É inevitável para mim, desde o convite para ser paraninfa dessa turma, pensar frequentemente na questão: O que mais podemos, posso eu, dizer para essa turma que hoje concretiza um sonho se tornando psicólogos e psicólogas?
O que ainda não foi dito?
Foi então, que em um de nossos encontros tive meu insight, mais precisamente numa aula da disciplina de Intervenção com Crianças e Adolescente, quando alguns de vocês apresentavam seus trabalhos finais da disciplina, na qual me dei por conta que não precisava falar necessariamente de uma novidade hoje, mas sim, falar de algo que constante se renova em todo o curso do nosso desenvolvimento: Para crescer é preciso e necessário dizer adeus!
Irei fazer uma analogia entre a formação e o desenvolvimento de uma criança.Afinal vocês sabem que ministro essa disciplina também!
A universidade gesta um curso, cuida, alimenta, compõem, faz todo o pré-natal para esperar seus rebentos: vocês nascem, bebês! Na mesma proporção que há toda uma potencialidade para crescer e aprender – e sabemos que a mais incrível condição de aprender está nos recém-nascidos –, há o medo do desconhecido, e a pergunta inevitável se faz: Que vida é essa que me aguarda nesse mundo?
Como bebês, repletos de recursos e tempo, querem e precisam crescer.
Crescemos! Vocês cresceram!
Para tanto, abrimos mão constantemente de coisas que nos são muito preciosas, muito queridas, mas que já não podem, nem precisam ser mantidas: Abrimos mão da segurança do colo materno em prol de andar com as próprias pernas, abrimos mão do que é conhecido, em prol de terras novas e cheias de pessoas que se tornarão como uma nova família para nós; abrimos mão de um corpo infantil e de onipotências infantis, para ganhar tanto mais, inclusive a maturidade para suportar a dúvida constante que é marcadamente característica da vida de um adulto.
Poder ir frente é tolerar deixar para trás algo. É tempo de delicadeza, e concomitantemente, de firmeza.
Hoje vocês correm! Hoje vocês estão crescidos! Mais precisamente, vocês ESTÃO crescendo!
Não mais bebês, nem mais adolescentes – lembrando daquela crise bem comum no meio do curso, onde as demandas parecem impossíveis de serem vencidas – hoje são nossos / nossas colegas agora. Gente grande!
Paramos de perder então?
Perder é necessário. Ao se perder não se deixa de ganhar, é escolha. Isso que é uma aparente contradição, é lindo! E cheio de possibilidades!
A Psicologia foi escolhida por vocês – e cada um de vocês certamente escolheu essa profissão por uma razão tão particular que não poderia ser generalizada – e para essa escolha ter sido feita, muitas outras possibilidades foram deixadas de lado: E será que isso foi ruim? Nesse momento, aqui com vocês, olhando vocês, os olhos, os sorrisos, só posso crer que foi uma acertada escolha!
Durante todo esse percurso muitos momentos se tornaram marcos, marcos do crescimento de cada um de vocês, foi necessário escolher o tempo todo: estudar ou descansar? Quais disciplinas em quais horários? Qual estágio fazer e onde fazer? Tcc agora ou no próximo semestre? Quem escolher para me orientar? Estar em casa, ou, estar na universidade? Dormir ou levantar?
Vocês são testemunhas uns dos outros o quanto todas essas escolhas e simultâneas renúncias compuseram cada um de vocês de maneira única e fizeram da jornada de se tornarem psicólogos e psicólogas um desejo possível, e que foi alcançado.
Queremos crescer! Desde que nascemos!
Quando crescemos, paramos de perder? Não, queridos queridas afilhados e afilhadas. E volto a dizer: isso ainda assim é bom!
Inocentemente podemos pensar que quando se cresce, vira gente grande, dizer adeus fica mais fácil, mas não fica. Nunca é. Mas, é tão importante e tão potente: dizer adeus hoje é só um outro começo; um outro momento no qual tantas novidades e possibilidades se apresentarão que se torna irresistível crescer!
Hoje estamos aqui juntos para comemorar um grande crescimento e vocês me deram a honra de apadrinha-los.
Dessa maneira, desejo que como todo adulto, continuem crescendo.
Continuem se questionando! Inquietando-se! Ganhamos muita coisa ao mesmo tempo em que renunciamos outras. Sejam esses colegas que nós todos aqui, como universidade, gestamos e apostamos: pessoas éticas, cuidadosas, afetivas, comprometidas e em permanente movimento!
Então, nesse momento, adeus acadêmicos de Psicologia, e sejam muito bem vindos meus e minhas colegas!
Bem vindos a um novo caminho!