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Psicologia

Você foi um bom menino esse ano?

Essa pergunta é bastante típica nessa época do ano, não é?

Embora um pouco behaviorista (Piada interna!!!!), a questão “você se comportou bem?” sempre vem a tona no mês do bom velhinho. Hoje, a lógica que se emprega às crianças, proponho que aplique aos adultos, à todos nós.

Quero propor que pensemos em que tipo de pessoas fomos nesse ano tão cheio de desafios e singularidades. Quais coisas fizemos? O que fizemos por nós mesmos e pelo outro? Será que conseguimos, de verdade, olhar para o outro?

Penso que não tem quem discorde que 2020 foi um ano absolutamente atípico – e ruim, em muitos sentidos! Mas, como todo ano, ele foi feito e vivido por nós, por nossas ações e nossas escolhas. E são essas escolhas – as escolhas da vida adulta – que colocam em marcha o que hoje vemos como nossa realidade: um mundo submetido a uma pandemia, isolamento, aquecimento global e uma desigualdade social assustadora.

E quando se pode fazer escolhas, quais escolhas foram feitas:

#Quando você pôde ficar isolado, você ficou?

#Quando você foi votar, você sabia em que proposta estava votando (que mundo escolhia)?

#Quando foi orientado que usasse máscara, você a usou?

#Quando foi possível se ver sem adereços ou disfarces, você se enxergou?

Da porta para dentro: Sobre o atendimento infantil


O que acontece a partir do momento em que o miúdo entra pela porta do consultório da sua psicóloga? O que faz lá dentro? Como se trata uma criança? Ela conversa como um adulto?

Essas são perguntas que pais me fazem, que você pode se fazer, que os alunos de psicologia pensam.
Da porta para dentro é um universo particular: o que acontece se dá entre duas pessoas dispostas a comunicarem-se, e uma delas, em especial, dedicada a entender essa comunicação.

Os pequenos, assim como os grandes, querem um espaço de escuta afetiva e respeitosa. Eles tem problemas, sofrimentos e dilemas, e a psicoterapia é o espaço legítimo para elaborar isso tudo. Assim, como o tratamento de um adulto.

Eles entram, conhecem a sala, o espaço organizando e pensado para eles, e gradativamente irão conhecer e estabelecer um laço de confiança com sua psicoterapeuta, ou, como podemos chamar, a doutora da conversa.

Eles irão conversar (e muito!!), eles irão desenhar, deitar no chão, ficar sem sapato (assim como eu, muitas vezes!), irão jogar ou brincar, tanto faz, tudo isso serão caminhos que levarão a sua forma de ser, de se relacionar com o outro, de mostrar para o profissional o que lhe aflinge.
Nunca será um brincar por brincar!

Da porta para dentro é um convite a ingressar no que é mais seu, no que é mais de dentro, no que não se traduz: vive-se.

No silêncio do isolamento

Era uma vez um vírus que de tão pequenininho nem a pessoa mais resoluta o veria. Mas, o vírus não se “mixava” e atacou uma cidade, um bairro, um país… e finamente, o mundo. O vírus seguida pequeno, mas seu impacto: incomensurável!

Com a pandemia de Covid-19 houve a necessidade da quarentena e do isolamento social, e também, do distanciamento. E foi nesse isolamento que muita coisa coisa aconteceu: famílias foram confinadas as suas casas, pessoas que moravam sozinhas não tinham mais a companhia presencial de outras, crianças sem os amigos da escola, trabalho no modo “home office” com um mix de rotina doméstica para apimentar a coisa toda!

Nesse panorama caótico e muito angustiante, as pessoas tiveram que se a ver com elas mesmas e com suas famílias – famílias essas que já não tinham intimidade, embora morassem todos juntos. Para quem conhece de intimidade, sabe que isso não é para “fracos” nem aventureiros – mas, se aprende. E o aprendizado é com suor e lágrimas, por vezes, com sorte, também risos e cumplicidade. A intimidade ocorre consigo mesmo também – e aí, meu amigo, o sapato apertou, como diz o outro.

A pandemia nos trouxe um silenciamento para as distrações cotidianas, as quais tentamos nos agarrar como náufragos se aguaram às bóias – foi uma de limpar casa , armários, fazer pão, bordar, maratonar Netflix, colocar coisas em ordem e acaba…. silêncio novamente. E nele, nos olhamos e o que se viu? O que se vê quando tudo em torno se cala e a atenção pode – até que enfim! – se voltar para o essencial?

