não é mais possível de ser carregado sozinho.

As facetas que essas expectativas (sociais e parentais) podem tomar são variadas, ou ainda, infinitas. Alguns autores da área da psicanálise nomearão fenômeno semelhante como ideal de ego (ou Ego Ideal, dependendo do teórico). Contudo, não é o nome que nos interessa e sim, o que isso significa para uma criança.

Em geral (e que se frise o termo: “em geral”), as expectativas demasiadas e irreais que recaem sobre as crianças são fruto de frustrações dos seus próprios pais, ou seja, situações que eles mesmos não deram conta por alguma impossibilidade e em virtude disso, e de todas as outras questões que se agregam, colocam essa herança em vida para seus pequenos.

Não se trata de culpabilizar. Nunca uso esse termo. Entretanto, parece-me que estamos tentando compreender a razão pela qual, em algumas situações, os pequenos desmontam diante de suas agendas abarrotadas, de suas notas “baixas” (oito ou nove) ou do segundo lugar em um campeonato.

Parece-me que não tolerar a frustração também pode ser “hereditário”.

Por Bibiana G. Malgarim

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