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Psicoterapia

Relato de Experiência no Jornal do CRP

Na nova Edição do Jornal do Conselho Regional de Psicologia nº 72 / 2016 (CRP RS) saiu meu Relato de Experiência  sobre a Clínica Psicológica Infantil: um desafio, uma paixão, uma responsabilidade.

” […] não deixo de lado a beleza e o potencial diário que é trabalhar com esse público pequeno com tanto potencial. Estar junto em momentos de descobertas e desenvolvimento é uma das partes mais emocionantes do trabalho […]”

#Sentindo-se Feliz

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Relato de Experiência

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Jornal do CRP RS / 2016

7 Coisas que você precisa/pode saber sobre Psicoterapia Infantil:

Se vocês olhar na internet verificará rapidamente que há uma série de listas para quase tudo. Basicamente uma lista de coisas que você “precisa” saber sobre algum tema ou sobre alguma pessoa. Algumas dessas listas são desnecessárias – do meu ponto de vista, claro – outras, rendem alguma informação ou algumas risadas.

Pensando em algumas informações que podem ser interessantes de saber sobre PSICOTERAPIA INFANTIL, fiz a minha lista: 7 coisas que você precisa/pode saber sobre Psicoterapia Infantil:

 

  1. É diferente de Psicoterapia de Adulto: A Psicoterapia com adultos é diferente da com crianças, embora o que embase essas práticas – a teoria psicanalítica, no caso – seja semelhante, se não igual, em muitas circunstâncias. O Inconsciente é inconsciente para todos! O que difere substancialmente é a técnica que o psicólogo empregará com o público infantil.

 

  1. Psicoterapia Infantil é com brinquedos, mas, não é brincadeira: A técnica infantil usa como um dos principais meios o brinquedo – e a criança e o psicoterapeuta fazem a brincadeira. Embora se utilize brinquedos para acessar as questões da criança, não se trata de um brincar qualquer, ou que ocorre em qualquer contexto. Dentro do setting da psicoterapia o brinquedo tem um significado diferenciado e absolutamente particular a cada criança.

 

  1. Não é necessariamente rápida… nem longa: Há um mito sobre a extensão que a psicoterapia podem levar: “Demora!”. Isso tanto para criança quanto para adultos. Como saber? Cada caso é um caso e isso será acompanhado e discutido com o psicoterapeuta. De uma forma mais genérica dois cuidados devem ser tomados: Psicoterapia não é estilo fast food, ou seja, questões de ordem emocional, por melhor que o psicoterapeuta seja, não se resolve em semanas (ou alguns meses). Não existe pílula para tristeza, insegurança ou luto, por exemplo, e são todas situações que precisam de tempo para “melhorar” – lembrando ainda que cada um tem seu próprio tempo. Por outro lado, a Psicoterapia também não precisa levar anos! O que você esperava para o seu filho quando começou a Psicoterapia e agora? Como ele se beneficia(ou) do processo? Como está o desenvolvimento esperado dele? São questões que podem ser consideradas para a finalização do processo. Converse com o psicoterapeuta.

 

  1. É imprescindível que os pais apoiem: Você já ouviu a frase: “Não há bebê sem mãe, nem mãe sem bebê.”, o mesmo se aplica ao item 4 da nossa lista: não há psicoterapia infantil sem apoio dos pais. Muitas vezes não é um processo fácil: além das questões emocionais que são revisadas, há questões de ordem prática como levar, esperar, não saber o que acontece dentro da sala e sentir-se excluído, investir, etc.

Entretanto, sem esse apoio – nos momentos bons e ruins, tal qual um voto de casamento – o pequeno sozinho não tem possibilidade de acessar e manter o seu tratamento, e isso pode fazer toda a diferença para a vida do pequeno.

 

  1. É necessária: Dificuldades emocionais e comportamentais não se curam com “o tempo”, ou seja, não passam sozinhos, e tenha certeza, não será do mesmo jeito que foi com você, pai e mãe. As necessidades são diferentes porque as demandas são diferentes para cada pessoa e em cada momento social e cultural.

Logo, se o pequeno está com alguma dificuldade emocional – está sofrendo, com ansiedade elevada ou ainda alguns sintomas somáticos (relativos ao corpo, como por exemplo, ganho de peso sem explicação médica) – a Psicoterapia é um recurso fundamental.

