De todas as heranças que temo, a que mais temo em receber – e o mais trágico, aceitar! – é a sina pela infelicidade. Uma vida na qual na qual fica-se tentando convencer-se de que é possível, de que é merecedor, que a vida é uma possibilidade real. Uma busca que não cessa, uma busca que chega a lugar algum. E quando, descuidadamente, avista-se alguma saída, o traiçoeiro e familiar sorri: armaduras são levantadas, o corpo sucumbe, a esperança é subjugada novamente.
E quando criança, essa herança vai garganta abaixo, quando adultos podemos esquecer que cabe a nós aceitar ou não o duvidoso presente.
Algumas vezes, não incomum, ela já faz parte da carne, está aderida aos ossos, porque não houve a mínima chance de escape – as garras entraram e se fincaram antes mesmo que nos déssemos conta que eramos gente. Tarde demais! A sina da infelicidade está inscrita, está posta na alma, está dentro do olho, de tal forma que toda vez na qual nos encaramos, não é possível esquecer: ela está tão dentro que somos nós.
Seguiremos passando a herança adiante?
Há ainda como recusar? Recusar a ser quem se pode ser? Corta-se a própria carne?
Por onde andamos e coletamos coisas para nossas próprias sinas?
Serei eu águia ou camaleão?