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Filhos

Escolher ter filhos é tão difícil quanto escolher não os ter

Escolher é a questão. Escolher é o difícil.

Optar por ter filhos é uma atitude de desprendimento titânica: não há como voltar. A vida ganha afetos, intensidades, cheiros e amores antes desconhecidos. Mescla-se com dias repletos de ansiedades pelo desconhecido, pelo cansaço e por dúvidas atrozes.

Contudo, escolheu-se fazer um ser humano. E esse caminho é um caminho necessário para a humanidade. A escolha das palavras aqui é precisa: escolha, ser humano e humanidade. Não se está falando de capacidade reprodutiva. Fala-se de humanos fazendo outros humanos com qualidades que os elevem.

Em nenhum momento será fácil. Será bom. Será ótimo. E será ruim também.

O contrário é verdadeiro.

Escolher não ter filhos também é uma opção que não trará a completude idealizada. É desprendimento? Total, mas de outra ordem: desprende-se de estigmas ou obrigações os quais parecem já estarem registrados na certidão de nascimento, especialmente esse você nasceu menina. Escolher não os ter é um caminho que se organiza em função de uma opção e de uma renúncia. A vida será pautada por afetos, com noites e dias de uma autonomia gostosa, uma calma para olhar e sentir a vida. Quem escolhe esse caminho não será poupado das dúvidas. Também é um lugar que espinha porque não há certezas, e há muitos olhares duvidosos e críticas cruéis. Afinal, não são somente os pais quem são alvos.

E talvez esse seja um ponto importante: quem consegue e pode escolher algo para seu caminho de vida pode se tornar alvo porque optou por algo, renunciando a outras tantas possibilidades. Lidou com a castração, psicanaliticamente falando.

Escolher não se trata de “se jogar” impulsivamente, ou fazer algo pautado por um afeto intenso e descarrilhado, nem sequer não o fazer pela impossível culpa que o pretenso ato gerará. Escolher é arcar com o que se opta, isso inclui o ônus e o bônus. Sempre.

Ter ou não ter filhos? Não há escolha mais fácil aqui. O difícil não é tê-los ou não, o difícil é fazer a escolha.

Passa Rápido, aproveita! Sério? com L.Slomka

Hoje vou compartilhar aqui um texto que tem tudo a ver com a proposta de escrita do BLOG. Um texto da amiga, colega e talentosa Luciane Slomka cheio de boas reflexões para fazermos! Confere:

 

Pela extinção do “Aproveita porque passa rápido”

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Não são poucas as vezes que ouvimos e até mesmo falamos às pessoas, quando o assunto é maternidade, a máxima “Aproveita! Passa tão rápido…”

Sério, isso ajuda a gente a aproveitar mais? Desde a gravidez essa frase me incomodava. “Será que eu to aproveitando?” “Mas nem sempre é assim tão legal”, “mas o que eu teria que estar fazendo diferente para realmente me sentir APROVEITANDO”?

E a máxima segue ao longo dos primeiros anos da vida da criança. Bebe de colo? “Aí que delicia, aproveita porque passa tão rápido!”, 1-2 aninhos? “Aproveita porque daqui a pouco começam a caminhar e dai acabou o sossego”. Será tão difícil a gente lembrar que aproveitar é um conceito tão subjetivo e individual quanto a própria maternidade ou paternidade? Eu não acho que ajuda ninguém essa sensação de que é preciso aproveitar porque num piscar de olhos aquela fase passa. Pelo contrário, acho que pode gerar angústia e ansiedade. Aliás, talvez esse seja o nosso maior sintoma da tal modernidade: não podemos perder nada, temos que aproveitar tudo, ter tudo, sermos sempre felizes.

Claro que nenhuma máxima torna-se máxima se não for no mínimo algo próximo da realidade. Claro que passa rápido, demais até. Mas o aproveitar é de cada um e cada um aproveita da maneira que pode. Por isso, nunca mais falei “aproveita essa fase” para ninguém.

Bom, vou parar de escrever aqui e APROVEITAR a sesta da minha filha para continuar lendo meu texto.”

Luciane Slomka

Quer dar mais uma espiadinha em textos que falam sobre “filhos” aqui no Blog? Clica nesses links:

Filhos: melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-lo?

Mães Neuróticas, Filhos Nervosos

Os insights de Armandinho: Filho é Investimento ou Despesa?

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(Fonte: A tirinha foi compartilhada da página: https://www.facebook.com/tirasarmandinho/ )

 

Não possuo sombra de resposta para a questão colocada como título do Post de hoje: Filho é Investimento ou Despesa? O personagem da tirinha, Armandinho, sempre me faz rir e na sequência, refletir um pouco. Por isso realmente adoro o Armandinho.

E realmente, pensando na lógica do Investimento, não seria essa a pergunta mesmo: E qual retorno você espera disso tudo? Essa questão não é simples, muito menos prazerosa de ser pensada, uma vez que raramente se escuta pais e mães falarem sobre o que querem de seus filhos como retorno por todo o investimento feito, às vezes da vida toda desse homem ou dessa mulher.