 

  1. Psicólogo não é a mesma coisa que professor: Em algumas circunstâncias é comum as crianças demonstrarem que estão sofrendo emocionalmente através de resultados escolares não esperados (ou comportamentos diferentes do habitual no ambiente escolar). Essas situações também podem levar a criança a Psicoterapia. Mas, psicólogo não é professor de reforço, ou seja, o objetivo não será a melhora das notas no colégio. O foco é o bem-estar da criança e seu pleno desenvolvimento, o que obviamente, inclui a escolarização e socialização.

 

  1. Psicólogo e Terapeuta: Embora comumente se utilize como sinônimos não são: Psicólogos fazem terapia psicológica; Terapeuta pode fazer qualquer ordem de terapia, isto é, é um termo genérico. Podemos utilizar para Terapia Psicológica (Psicoterapia), Terapia Medicamentosa, Terapia Fonoaudiológica, etc. Logo, quando você procurar um Psicoterapeuta para seu filho você estará procurando alguém com formação específica em Psicologia.

 

Espero que a listinha tenha ajudado a entender um pouco mais sobre a Psicoterapia Infantil: é coisa séria, importante e faz muita diferença!

😉

Por que uma criança faz psicoterapia?

dedoches

Já a bastante tempo que psicólogos trabalham com crianças em psicoterapia, espaço esse que foi destinado aos adultos por excelência. Contudo, a infância sempre esteve presente, em especial porque ela era trazida por suas memórias, marcas e experiências todas as quais dizem do adulto que somos hoje.

Nesse sentido, em geral, é possível perceber que pensar em um adulto fazendo psicoterapia é algo que parece já assentado para o público em geral, contudo esse raciocínio parece não se aplicar às crianças de uma maneira tão natural. Por que uma criança precisaria de psicoterapia? Não é nessa fase da vida que somos mais felizes e, portanto, estamos bem?

Nem sempre, seria uma possível resposta, embora vaga. Ou ainda, na verdade isso não é a regra. A infância é ainda uma fase de desenvolvimento extremamente idealizada, na qual de fato, fantasia-se uma séria de aventuras repletas de felicidade incomensurável, prazeres e falta de compromissos – o sonho para muitos adultos. Contudo, não se trata disso em absoluto.

A infância é um momento muito intenso para o desenvolvimento dos sujeitos e com isso, há muito trabalho a ser feito. Cada descoberta, cada aquisição, cada momento pode ser muito extenuante, exigente e, em algumas situações, longe de remeter a um estado de felicidade transcendente. Nós, adultos, esquecemos, mas aprender a andar, por exemplo, é um desafio físico e psíquico imenso, envolve tantas variáveis emocionais tão sutis – e espontâneas – que muitas vezes passam desapercebidas a “olho nu”.  Passar usar um garfo ao invés de uma colher na refeição? Básico? Acredite, nem tanto!

Até agora, pontuei algumas questões mais específicas do desenvolvimento esperado, mas é quando essas questões encontram “barreiras” a sua franca expansão, agregando-se outras dificuldades daquele pequeno sujeito e de seu entorno, que a situação pode complicar.

Já adianto: Não há fórmula pré-determinada para indicar psicoterapia para uma criança – como não há fórmula alguma para a psicanálise (infantil ou adulta) quando pensamos nas articulações subjetivas possíveis. Contudo, penso que conseguir olhar de forma mais atenta ao que se passa com os pequenos pode ser um bom começo, buscando escapar das idealizações que se acabam por se tornar amarras, ou ainda, do receio de se cair na trágica culpabilização parental.

Acima, falei que muitas coisas passam desapercebidas a “olho nu”: é necessário relativizar nesse ponto! Na verdade, para pensarmos se nossos pequenos precisam ou não de psicoterapia, seria interessante desnudar-se de ideias pré-concebidas sobre a infância, e permitir-se perceber que não precisa ter tamanho, ou idade, para que o sofrimento se apresente de maneira importante. Acredite ou não, sofrimento não é proporcional a tamanho ou idade. Poder lembrar ou perceber isso seria um passo importante. Lógico? Acredite novamente, passa longe de ser fácil!

