A questão do trauma e suas implicações certamente é um dos pontos centrais na teoria psicanalítica. Entretanto, diante da realidade atual em que vivemos, das situações diárias com as quais nos defrontamos com violência, negligência, dentre tantas outras possibilidades da dor mostrar sua face, trazer o tema do trauma para discussão me parece absolutamente necessário.
Para tanto, vou começar esse tema – o qual será explorado em vários outros momentos novamente – trazendo um autor que trata da questão com a delicadeza necessária, sem perder o comprometimento com a complexidade que se exige quando abordamos pontos delicados como esse, do trauma e suas implicações.
Quando falamos de algo que nos traumatizou, buscamos um lugar para isso dentro de nós mesmos. Buscamos um sentido para algo que circula como um fantasma sem nome, sem casa, sem destino – mas que perturba, que nos inquieta, que nos assombra. É sobre isso e nesse tom que Cirulnyk traz a noção de trauma e as possibilidades que cada sujeito acha de lidar com ele.
Cyrulnik (2005, p.47) nos diz que:
“Toda fala pretende iluminar um pedaço do real. Mas, ao fazer isso, transforma o acontecimento porque objetiva tornar claro algo que, sem a palavra, continuaria na ordem do confuso ou da percepção sem representação.
Contar o que aconteceu significa interpretar o acontecimento, atribuir um significado a um mundão que foi perturbado, a uma desordem que compreendemos mal e à qual já não podemos reagir.
É necessário falar para tornar a pôr as coisas em ordem, mas falando interpretamos o acontecimento, o que pode lhe atribuir mil direções diferentes. “
Fragmento do livro O Murmúrio dos fantasmas,
de Boris Cyrulnik (2005)