Se entrarmos em uma discussão sobre os componentes narcisistas que levam a ter um filho e fazer dele seu investimento pessoal – como é absolutamente comum na dinâmica social atual – certamente muitos argumentos e explicações emergiriam. Mas, não iremos enveredar por esse caminho. Não nesse momento.

O que queria mesmo saber é: qual a sua resposta para essa pergunta? E não se apresse em responder intempestivamente: “Não espero nada!”, porque essa resposta é só para você mesmo, ninguém ficará sabendo.

E eu volto a pergunta: Cá entre você e você mesmo: Nada mesmo?

Filhos: melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-lo?

Já dizia o poeta:

“Filhos… Filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?” (Vinícuis de Moraes)

 

 Embora ninguém possa desautorizar as palavras eternizadas do poeta, e muitos de nós concordemos com elas, já parece não ser consenso a necessidade aparentemente inerente do ser humano em ter filhos. Ainda, parece que a “necessidade” implícita na poesia também já não vigora mais com dominância suficiente para não ser ao menos questionada.

 

No jornal Zero Hora desse domingo (20 de outubro de 2013) em uma extensa reportagem mulheres, em sua maioria, mencionaram no texto seu não desejo pela maternidade e o que as levaram a esse posicionamento, aparentemente tão avesso ao que se espera de mulheres e casais maduros (em vários sentidos). Os argumentos são diversos, assim como as citações de estudos sobre a razão pela qual não ter filhos ou tê-los seria importante, bom ou ruim. O fato, aparente ao menos, é que esses sujeitos que optam por uma vida sem prole cresce e demanda mais espaço para essa nova forma de se constituir como família ou como forma de desejo autorizada socialmente.

 

Uma das colocações me chama especial atenção, referindo-me a um depoimento de uma mulher que optou por não ter filhos em sua relação, disse ela, mais ou menos nessas palavras: “Não há vazio a ser preenchido.” Essa frase me despertou atenção não somente por ser direcionada a ter ou não filhos, e o destino a que muitos desses filhos parecem destinados nas suas histórias familiares: sanar o vazio de existências incompletas. Chama-me a atenção de forma ampla: como nós, como sujeitos e sociedade, depositamos em um outro nossas expectativas de completar as nossas vidas, as quais, possivelmente, inadvertidamente, não conseguimos por nós mesmos. Isso vale para filhos, maridos, esposas, parceiros, amigos, amigas, parentes.

 

Ao contrário de uma postura narcísica, na qual através de um egocentrismo tortuoso, o sujeito se basta, pensei na perspectiva do sujeito não prescindir do outro necessariamente, mas não utiliza-los para tamponar buracos cavados somente a duas mãos, na maior parte dos casos. Não se trata de preencher vazios, trata-se de abrir novos espaços. Quando se quer colocar alguém em algum lugar vazio, é porque já havia espaço predestinado. Se há esse espaço, há uma configuração à espera. Com ela a expectativa inerente e a frustração logo adiante. Preencher vazios é como oferecer o já usado, o que sobrou, o já instalado, o lugar empoeirado. Construir espaços me parece diferente, mais próximo do que os sujeitos podem ser uns em relação aos outros, mais genuíno, onde até a poeira é diferente: porque ela surge da ação, não do vazio.

Quando se tem filhos, todos os dias, são dias úteis

Certo dia ouvi o seguinte comentário: “Quando se tem filhos, todos os dias são dias úteis!”. Essa frase, proferida por um pai em tom de desabafo, referia-se a um contexto no qual esse homem comentava que suas horas de sono diminuíram significativamente, finais de semana a rotina é muito parecida com todos os demais dias da semana e as responsabilidades também são as mesmas, ou seja, nessa relação – assim como em muitas outras, mas especialmente nessa – não dá para dar “dar um tempo” ou o famoso sétimo dia de descanso.

Isso e uma recente reportagem de uma revista conhecida, cuja capa trás o questionamento sobre a compatibilidade de ser feliz e ter filhos, fez-me pensar no quanto, possivelmente, esses homens e mulheres não conseguem apreender mais realisticamente o que é o processo de parentalidade e, com isso, todas as implicações que esse novo papel possui em si.

É recorrente escrevermos e falarmos sobre as dificuldades que as crianças passam em seus contextos familiares, e muito pouco, detemo-nos a refletir sobre as dificuldades dos adultos frente a essa nova função – porque a cada filho, primogênito ou não, novos espaços psíquicos se inauguram. Penso que quando nascem os filhos, nascem os pais, e esse nascer implica em toda uma transformação que acontece concomitante com o desenvolvimento dos seus pequenos rebentos. Nascer como pai e como mãe pode ser uma experiência intensa e complexa e isso começa a se tornar evidente quando as dificuldades que começam a emergir quando testemunhamos esses momentos de desabafo, os quais, muito mascarados e pouco discutidos, podem gerar – e muitas vezes, geram – olhares repreensivos sobre esses pais cansados e a partir desse olhar, culpabilizado por não sentir-se feliz integralmente com a experiência de ser pai ou ser mãe.