A intimidade que o silêncio oferece pode ser assustadora, como um trama de suspense. E foi, para muitos de nós. Deparar-se com fragilidades, com dores não resolvidas, com solidão, com falta de intimidade, com os desconhecidos da família, não foi nada fácil e trouxe a tona o essencial: o que se escuta de dentro quando todo o barulho cessa? É algo que conforta? É aprazível ou terrorífico?

Quem é a principal companhia que você levará consigo para toda vida: você mesmo.

O silenciamento oportunizou, mas, você sabe, oportunidades podem ou não serem aproveitadas, o que se fez com essa?

E-book Conversa de Gente Miúda

O Conversa de Gente Miúda virou E-Book! Uma parte dele, ao menos!

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Capa do E-Book

Atendimento Online de Crianças

 

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Com nossa nova e inesperada realidade o atendimento online tomou outra proporção. Na verdade, foi através dele que muitos tratamentos puderam ser mantidos e outros tantos, iniciados. Há divergências e convergências sobre como ocorre o atendimento online, sobre suas benesses ou sobre seus limites. E tudo isso se complica ainda mais quando pensamos no atendimento de miúdos e miúdas.

Como é o atendimento online de crianças?

Ele é possível?

Não há uma resposta única e satisfatória para todos.

O fato é que o atendimento de crianças pequenas no formato online possui características particulares em relação ao atendimento de adultos e irei falar aqui rapidamente de alguns pontos que devem ser considerados:

  1. Setting: o setting é diferente e não está mais sobre os cuidados do analista ou psicólogo, logo, será necessário contar bastante com a ajuda dos cuidadores para organizar um local no qual a criança possa fazer sua sessão de maneira segura e tranquila.
  2. As combinações também mudam, e aí estou falando do contrato que abrangerá tanto os cuidadores quanto a criança. Por exemplo, uma alteração de horário ou dia, como ocorre? Para quem se comunica?
  3. A criança tem seu próprio telefone ou um computador? Por qual meio o atendimento ocorrerá é um ponto fundamental para que a comunicação possa ocorrer da maneira mais fluída possível. E aqui, incluindo também a questão das combinações.
  4. Sigilo: Isso precisará ser cuidado e recombinado com frequência. Lembrar que o setting é diferente e que isso também irá variar muito de acordo com a idade da criança é fundamental!
  5. Há uma idade para atendimento de crianças de forma online? Eu penso que crianças muito pequenas, com idades inferiores a 6 ou 7 anos fica bastante difícil. Não poderia afirmar que é impossível, entretanto fica complicado visualizar o seu atendimento nesse formato – que é diferente do atendimento dos pais.
  6. E quais ferramentas pode se utilizar? Brincar é nosso meio básico de comunicação com as crianças em suas sessões, logo, as brincadeiras e brinquedos sofrerão uma adaptação necessária. De qualquer forma, isso será um ponto a ser avaliado e trabalhado entre a dupla psicólogo e paciente.

Ponto pacífico é que a saúde mental não vai poder esperar a pandemia passar. É de saúde que estamos falando. Logo, será importante seguirmos pensando em como auxiliar e fornecer espaços qualificados de escuta e tratamento para miúdos, miúdas e adultos.

OBS.: Aos colegas psicólogos e psicólogas lembro que podem localizar no site do Conselho Federal de Psicologia algumas orientações sobre o tema.

Meu Pai

Já escrevi textos mais pessoalizados aqui no blog, os quais falavam de mim de forma direta ou indireta, mas que continham pontas das minhas histórias, das minhas admirações ou, até mesmo, opiniões. Contudo, hoje, creio que será meu texto mais pessoal até o momento. Quero dedicar o que escreverei a uma figura muito significativa para mim: meu pai. A primeira coisa, e que faz todo sentido nisso que registro aqui, é o quanto a questão de escrever esteve presente entre nós desde bastante cedo. Eu era pequena e escrevia o que eu achava que eram poemas, meu pai lia uns contos para nós de um livro que guardo comigo até hoje, e inventava histórias da Carmela, Carmelinda e da Carmelosa – as quais ouvíamos atentas, até mesmo porque elas sempre acabavam com um ensinamento que se aplicava, não por coincidência, à algum evento do dia. Há uma marca anterior ainda: meu nome: Bibiana. Quem é apreciador da obra de Érico Veríssimo sabe que meu nome vem da literatura desse gaúcho. Os livros estão em mim, ao menos os seis que compõem o Tempo e o Vento.