“Choveu na minha cama, mamãe!” O que pode ser isso?

 

Apesar do nome estranho a muitos, a Enurese é conhecida como “o xixi na cama” (depois da habitual idade de controle). Ela é definida como a emissão ativa completa e não controlada de urina, uma vez passada a idade da maturidade fisiológica – habitualmente adquirida entre os3 a 4 anos.

Em relação da razão pela qual isso ocorre, muitos fatores são citados, entretanto é possível entender que a Enurese é um sinal (sintoma) de um quadro mais complexo de sofrimento e funcionamento psíquico. Ainda assim, a literatura aponta algumas possibilidades as quais devem ser investigadas:

a)  O atraso de maturação fisiológica pode servir como ponto de fixação de um conflito afetivo de tipo retenção-expulsão.

b)   Fatores hereditários (ainda não esclarecidos suficientemente);

c)   Mecânica vesical do enurético;

d)   O sono;

e)   Fatores psicológicos.

Outro ponto que deve ser considerado nessas situações é o ambiente da criança, o qual, na verdade, pode ser de qualquer maneira com condições absolutamente variadas e pouco semelhantes entre si. Entretanto, buscando pensar sobre esse ponto especificamente, em alguns casos, os ambientes nos quais as crianças apresentam esse sintoma (Enurese), mostram-se de:

*      Carência / déficit ou superinvestimento;

*     Figuras cuidadoras obsessivas ou fóbicas que necessitam de um contexto educacional bem delimitado;

*      Resposta familiar no nível da agressividade: punições, ameaças; OU, complacência: prazer no uso das fraldas, etc.

Por isso:

É fato que a Enurese, na grande maioria dos casos ao menos, não aparece sozinha. É comum ela ser uma parte do quebra-cabeça, ou seja, um ponto a ser ligado a outro com a finalidade de compreender o que está se desenrolando com aquele sujeito.

Logo, o tratamento para esse transtorno deverá abarcar diversas variáveis (motivação do sujeito, ambiente familiar, medidas adequadas antes das crianças adormecerem, avaliação pediátrica / médica, etc.) e, levando em consideração que a Enurese possui um forte componente emocional e está ligada a um funcionamento amplo, a psicoterapia se torna indicada.

A Construção da Identidade do Jovem Psicoterapeuta (Parte II)

Texto dedicado aos colegas e alunos  da área  psi.

 

Continuando a pensar na construção do “ser psicólogo”, Zimerman (1999) aponta que há muito tempo que já não se crê na idéia de que os fenômenos psíquicos de um indivíduo estejam centrados exclusivamente nele mesmo e sim, na interação desse mesmo indivíduo com o meio e, conseqüentemente nos relacionamentos estabelecidos com os demais. Assim também ocorre dentro de um setting entre paciente e psicólogo (ou analista). Desta forma, como cita o autor, torna-se quase que unânime a afirmação de que o processo psicoterápico repousa sobre a dinâmica que há dentro do campo analítico, isto é, entre o par psicoterapeuta e paciente.

Para isso, segundo Zimerman (1999), existem pontos cruciais (“condições necessárias”) para que um psicoterapeuta (analista, segundo o texto) desenvolva de forma bem articulada o seu trabalho e constitua-se como tal. Ressaltando os pontos que parecem ser de suma importância, o primeiro a ser revisado diz respeito a formação do psicoterapeuta sendo que, ela está além da formação acadêmica e teórica necessária, ou seja, o psicoterapeuta deve estar munido de si mesmo e das possibilidades não previsíveis que cada paciente pode lhe propor dentro do setting e para isso existe a necessidade da psicoterapia pessoal e de supervisão.

O par analítico, outro ponto, traduz toda a delicadeza da relação que se dará de forma única entre aquele psicoterapeuta e o paciente, ou seja, a tonalidade de cada encontro e de todas as interações desse par.

Além das necessidades acima, existem outras como o respeito pelo paciente e seus limites, a empatia, a capacidade de ser continente, paciência, curiosidade sadia, ter claro para a importância a abrangência da identificação projetiva e da contratransferência, etc., todas essas são habilidades que devem aparecer em um psicoterapeuta e serem trabalhadas com a finalidade do seu trabalho ser suficientemente abrangente e capacitado (ZIMERMAN, 2004).

