Revisitando um artigo anterior – de novembro de 2011 (http://conversadegentemiuda.wordpress.com/2011/11/02/o-que-pode-acontecer-em-um-quarto/ ) – escrevendo sobre o livro “Quarto”, da autora Emma Donoghue, cujo história é sobre um menino de 5 anos que vive desde seu nascimento circunscrito a um quarto e cuja convivência é exclusivamente com sua mãe – eventualmente, recebendo a visita do “velho Nick”, sujeito que sequestrou essa jovem e a manteve em cativeiro, incluindo após o parto desse pequeno narrador.
Na época, ainda lendo o livro, não sabia exatamente como o texto iria transcorrer, mas no decorrer dele, um ponto que julgo interessante e que pode extrapolar o livro é justamente a noção de self que desenvolvemos e com isso, a perspectiva de mundo que temos – no caso desse pequeno refém, seu mundo era o quarto, e suas referências de mundo era esse local e sua mãe. Em várias passagens, o pequeno comenta que depois da janela – uma claraboia – o mundo acabava, não havia mais nada, e quando lia isso imediatamente pensava em tempo remotos da nossa história como civilização, na qual também tínhamos uma compreensão de que, onde não conhecíamos ou não enxergávamos, logo, não existia. Essa noção, essa ampliação, é desenvolvida no decorrer da maturidade da humanidade e de cada sujeito.
Ampliando essa questão, quando passamos por alguma situação qualquer no percurso da vida, tendemos a julga-la pelas referências que temos, o que pode ser muito limitado ou limitador. Parece-me que o preconceito entra nessa fresta mal acabada da nossa formação emocional, moral e social: quando não conhecemos, julga-se não a partir de uma realidade ampliada, mas exclusivamente por um crivo pessoal, singular e restrito, o qual desenvolvemos no decorrer de nossas vidas – e é fundamental – mas que não é A forma de ver e compreender os fenômenos, é UMA delas. E parece que lembrar disso é tão difícil, quanto aplicar!
No desenrolar da trama, algumas reviravoltas acontecem – e podem ficar tranquilos que não vou citar nada além do já referido, para não perder o gostinho de novidade quando o livro for lido, ok? – e a questão da percepção e suas implicações também se modificam, o que me fez pensar, então, no processo de amadurecimento esperado de todos nós: quando pequenos, nossas referência são restritas, afinal, nossas capacidades de absorção também são menores e portanto, precisam de uma dose mais homeopática. Crescendo, ampliando nossa capacidade de ver – vendo e conhecendo outras realidades – novas janelas se abrem e o que antes era absoluto, relativiza-se radicalmente. Parece fundamental, como para o pequeno refém do livro, nesse percurso possuir capacidades para essas aquisições, assim como uma larga flexibilidade para lidar com tudo o que é imprevisível e estranho.
Difícil mesmo é quando, o adulto, já se esperando essas aquisições de perspectiva e relativização dos fatos, encontra-se amarrado a uma visão muito pequenininha da vida, como se olhasse tudo não pela janela ou do jardim, mas pelo buraco da fechadura do quarto que cada um de nós constrói para si. Vamos sair dos nosso quartos, pessoal!
No Comments