Factualmente, cá entre nós, não existem formas de se preparar para a experiência de parentalidade. Entretanto, quando se nasce pai e mãe, viver essa experiência emocional de uma maneira mais plena é possível e dentro disso, pensar abertamente sobre as dificuldades e as limitações afetivas e de disposição é plenamente cabível e saudável, até mesmo porque o ditado “padecer no paraíso” não deve ser mais o suficiente. Esse “paraíso” deve conseguir abarcar o gozo das funções parentais e o tal padecimento deveria ser igualmente integrado à experiência. Ou seja, as características do extremo ao paraíso, o inferno, deveriam poder conviver sem culpa dentro desses pais.

Dessa forma, talvez não devêssemos idealizar o paraíso, nem tampouco fugir do inferno, talvez a medida seja deixar os pés – e os afetos – no meio, em terra, por exemplo.

Um assunto a ser retomado: quais são os limites? (Jornal do Almoço do dia 10 de outubro)

Essa semana – na segunda-feira (10 de outubro) estive no Jornal do Almoço em um quadro que busca responder dúvidas dos telespectadores. O tema em questão era Educação Infantil e como lidar com as crianças hoje.

Duas coisas me chamaram a atenção de maneira mais intensa:

A primeira é uma constatação em relação ao fato dos pais se encontram ansiosos e inseguros com a sua posição de educadores. E a segunda, é referente à velha questão: fazer uso de força física com crianças ou não (bater ou não?).

Em relação a primeira constatação,  é interessante pensar que na mesma proporção em que os pais se questionam e assustam-se com o fato dos filhos “não terem limites” , eles mesmos parecem estar perdidos com o que podem fazer ou não na educação dos seus filhos, inseguros com relação ao que estão “autorizados”, ou seja, parecem estar absolutamente perdidos com seus próprios limites como pais e como sujeitos. Onde acaba a função dos pais? Ou melhor, onde ela deveria começar?

No que diz respeito à questão que se arrasta para nós, se é válido bater em uma criança, parece-me que ela está intimamente articulada com a constatação anterior. Quando pensamos nessa notável dificuldade dos pais com seus papéis – e o mais relevante nesse caso: eles se sentirem à vontade com seus papéis – o uso da força física com as crianças parece ainda ser um recurso útil e lógico, na medida em que a diferença física é mais concreta e, assim, pode ser exercida com relativa “tranquilidade” visto ainda pairar certa aprovação cultural ao castigo físico.

Entretanto, quando passamos para um plano de idéias, de conceitos e de diferença de papéis a situação fica obscura, pois os pais parecem estar sentindo que suas posições dentro das famílias estão fragilizadas e postas em dúvida. Logo, esses sentimentos de insegurança alcançam suas relações com os filhos e com a sociedade através de uma questão latente: qual o meu limite como pai?

Que fique claro: é ótimo podermos pensar sobre novas formas de educar e transmitir conhecimento e afeto para os pequenos, contudo, a impressão que muitas vezes fica é que, o que se discute não é nada novo, ao contrário, é relativo a algo absolutamente tradicional: ser mãe e ser pai.

 

Mães Neuróticas, Filhos Nervosos

 

Você já viu o filme de Woody Allen “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”?

 

Pois foi justamente pensando nesse título que pensei no caso das mães e dos seus filhos.

 

Primeiramente, é necessário clarificar que o título de neurótica é utilizado em um sentindo muito mais popular do que é utilizado no meio acadêmico ou científico. Entretanto, cabe também dizer que quando falamos em mães neuróticas, fazemos referência a mães que apresentam muita dificuldade em conectar-se efetivamente com seus bebês e, dessa forma, impõem a eles seu ritmo, suas expectativas e, porque não, suas neuroses, impossibilitando um espaço de espontaneidade e criatividade que poderia emergir dessa relação.

 

Notadamente, mães de primogênitos são claramente mais ansiosas e, com isso, seus bebês parecem responder a esse sentimento demonstrando também sinais de ansiedade, os quais podem ser manifestados de várias maneiras, como dificuldades na hora de ir dormir e durante o sono, com a alimentação, dentre outros.

 

O que podemos generalizar com tranqüilidade é que, as mães têm uma relação estreita com seu bebê e isso, obviamente, não é novidade alguma. Entretanto, isso é válido tanto para coisas boas da relação, como para as que não são muito bem-vindas. A dificuldade para lidar com essas últimas é conseguir perceber isso devido ao grau de aproximação que essa relação demanda. Então, às vezes, buscar certo distanciamento crítico já é suficiente para checar se as coisas vão bem nessa relação tão importante e fundamental do ponto de vista da saúde mental desse bebê.

 

Os filhos, principalmente os bebês, são absolutamente sensíveis ao que suas mães querem deles, desejam ou sentem.

 

É importante ter clareza que não se tratar de um grau de perfeição idealista, de forma alguma isso seria mais apropriado dos que os erros espontâneos e afetivos; trata-se da compreensão profunda da conexão que existe entre o estado afetivo da mãe com o bebê.

 

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