Reciclamos nosso lixo, nossa comida, roupas e por que não reciclar nossos relacionamentos? Como tudo, ou como a maioria das coisas, é necessário também reciclar nossas relações: por sua própria natureza elas se transformam e nos levam junto.
Quando escrito com palavras, parece que o tom é leve, contudo na prática, não. Conseguir deixar para trás o que pertence à casa das lembranças e transgredir a lógica da nostalgia é um buraco fundo em cada um de nós. Não seremos mais os mesmo, não fique contando com isso.
A vida – essa dama caprichosa – prega-nos algumas peças que alteram os rumos possíveis e previsíveis. É justo dizer que, em alguns ou muitos casos, esses rumos são extremamente bem-vindos, felizes e aprazíveis. Contudo, ainda assim é necessário retomar e reler as relações que construímos.
Algumas dessas relações nos acompanharão por anos e exigirão pouca reciclagem, outras necessitarão de atenção: atenção porque elas não serão mais as mesmas e é importante entender isso. Reciclar, limpar e transformar.
Não dá para deixar de registrar que a Feira do Livro de Porto Alegre começa hoje! E tem tantos lançamentos e eventos que fica difícil até mesmo escolher.
Minha aquisições potenciais estão voltadas para a jornalista e escritora Eliane Brum. Acompanhando suas colunas com frequência, deleitando-me com a forma acurada de escrever sobre fenômenos tão complexos e recentemente incentivada por alguns amigos , Eliane está em primeiro lugar da minha lista!
Vejam minhas (ótimas!!) intenções para essa feira:
# Uma Duas, Eliane Brum
#A menina quebrada, Eliane Brum
# Meus desacontecimentos, Eliane Brum
E você, quem está no topo da lista?
Assim como filhos os livros também saem de casa: Do lar para o mundo!
Tomam seu rumo!
Acabam seu tempo conosco!
Vão-se! Crescem! Desapegam!
E não somos nós necessariamente que nos desapegamos deles: são eles que desapegam de nós, como se houvesse um tempo e depois disso, precisam alçar outros vôos. E vão.
Você os procura; você tinha certeza que os encontraria em algum lugar, mas não. Ele se foi. Certamente está com alguém que o veja de maneira diferente, que tenha com ele uma outra relação.
E como na vida, um dia talvez você saberá boas notícias dele:
_ Sabe aquele livro que você me emprestou há anos?
_Que livro?
_ Aquele livro sobre aquele assunto, com aquela história linda!
_Não brinca que estava com você esses anos todos!
(Risadas de alegria e calma!)
O livro transformou outra pessoa e fez história com ela.
Ou, nunca mais. Uma relação que acabou como num sumidouro. Não houve despedida, nem uma notícia posterior cheia de gratidão. Há só a lembrança.
Livros e pessoas: são incríveis, não acha?
Há quem goste mais de uma estação do ano especificamente do que as demais, como quase tudo na vida: as diferenças são enriquecedoras e democráticas!
Hoje chega o Outono: as folhas caindo, o clima esfriando e o sol menos intenso. Como disse antes, há quem não goste nada disso. O que parece um momento de encerramento, para mim, trata-se de um momento de recomeço, tal qual a primavera, mas num sentido mais introspectivo: hora de olhar para dentro, deixar o que é externo ou público para um outro momento com outra função própria – como a primavera, que não desmereço de nenhuma maneira.
A gritaria calorosa pode se transformada em uma fala mais mansa, sussurrada em alguns momentos, mas que chega igualmente aos ouvidos de quem deseja escutar. Os olhos não ficam ofuscados pela luz intensa, mas devem adaptar-se a um olhar mais meticuloso, cuja luz é própria e sensível.
O outono permite que nossas “folhas” caiam para nos dedicarmos ao que está dentro – algo vivo, sólido, espontâneo, contínuo. Assim, nossas estações pessoais permitem transformações, renovações, isso tudo depois de um tempo de conversa íntima a qual nunca sabemos o desfecho até que outra estação se inicie em nós mesmos.
Bem vindo outono de cada um e aquele que podemos ver nas lindas árvores que também se transformam pacientemente guardando dentro de si o que as manterá vivas até outro florescer.
Dei-me por conta de uma coisa (somente) há alguns dias: quando compro flores não escolho as mais perfeitas, ou as completamente perfeitas, acabo escolhendo a que possui alguma marca, nas folhas, nas flores, não importa.
Escolho uma que contenha algo que explicite para mim seu registro de vida e de percurso. A razão pela qual sou tomada a escolher flores (ou plantas) com alguma marca, dei-me conte pensando, é porque assim como nós, sujeitos, a vida não se faz de perfeição, a vida só se constróis através de marcas, umas mais brandas, outras cicatrizes, outras invisíveis. Sujeitos “contam” de onde vieram, quais lugares percorreram para se tornarem quem são hoje, porque sucessivamente marcaram e foram marcados pelas experiências… achei tão semelhante quando olhei para uma violeta e vi suas folhas com cores diferentes do habitual, além de um rasgadinho já cicatrizado.
Quem sabe, as flores e plantas “perfeitas” também tenham suas marcas, porém imperceptíveis. Ou talvez sejam perfeitas mesmo. Pobrezinhas, que sem graça!
Você já conferiu os indicados ao Oscar de 2016?
Um deles, não sei em qual categoria exatamente, é o filme O Quarto de Jack. Esse filme, cujo trailer estamos deixando o link aqui nesse post, já esteve como tema do BLOG em 2013!
O filme se origina do livro “O Quarto” e realmente nos conduz a uma viagem diferente e intensa na vida de um garotinho e sua mãe, e como pano de fundo e razão para tudo o que acontece a figura de Jack.
Confira o texto original sobre o livro, cujo nome é “Vamos sair dos nossos quartos pessoais” e o veja o trailer!
Agora é esperar o filme chegar nas telas!
A vida se remenda. Mas, e como são esses remendados?
Pequenos “franskesteins” diários se lançam nas ruas.
B.G.M. (13 de agosto de 2015)
Para dizer adeus não é necessário usar muitas palavras, nem fazer muitos gestos, tão quanto empregar muitas lágrimas. A despedida por si só já se coloca como uma síntese de tudo isso: a síntese dos gestos, das ações, das palavras e das lágrimas.
O que parece mais inquietante, no entanto, não é o que não foi dito nesse momento de despedida, mas o que se disse. O antes do “adeus” já fora construído de palavras e gestos lançados ou como abraços para enganchar e aproximar, ou como farpas para ferir e maltratar. Não importa mais, abraços ou farpas, tudo foi feito na construção de uma história permeada por afetos espantosamente diversos .
Na hora do “adeus”, tudo se encerra e palavras serão (mais) úteis somente depois, porque na hora do adeus, tanto já se fez que tudo o mais se torna redundante. Ou seja, parece-me que a despedida – pelo menos em sua grande maioria das vezes – é feita de minimalismos: paradoxalmente nada vazios, nada silenciosos, nada rasos, nada simples e fáceis.