Certo dia, numa livraria da cidade, uma senhora segurava um bebê e falava com ele, brincava com ele, entendiam-se. Ela tinha uma determinada cor de pele e ele outra, simplesmente distintas. Uma outra criança, cuja cor da pele era próxima da senhora a qual segurava o bebê, aproxima-se da dupla e pergunta simpática para ela: “_É teu?” A senhora ri desconcertada e responde que não, que ela somente cuidava dele.
Fiquei pensando na cena e em uma pergunta que me foi feita um dia em sala de aula sobre como se constroem os preconceitos nas crianças e para mim fica muito claro que ele, o preconceito, de fato, é construído por outros sujeitos já amadurecidos em uma realidade de estigmas, ignorância e, preconceitos.
Para uma pequena que vê uma senhora com um bebê no colo nada mais natural do que ela seja a sua mãe; para a senhora, cuja vida já agrega diversas experiências – boas e ruins – a pergunta da menina parece ter soado quase engraçada, se não fosse sua mais autentica espontaneidade. Para mim, que observei a cena, pareceu-me a expressão da mais autêntica possibilidade de uma geração futura mais livre dessas amarras horríveis, as quais ainda tem predeterminado que algumas características possam dizer sozinhas, quais espaços sociais os sujeitos vão ocupar.
Diante disso, questiono-me em quem estão os preconceitos? Em quem vivencia eles? Em que os enxerga? Em quem os ouve? Ou, em quem os ignora? Possivelmente estejam em quase todos, bem menos na menina que simplesmente entende que o fato de cuidar, falar e brincar carinhosamente com um bebê torne essa pessoa a “mãe” dele, mais do que qualquer outra condição física ou social.