“Uma noite não muito diferente de várias outras, junto com a comida chinesa que foi entregue na minha casa veio um biscoito da sorte: aqueles biscoitinhos interessantes e adocicados que vem de brinde. Após o jantar, abri o meu e no interior dele veio a seguinte frase:
´Acumule forças no período de ação impossível para assim realizar grandes obras.´
Essas frases, em geral, não surtem muito efeito. Soam como frases prontas, simplesmente embaladas junto a um biscoito, entretanto na conjuntura em que ela me caiu nas mãos, meus pensamentos se tornaram mais intensos em relação a ela.
Existe um momento em que a ação realmente parece impossível e dolorosamente nos aponta a inevitável impotência que o humano é obrigado a conviver. Hoje, pensei mais uma vez nessa frase, voltei a lê-la e novamente refleti sobre o que poderia implicar seu conteúdo.
Meu espírito intenso como só não consegue sossegar frente à impossibilidade de ação, a razão para isso pode ser múltipla. Pode ser porque sou assim, seja porque sempre acreditei que poderia fazer alguma coisa, ou, ainda, devido a uma crença infantil na onipotência de que as coisas dependem somente de você mesmo para acontecer (uma palavra para isso: HAHAHA!!).
Diante dessa torrente reflexiva, dei-me conta que muitas coisas foram assim até agora: desejei algo, organizei meus planos e tratei de abrir o caminho até o ponto em questão. Obstinada. Na prática, sempre levada pela impaciência e pela pressa, possivelmente passei correndo por experiências das quais poderia ter tirado mais proveito; passei por pessoas sem conhecê-las direito ou profundamente; ignorei avisos importantes; ou ainda, simplesmente fui como sei ser.
Contudo hoje, frente a um desejo crescente de estar junto a alguém importante para mim e perceber que a ação é – literalmente – impossível nesse momento, meu coração dói ao se dedicar a guardar forças. Devo crer que essa é a única alternativa, e possivelmente o mais correto a ser feito, entretanto nunca me pareceu tão difícil esperar o tempo próprio da vida.
A urgência íntima me enganou muitas vezes e, dessa forma, forças foram gastas sem critério. O que quero passar a crer de verdade é que haverá uma grande obra como diz o bilhetinho do biscoito, e que eu saberei aguardar. Por que isso aconteceria? Porque eu desejo também?
Ouço de novo a mesma voz que riu um pouco antes: Cresce e vai dormir porque amanhã é dia de trabalho.
Às vezes, as noites podem ser cruéis com o coração das pessoas.”
(Pequeno conto escrito em 2010)