Texto dedicado aos jovens colegas
Quando pensamos em um atendimento psicoterapêutico é muito comum o foco recair sobre o paciente de maneira exclusiva. E esse raciocínio não está de todo equivocado, entretanto atualmente a psicanálise retomou e construiu novos paradigmas para a técnica. Para tanto, o conceito de Contratransferência começou a ocupar mais espaço nas discussões teóricas e na própria prática, trazendo o terapeuta como uma parte importante e ativa no tratamento. Dessa forma, uma definição para esse fenômeno pode ser como sendo o “conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste” (Laplanche e Pontalis, 1998, p. 102).
Nos últimos anos percebe-se um aumento nos estudos centrados na pessoa do terapeuta, bem como a sua relação com o paciente. Embora para Sandler et al (1976, p.55) o termo “contratransferência” venha sendo usado, de certa forma, excessivamente generalista, caracterizando esse processo como sendo a totalidade dos sentimentos e das atitudes do terapeuta em relação ao seu paciente, contudo, segundo o autor, essa definição se encontra longe da original descrita por Freud em 1910.
Mais atualmente, o fenômeno contratransferencial é entendido como sendo a constante interação que ocorre entre analista e paciente, a qual…
[…] implica em um processo de recíproca introjeção das identificações projetivas do outro. Quando isso ocorre, mais especificamente na pessoa do analista, pode mobilizar nele, durante a sessão, uma resposta emocional – surda ou manifesta – sob a forma de um conjunto de sentimentos, afetos, associações, fantasias, evocações, lapsos, imagens, sonhos, sensações corporais, etc.[…]
Dizendo com outras palavras, o fenômeno contratransferencial resulta das identificações projetivas oriundas do analisando, as quais provocam no analista um estado de contra-identificação projetiva[…] (Zimerman, 2004, p. 144).
Segundo Zaslavsky e Santos (2005, p.295) embora existam diferenças entre as diversas escolas de psicanálise existe entre elas um ponto de convergência em relação a utilidade da contratransferência, vista então, como um elemento técnico para a compreensão do paciente. Este reconhecimento de que o paciente tentará fazer do seu analista (termo utilizado pelos autores) objeto de transferência é inegável, assim como a contratransferência será uma criação conjunta de contribuições do analista e do paciente.
O que ocorre em um setting, entre paciente e terapeuta, é um dueto e não um solo, desta forma, existe um efeito de nossas respostas contratransferenciais sobre os pacientes em virtude de que se recebemos sinais, também os transmitimos. A contratransferência pode ser entendida tanto como consciente como inconsciente, embora em ambos os casos ela não tenha sido processada, isto é, a contratransferência precisaria ser trabalhada quase que da mesma forma que a transferência do próprio paciente (Alvarez, 2001).
Sendo assim. a contratransferência inclui “todo sentimento que o terapeuta possa ter em relação ao paciente em qualquer momento. Isso pode incluir sua própria transferência não analisada ao paciente, ou um deslocamento do exterior para o paciente, mas também incluiria sentimentos depositados nele pelo paciente.” (ALVAREZ, 2001, P.127). Enfim, seja o sentimento que for ou aparecer durante o tratamento de um paciente, devemos estar atentos não somente para a origem desses, mas também para onde eles levarão o terapeuta e, por conseqüência, a dupla.