Ferro (1995) ressalta que, entre as diversas necessidades de um analista, a primeira é a de não poluir a mente de seu paciente e estar verdadeiramente disponível para ele. O autor coloca o quanto a situação interna do analista é algo fundamental no seu trabalho e, por isso mesmo, deve ser freqüentemente revisada e atualizada. Entretanto, não se pode esquecer que, segundo Ferro (1995), trata-se sempre de um par, ou seja, dois pólos e sendo assim não poder-se-ia isolar um do outro.

Diversas são as necessidades que existem para um analista, psicólogo ou psicoterapeuta e para Grolnick (1993) o “terapeuta estudante” deverá manter seu conhecimento psicanalítico mais ao fundo de sua mente para que próximo à superfície esteja a possibilidade de contato com seu paciente. O processo de “escavação” que ocorrerá dentro da análise ou da psicoterapia deve ocorrer, segundo o autor, com calma e o terapeuta deve ter claro que ele é um facilitador, não a força motriz e, dessa forma, tolerar que cometerá erros e sentirá sentimentos diversos às vezes (incluindo os negativos, como ódio, por exemplo).

Winnicott (apud Grolnick, 1993) coloca que o terapeuta bem preparado tem a possibilidade de movimento dentro dos níveis evolutivos e dos diagnósticos dos seus pacientes, ou seja, ele estaria aparelhado para lidar com pacientes que tenham sofrido profundamente. Entretanto, isso ainda não basta, o terapeuta tem que contar com uma boa capacidade de sustentar, manusear, ser criativo, ter tido algumas boas possibilidades de desenvolvimento e estudar, sendo que conforme Grolnick (1993) o fazer terapia é uma das formas mais eficientes de se alcançar alguns desses pontos.

Grolnick (1993) embasado no trabalho desenvolvido por Winnicott, cita:

… a técnica é ajustada ao nível de desenvolvimento do paciente e aos limites da compreensão do terapeuta. Quando precisam ser satisfeitas necessidades não-verbais, palavras em demasia e significados em excesso podem obstruir a compreensão. (Grolnick, 1993, p. 132)

 

O que o autor busca afirmar com a citação é a importância em evitar o erro de crer que o aspecto cognitivo da interpretação é de superior importância e que somente ele é que opera a modificação no paciente, antes ao contrário, a boa evolução do paciente em terapia (e na vida, como acrescenta o autor) se dá quando significado e sentimento estão o mais unido possível.

 

A literal construção de um psicoterapeuta já vem sendo discutida à longa data e notadamente mais aprofundada pelos estudiosos. Ironicamente, quanto mais se estuda, muitos outros pontos são avistados e exigem aprofundamento cada vez maior na formação de um jovem psicólogo. O que pode ficar razoavelmente claro é que, quando se fala em exigências não se refere simplesmente à formação acadêmica, inclui-se em igual importância a formação pessoal do psicólogo através de sua análise, da supervisão, sua prática e, por incrível que pareça, a capacidade de viver e possuir experiências pessoais.

Essa prática inicial indica ser sempre portadora de alguma ansiedade que por sua vez se torna útil na medida em que gera um movimento de busca pelo que falta. Outro ponto é o fato de que não é possível conceber que se terá um profissional pronto e amplamente acabado, logo não faz sentindo assorear-se correndo o risco de deixar vias importantes de entendimento entulhadas, ou, tomar-se de angústia pelo extenso caminho a ser trilhado no processo de formação e prática profissional.

Logo, a questão que parece muito relevante nesse momento é a possibilidade de submeter a teoria à prática e, em cima dessa última passar a construir algo que singularize o trabalho do profissional e acabe por dizer algo dele mesmo. Crê-se que isso é a busca pela identidade: procurar fazer do seu trabalho algo único e verdadeiramente seu, isto é, apropriar-se da sua prática. De fato não existem fórmulas – nem textos que dêem conta desse desafio –, existe sim um par que deverá se constituir e entre ele se dará a busca pelo tom único que marcará essa relação.

 

Referências:

Ferro, A. (1995). A técnica na psicanálise infantil: a criança e o analista da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago.

Grolnick, Simon A. (1993). Winnicott o trabalho e o brinquedo: uma leitura introdutória. Porto Alegre: Artes Médicas.

