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Meu Pai

By agosto 18, 2020Psicologia

Já escrevi textos mais pessoalizados aqui no blog, os quais falavam de mim de forma direta ou indireta, mas que continham pontas das minhas histórias, das minhas admirações ou, até mesmo, opiniões. Contudo, hoje, creio que será meu texto mais pessoal até o momento. Quero dedicar o que escreverei a uma figura muito significativa para mim: meu pai. A primeira coisa, e que faz todo sentido nisso que registro aqui, é o quanto a questão de escrever esteve presente entre nós desde bastante cedo. Eu era pequena e escrevia o que eu achava que eram poemas, meu pai lia uns contos para nós de um livro que guardo comigo até hoje, e inventava histórias da Carmela, Carmelinda e da Carmelosa – as quais ouvíamos atentas, até mesmo porque elas sempre acabavam com um ensinamento que se aplicava, não por coincidência, à algum evento do dia. Há uma marca anterior ainda: meu nome: Bibiana. Quem é apreciador da obra de Érico Veríssimo sabe que meu nome vem da literatura desse gaúcho. Os livros estão em mim, ao menos os seis que compõem o Tempo e o Vento.

Sobre meu pai:

Hoje (hoje mesmo, no dia em que escrevo esse texto) ele não está tão disponível quanto costuma ser, ele está hospitalizado e lutando para se recuperar. Mas, pensando  retrospectivamente, fiquei pensando muito durante esses últimos dias, o quanto ele disponibilizou a vida dele para nós, os três filhos, construirmos as nossas: fiquei imaginando o quanto ele trabalhou, o quanto ele abriu mão dos seus desejos e sonhos, o quanto fomos injustos com ele em vários momentos em que cobramos sua presença, e ele estava, mas não como queríamos naquele momento.

Não deve ser fácil a tarefa parental: parece ser um abrir mão ou um adiamento de suas aspirações simplesmente por ter fé em seus filhos. Fé mesmo, porque, às vezes, somos muito falhos em atos que comprovam que seremos felizes ou teremos sucessos nas nossas empreitadas. É difícil ser feliz. Por si só, o projeto de felicidade dos pais para nós já é bastante complexo: o que está implicado no ato de ser feliz? E se eu não conseguir? E se eu for feliz de uma forma diferente do que se espera como felicidade? E se você ficar doente e eu não conseguir me sentir feliz?

Essa noite sonhei o seguinte:

Eu dormia no quarto dos meus pais e eles, meu pai e minha mãe, dormiam no meu quarto e da minha irmã, isso na casa na qual passamos a maior parte de nossas vidas. Acordo, isso durante o sonho, assustada e de sobressalto porque ouvi meu pai chamar: “Biba!” (meu apelido na família). Pulo da cama, chego até o quarto deles e pergunto se ele me chamou. Ele sorri, de bom humor, e responde que não. No sonho, eu sabia que ele já estava em recuperação naquele momento.

Psicanálise a parte, ou minha analista a parte, vou eu mesma interpretar e dividir o que pensei quando lembrei do sonho: os quartos se inverteram, as preocupações se inverteram, a fé na felicidade se inverteu. Se antes, quando pequena, tantas e tantas vezes fui eu quem o chamei do meu quarto porque não me sentia bem durante a noite, no sonho era ele quem me chamava, ou que eu escutei chamar no sonho do sonho. Não importa. Hoje somos nós com vontade de coloca-lo no colo e somos nós quem depositamos toda nossa fé que há de haver mais felicidade adiante.

Esse é nosso projeto. E ele é conjunto: assim fica mais leve, mais fácil e repleto de sentido.

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