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Psicologia

Porquê estudar Winnicott

Donald Winnicott foi um pediatra inglês profundamente envolvido e afetado pelo atendimento de crianças e de seus pais. Foi em 1927 que começa sua formação analítica e em 1935 habilita-se como analista infantil. Nas palavras de Claire, sua esposa, Winnicott se esforçava para tornar a consulta significativa para a criança, brincava e vivia “armado” de papel para fazer aviões e desenhar.

Mas, ao contrário do que pode se pensar precipitadamente, a teoria proposta por Winnicott não é exclusividade do tratamento de crianças e adolescentes: há um infantil mal-acolhido (não integrado, desintegrado, falseado) em todos e é nesse ponto que, em geral, reside a dificuldade dos adultos. E justamente, esse é o primeiro ponto que torna o estudo desse psicanalista indispensável (citarei somente 3 nesse texto): uma técnica que olha para o sujeito dentro de suas potencialidades, para sua idade emocional.

Um segundo ponto no quesito por qual razão estudar Winnicott, ainda é a técnica. Entretanto aqui, refiro-me ao tratamento de sujeitos que não são tipicamente neuróticos como os estudados por Sigmund Freud. Em uma obra linda, sensível e robusta teoricamente, podemos entender exatamente o que isso significa na prática clínica cotidiana, é ela: Moura, Luiza. Ferenczi e Winnicott: Análise de adultos na língua da infância. Terra de Areia (RS): Triângulo Graf.Ed., 2018.

No livro referido acima, Luiza Moura faz um percorrido entre os dois autores que ilustram o título, tecendo uma interlocução rica e que instrumentaliza tecnicamente a escuta na clínica de adultos. Particularmente, chamo a atenção para o capítulo 4, Inovações técnicas e atitude profissional (p.95).

Um terceiro ponto é consenso, ousaria dizer: Winnicott era um analista do cotidiano. Ele se importava verdadeiramente em ser compreendido pelas pessoas que estavam ao seu entorno, fossem eles analistas do seu círculo, fossem pais humildes atendidos em um hospital. Sua linguagem era feita para se comunicar. E isso faz toda diferença quando o estudamos. Não confunda essa afirmativa com pouca complexidade ou dificuldade, é um aviso que devo registrar. As ideias que o autor aqui em questão apresenta requerem bastante estudo e tempo para processamento interno delas.

Winnicott é um autor dos dias atuais: a escuta viva é requisito fundamental para o trabalho com pessoas e se houve alguém que entendeu isso e foi capaz de transmitir essa postura para as próximas gerações de psicólogos, psicanalistas e demais estudiosos, foi Donald.

Se ficou com alguma dúvida ou interesse, entre em contato pelo meu e-mail. Será uma satisfação indicar alguma leitura sobre o autor.

 

Grupo de Estudos: De Donald a Winnicott Ideias Introdutórias

 

Winni

O objetivo desse grupo se dá pelo desejo e pela necessidade de estudar as ideias e obras de um grande psicanalista, que em termos técnicos atualmente é de indiscutível relevância. No decorrer do grupo, o qual é aberto e não tem data de término pré-determinada, as ideias principais serão apresentadas, estudadas e discutidas.

 

Serão utilizadas obras clássicas, intercalando com autores contemporâneos os quais fazem uma construção didática da importância, evolução dos conceitos e questões técnicas. Abaixo algumas informações adicionais e a nas mídias sociais.

 

DATA: Terças-feiras, 13hs (1 hora de duração)

Início Previsto:  22 de Outubro/2019

Local: Itororó, 211, sala 402 Menino Deus / POA

Investimento:Estudantes – R$ 80,00 / Profissionais – R$ 120,00

CONTATO para Dúvidas e Inscrições: bmalgarim@yahoo.com.br / (51) 982095051

Mínimo de componentes: 3

Encontro Brasileiro sobre o Pensamento de Winnicott 2019: Sobre o AMOR

Está chegando o dia do XIV Encontro Brasileiro sobre o Pensamento de Winnicott o qual ocorrerá em Campo Grande e o tema será sobre o Amor: todos os tipos de amor, como ele se descobre, se constitui ou se perde no curso do desenvolvimento.

48372951_1986433451425078_5707982901837037568_oAs mesas serão bastante variadas, mas certamente as trocas serão imperdíveis – como todos os encontros têm sido. O programa está disponível no site https://gepwms.com.br/programacao/ , pode conferir no link.

Minha mesa versará sobre O Mito do Amor Materno, trabalho no qual tento apontar algumas questões sobre a construção dessa lógica, do amor, a relação do cuidado e como a expressão do excesso pode ser vivido como “desamor”.

Em outro momento vou trazer alguns pontos do trabalho aqui no BLOG.

Nos encontraremos em Campo Grande!

 

O Gesto Espontâneo: Lançamento do Livro

70504772_2426795087576947_983848472027332608_oEm 2018 ocorreu o XIII Encontro Brasileiro sobre o Pensamento de D. Winnicott, um psicanalista e estudioso o qual nos encanta diariamente, pois podemos sentir e viver seus conceitos na prática clínica com nossos pacientes.