Zimerman, David. (1999). Fundamentos Psicaníliticos. Porto Alegre: Artmed.

_____________. (2004). Manual de técnica psicanalítica – uma re-visão. Porto Alegre: Artmed.

A Construção da Identidade do Jovem Psicoterapeuta: Uma breve incursão pelos escritos de Freud

A escritora gaúcha Lya Luft já disse: é preciso se achar o tom.

O tom da “nossa linguagem, da nossa arte, e – isso vale para qualquer pessoa – o tom da nossa vida. Em que tom a queremos viver? (não perguntei como somos condenados a viver.)” (2003, p.14).  Continua arrebatando com suas palavras e nos remetendo a pensar: o fato de sermos os próprios afinadores e artistas que buscam seu equilíbrio, seu tom.

Utilizando-se dessa incrível escrita de Luft (2003) a metáfora se torna simples – possivelmente, até demais – ao lançar-se a questão do jovem psicólogo que busca construir uma identidade profissional: qual é o seu tom?

Logo nos primórdios da teorização freudiana já era situado a importância do terapeuta no processo psicoterápico, sendo isso revelado em seu artigo “Sobre a Psicoterapia” (1904), no qual o autor – Freud –, cita: “doenças não são curadas pelo medicamento, mas pelo médico, ou seja, pela personalidade do médico, na medida em que através dela ele exerce uma influência psíquica.” (Freud, 1904).

Posteriormente, o autor em seu artigo “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise” começa (ou continua) a trilhar os caminhos sobre a técnica que deveria ser seguida, isto é, tenta situar as habilidades e necessidades que um terapeuta deveria ter para o exercício da psicanálise, pontos estes que serão mais tarde amplamente discutidos por diversos estudiosos respeitáveis.

Dentre as regras básicas que Freud (1912) expõem, tem-se a princípio uma das questões fundamentais dentro da psicanálise: a atenção flutuante. Ou seja, é a capacidade de escuta que o analista deve ter não privilegiando a priori qualquer elemento do discurso do paciente, o que implica em deixar seu próprio inconsciente livremente trabalhando e deixar de lado as motivações pessoais que dirigem sua atenção.

Relevante também nesse mesmo texto freudiano é a questão da “ambição terapêutica” (Freud, 1912, p.128), isto é, a busca pela produção de efeitos sobre seu paciente de maneira inadequada (por exemplo, excessivamente rápido, não respeitando o tempo que o paciente precisa), da mesma forma como coloca a questão da “ambição educativa” (Freud, 1912, p.132) em que o terapeuta busca incrementar as intervenções com incentivos à sublimação sem levar em conta o desejo ou a possibilidade de seu paciente realizar tal feito. Ambas as ambições não levam a um resultado positivo ou produtivo de fato, sendo claramente desaconselhadas por Freud (1912).

Finalmente, outro ponto a ser pensado devido a sua importância é o que Freud (1912) postula como a capacidade do terapeuta voltar seu próprio inconsciente, “como órgão receptor” (Freud, 1912, p.129), na direção do inconsciente do paciente, ou seja, o par deve estar sintonizado, um disposto a colocar-se a serviço da escuta e análise e outro da fala e processamento. Para isso, surge mais um ponto fundamental: a preparação desse terapeuta através de sua própria análise.

Todos esses pontos assinalados pelo Pai da Psicanálise são, até hoje, fundamentais na formação dos psicoterapeutas, porque tão importante quanto a técnica em si, é o profissional sentir-se habilitado para executar a tarefa única que é ser psicoterapeuta. Ainda, salienta-se que após Freud outros teóricos contribuíram de maneira substancial e singular nesse quesito, tais como Antonino Ferro, David Zimerman e Contardo Calligaris, para citar alguns exemplos atuais.

E então, já foi possível achar o seu tom?

Referência:

Freud, Sigmund. (1901-1905). Um caso de histeria Três Ensaios sobre a sexualidade e Outros trabalhos. Vol. VII. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____________. (1911-1913). O caso de Schreber Artigos sobre a Técnica e Outros trabalhos. Vol. XII. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Luft, Lya (2003) 3a ed.. Perdas & Ganhos. Rio de Janeiro: Record.

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