Já faz algum tempo que um documentário chamado “A Invenção da Infância” foi lançado e tinha como uma das perspectivas questionar se infância e ser criança eram conceitos que estavam entrelaçados na prática.
É esperado que você creia que “ser criança” e “infância” sejam sinônimos. Mas não o são.
A fase em que o sujeito é considerado criança diz respeito a um momento específico do desenvolvimento psíquico, físico e social. Já a infância é um período que foi “descoberto” em um dado momento histórico e atribuído a esse momento em que o sujeito é criança. O interessante é que, em alguns momentos, em algumas vidas, esses momentos não coincidem e ser criança não garante ter uma infância.
Na pós-modernidade a infância é um momento exaltado e extremamente protegido, talvez porque nessas crianças se depositem a esperança de um futuro melhor. Contudo, esses pequenos muitas vezes trabalham – como é mostrado no filme – e são absorvidos por diversas demandas as quais, seriam tipicamente referentes à fase adulta, e assim, ser criança deixa de garantir a infância, pois seu ingresso no mundo adulto já foi realizado – pelo menos em alguns pontos importantes.
Agendas cheias e trabalhos intensos e perigosos podem ser os violões evidentes desse “atalho” entre a infância e a adultez, contudo é preciso pensar num sentido mais macro, num sentido mais social e contextualizado, compreendendo em profundidade a razão pelas quais essa realidade é entendida como aceitável e até mesmo incentivada. A criança, nessa confusão de espaço social e valor, acaba sendo vista como algo que pode ser consumido e as realidades acabam de diferentes mundos (adulto e infância) acabam ficando muito parecidos, e isso, gera confusão não só nas crianças, mas nos próprios adultos.
Será que acabaremos roubando a infância das crianças?
Levando em consideração que brincar é algo fundamental para as crianças, você já se perguntou se:
* Seu filho brinca?
* E com que ele brinca?
* Será que existe diferença entre brinquedos com novas tecnologias? Brinquedos tradicionais? Pedagógicos?
Há quem acredite que uma maneira eficaz e adequada de educar crianças chama-se “terapia das Havaianas”, ou seja, uma boa chinelada e as coisas se resolvem. Contudo, não entendo que as coisas andem bem por aí, se pensarmos na conduta do adulto, principalmente.
Parece-me que quando a fala se torna impossível ou ainda, quando se mostra insuficiente é comum que se passe ao ato. Isso poderia ser exemplificado em várias situações, entretanto uma das mais comuns e igualmente uma das mais controversas é sobre o uso da força – palmadas, etc. – na “educação” das crianças.
O adulto em franca vantagem física pode não ter clareza da brutalidade que sua ação supostamente educativa pode ter para uma criança. Sua palavra falha diante de um ser pequeno e, algumas vezes, desafiador; na falta de um recurso, usa-se outro: a força física.
Imaginar a cena é o suficiente para muitos entenderem a desproporção que se apresenta. Quando me refiro a desproporção é em vários sentidos: de tamanho, de força e, talvez o mais importante, de maturidade.
O interessante é pensar como um ser pequeno pode simplesmente privar os pais da capacidade de pensar e buscar outra solução para a questão na qual estão envolvidos.
O que certamente será um aprendizado quando pensamos na possibilidade de bater em uma criança, será: aprende-se que quem grita mais alto, é ouvido; que quem bate mais forte, é “respeitado”; que quem deveria ser mais maduro por ser mais experiente e portanto, mais lúcido, nem sempre conseguirá entender e ensinar isso.