A partir desse encontro cheio de inspiração e conhecimento, nasce o livro Gesto Espontâneo organizado por colegas igualmente comprometidas com a ideia de agregar afetivamente nossos conhecimentos. O livro possui 90 trabalhos dos mais diversos autores e lugares do Brasil, todos com o enfoque winnicottiano. Tenho a honra de compor esse trabalho com um capítulo chamado “Resiliência, Holding e Mãe Suficientemente Boa: Em nome de um viver criativo”.

O livro já está em pré-venda e será oficialmente lançado no Encontro Brasileiro em Campo Grande nesse ano (2019) e para adquirir ele é só buscar no meu Instagram (ou nos dos colegas e no do Espaço Transicional Winnicott de Fortaleza, grupo responsável pelo livro), no qual há informações a respeito (bibiana.psico).

Um pedacinho do meu capítulo abaixo, para ilustrar:

“A resiliência faz uma interação importante com a criatividade uma vez que não é uma adaptação às dificuldades, ao contrário, ela é uma potencialidade que o sujeito guarda em si de construção de um sentido muito particular a uma determinada vivência. Cyrulnik (2005) nos apontou isso, ele acredita que a criatividade era uma passarela de resiliência entre o devaneio que abranda e um imaginário a ser edificado. Para enfrentar ou elaborar uma vivência traumática é sabido que existe um equilíbrio entre vários fatores – dentre eles, a criatividade – e que cada sujeito fará uso de recursos diferenciados, com combinações distintas também, ou seja, não há uma ou duas formas de reagira a um trauma, mas sim infinitas. Nessa infinidade de possibilidades, entra também a condição de ser resiliente.” (MALGARIM, 2019)

Vida longa ao fazer criativo, ético e afetivo!

 

 

Oficina de Escrita: O desafio do papel

Após anos de aperfeiçoamento na área da Psicologia e da Psicanálise, após muitas escritas – pesquisa, artigos científicos, dissertação, tese, trabalhos e blog, e ainda construindo esse caminho no qual a escrita está profundamente imbricada – com o incentivo da colega e psicanalista Ana Claudia Meira, decidi dar início às oficinas de escrita.

Acreditar no poder da escrita é fazer ela sair de dentro de si e ganhar vida nos olhos de outras pessoas – o texto só se faz vivo quando escrito e LIDO.

A Oficina de Escrita tem a prop67206967_2341147469287006_6844779754889936896_oosta de oferecer um espaço para a aproximação e aperfeiçoamento da escrita científica – uma escrita que se destina a comunicar achados, reflexões, contradições ou inovações da teoria e da técnica na área da psicologia. A partir de leituras indicadas, discussão e exercícios práticos, a oficina se organiza em 4 encontros por módulo, sendo no total de 3 módulos.

Os módulos são independentes, ou seja, você podes se inscrever para qualquer um dos três. Entretanto, eles foram pensados como um processo de evolução da escrita:

Módulo I : O início da escrita (imagem acima)

Módulo II: A escrita do caso ou da escuta (em breve divulgação no Instagram)

Módulo III: Fundamentação Teórica e Finalização da escrita (em breve divulgação no Instagram)

Dia e Horário: Segunda-feira, das 19 às 20:30

Endereço: R. Itororó, 21, sl.402 – Menino Deus/POA

Vagas: 4 (São poucas porque o trabalho é bem singular!)

Contato e Inscrições: bmalgarim@yahoo.com.br / (51) 982095051.

Instagram @bibiana.psico

Dúvidas sobre meu currículo? Dá um pulinho no Lattes e confere (tem o link aqui no blog também!)

 

 

 

O que captura não tem nome (Devaneio das palavras)

Quando saiu de casa logo pela manhã estava decidido: não voltaria nunca mais aquele lugar.

Tudo que lhe vinha a mente referente a sua casa lhe repugnava: o cheiro úmido dos cômodos; a luz sempre opaca demais para seu gosto; os ruídos das portas e das panelas. Sem falar de Cora: com seus olhos subitamente mortos, mãos frias e andar arrastado.

Não voltaria.

Demorara tempo demais para conseguir sair e finalmente sentir o ar circular por seu corpo; olhava para suas mãos enquanto caminhava apressado até o carro: estou velho!

Nem as mãos, nem o rosto, nem seu raciocínio eram mais os mesmos. Só o que conseguia se questionar com relativa clareza era: onde estive esses anos todos?

Abobalhado consigo, olhou no retrovisor e sem consciência percebeu os olhos mortos de Cora no espelho como a olhar para dentro dele.

Voltaria.

Texto escrito em 2010 e retomado hoje, 28 de abril de 2019.

Bernardos

 

Hoje foi um dia importante, ou, marcante: as pessoas incumbidas de cuidar de Bernardo foram acusadas e defendidas no curso da semana e finalmente, a sentença foi divulgada. Condenados. Todos os 4 envolvidos. Condenados pelo assassinato de Bernardo. É interessante – e divido isso com vocês – que, mesmo diante do que se pode chamar de justiça (considerando tudo o que foi apresentado nesse julgamento, além das minhas impressões pessoais, claro) não há nenhum tipo de felicidade ou comemoração possível para esse momento.

Não há espaço para felicidade quando a violência impera.

E a violência imperou, por muitos anos, na vida desse Bernardo: violências diversas, com caras diversas, sutilezas e atos mortais. Bernardo, infelizmente, experimentou diversas facetas da violência.

Só consigo pensar, nesse momento, que o caso de Bernardo encarna em si tantas outras crianças que sofrem cotidianamente violências impensáveis. Tantos miúdos e miúdas que não terão, como Bernardo, nenhuma chance. Há ainda os que talvez tenham um pouco mais de “sorte” (dá para falar em sorte? Não tenho certeza!): vítimas de violências – psicológica, física, sexual – ainda terão suas vidas preservadas e, quem sabe, alguém que efetivamente possa produzir marcas de cuidado na sua experiência ainda infantil.

Quantos Bernardos temos por aí diariamente?

Quanta justiça precisaria ser feita, sem que nos sentimos minimamente felizes, uma vez que uma criança foi brutalmente assassinada e não há retorno nisso?

Atendimento Instantâneo e Olhos de Dúvida

Entramos em um pequeno café na praia, aqueles que fazem menção a um estilo francês, convidativo e eu estava ansiosa por sentar lá e tomar um cafezinho com qualquer um dos doces lindos expostos na cafeteria. Não sei se você reparou, escrevi acima “entramos”, ou seja, eu, meu marido e meu filho, de dois anos – um fofo, risonho, querido, mas uma criança de 2 anos.
Nunca fomos atendidos tão rapidamente!
Nada de mau com o atendimento, contudo eu sentia os olhares tocando a minha pele (e a do meu filho) enquanto passávamos buscando onde sentar. E talvez (muito provavelmente) porque estávamos com um pequeno (barulhento e curioso). Você sente os olhos cravados em você, ainda que alguns deles tentem ser generosos, forçando-se em outra direção ou com uma disfarçada displicência.
Quase como se tivessem ligado algo em mim, dei-me por conta o que é um casal com uma criança pequena em um lugar que não é típico para o público infantil (e vejam bem, fomos muito bem atendidos): os olhos se voltam com uma mistura de carinho, atenção e dúvida. Qual dúvida? Algumas em verdade: eles vão demorar? Como essa criança vai se comportar aqui? Por que essa criança “fala” tão alto ou não para sentadinha?
Pedi meu café. Pedi meu doce. E um atendimento instantâneo me deixou ambivalente, algo entre a alegria e o choque. Alegre porque estava satisfazendo minha vontade de maneira bastante rápida; em choque porque sabia – e sei mesmo – que a agilidade nos indicava sair na mesma velocidade dali.
Como sei? Também fiquei chocada ao me dar por conta que até um tempo atrás era eu a atendente (que personifica aqui todos os demais personagens presentes no café) com o olhar de carinho, atenção e dúvida.
Meu filho não incomodou ( no sentido mais coloquial da palavra), tomamos o café e fomos embora brincar com ele na praia. Vida seguindo com outros olhares, inclusive os meus sobre mim, sobre o que me rodeia, sobre como tudo muda tão lindamente!

 

OBS.: Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança, é mera coincidência. (risos)

Metralhando Dor: Todos são alvos

Quando se está mal resolvido com algo, tudo e todos viram alvo. Uma forma de ser/viver, é verdade: Uma metralhadora de dor – sem mira, sem objetivo alvoclaro, sem critério ou bom senso (é possível usar bom senso como uma descrição nesse caso? Realmente, não sei!).

Não é infrequente que nos deparemos com pessoas que estão sofrendo. Em verdade, é muito comum. E há muitas formas de lidar com a dor: há quem se retire, há quem chore, há quem busque ajuda, quem não queira ajuda, quem ataque a si mesmo, quem ataque aos outros – e tantos outros caminhos e combinações. A dor quando não tem destino – está perdida e solta, sem poder ser processada, pensada e elaborada – pode se transformar em artilharia pesada e ser atirada em cima de qualquer um que passar pela frente – ou, às vezes, basta estar por perto.

Sentir não é o problema em si (não mesmo!). A primeira questão sempre será: qual destino esses afetos tomarão? Alguns discursos vindos de uma cultura centenária de rechaço à dor e ao pensar (discursos que negam o sofrimento; discursos de autoajuda, por exemplo) sempre colocam empecilhos para uma resolução mais consistente para quem sofre.

Nesse caminho que é poder pensar sobre o que está vivendo e sentindo, alguns “mortos e feridos” ficam pelo caminho – ok, inevitável algumas “baixas”. Contudo, torna-se especialmente doloroso quando a intensidade é a de um massacre: é difícil (muito difícil) descobrir que o verdadeiro alvo a ser atingido era o tempo todo você mesmo – e não os outros – e ainda, esse alvo não se trata de ser atingido, extinto, danificado. Dupla tarefa: redirecionar e sofisticar a mira, e, transformar o alvo em um propósito de caminho.

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