Sobre meu pai:

Hoje (hoje mesmo, no dia em que escrevo esse texto) ele não está tão disponível quanto costuma ser, ele está hospitalizado e lutando para se recuperar. Mas, pensando  retrospectivamente, fiquei pensando muito durante esses últimos dias, o quanto ele disponibilizou a vida dele para nós, os três filhos, construirmos as nossas: fiquei imaginando o quanto ele trabalhou, o quanto ele abriu mão dos seus desejos e sonhos, o quanto fomos injustos com ele em vários momentos em que cobramos sua presença, e ele estava, mas não como queríamos naquele momento.

Não deve ser fácil a tarefa parental: parece ser um abrir mão ou um adiamento de suas aspirações simplesmente por ter fé em seus filhos. Fé mesmo, porque, às vezes, somos muito falhos em atos que comprovam que seremos felizes ou teremos sucessos nas nossas empreitadas. É difícil ser feliz. Por si só, o projeto de felicidade dos pais para nós já é bastante complexo: o que está implicado no ato de ser feliz? E se eu não conseguir? E se eu for feliz de uma forma diferente do que se espera como felicidade? E se você ficar doente e eu não conseguir me sentir feliz?

Essa noite sonhei o seguinte:

Eu dormia no quarto dos meus pais e eles, meu pai e minha mãe, dormiam no meu quarto e da minha irmã, isso na casa na qual passamos a maior parte de nossas vidas. Acordo, isso durante o sonho, assustada e de sobressalto porque ouvi meu pai chamar: “Biba!” (meu apelido na família). Pulo da cama, chego até o quarto deles e pergunto se ele me chamou. Ele sorri, de bom humor, e responde que não. No sonho, eu sabia que ele já estava em recuperação naquele momento.

Psicanálise a parte, ou minha analista a parte, vou eu mesma interpretar e dividir o que pensei quando lembrei do sonho: os quartos se inverteram, as preocupações se inverteram, a fé na felicidade se inverteu. Se antes, quando pequena, tantas e tantas vezes fui eu quem o chamei do meu quarto porque não me sentia bem durante a noite, no sonho era ele quem me chamava, ou que eu escutei chamar no sonho do sonho. Não importa. Hoje somos nós com vontade de coloca-lo no colo e somos nós quem depositamos toda nossa fé que há de haver mais felicidade adiante.

Esse é nosso projeto. E ele é conjunto: assim fica mais leve, mais fácil e repleto de sentido.

Nascer

A vida é um nascer constante.

Se nasce diariamente, nas pequenas coisas do dia; no perder-se nos sonhos a noite.

Acordar. Suspiro.

Água no rosto desde o primeiro pingo que espirra do chuveiro.

O primeiro choro não é mais de lágrimas pelo inflar de um pulmão pela primeira vez. É abraçar o caminho que é cego, imprevisível e incontrolável.

Nasce a vida. Todos e todos os dias.

Herança Indizível

De todas as heranças que temo, a que mais temo em receber – e o mais trágico, aceitar! – é a sina pela infelicidade. Uma vida na qual na qual fica-se tentando convencer-se de que é possível, de que é merecedor, que a vida é uma possibilidade real. Uma busca que não cessa, uma busca que chega a lugar algum. E quando, descuidadamente, avista-se alguma saída, o traiçoeiro e familiar sorri: armaduras são levantadas, o corpo sucumbe, a esperança é subjugada novamente.

E quando criança, essa herança vai garganta abaixo, quando adultos podemos esquecer que cabe a nós aceitar ou não o duvidoso presente.

Algumas vezes, não incomum, ela já faz parte da carne, está aderida aos ossos, porque não houve a mínima chance de escape – as garras entraram e se fincaram antes mesmo que nos déssemos conta que eramos gente. Tarde demais! A sina da infelicidade está inscrita, está posta na alma, está dentro do olho, de tal forma que toda vez na qual nos encaramos, não é possível esquecer: ela está tão dentro que somos nós.

Seguiremos passando a herança adiante?

Há ainda como recusar? Recusar a ser quem se pode ser? Corta-se a própria carne?

Por onde andamos e coletamos coisas para nossas próprias sinas?

Serei eu águia ou camaleão?

O poder do NÃO

Quando o bebê nasce a família toda precisa realizar uma adaptação intensa para que esse pequeno que chega seja acolhido e encontre um ambiente capaz de suprir suas necessidades, sem questionamentos. Essa ideia é relativamente nova, acredite!

Com o passar dos meses, esse bebê GRADATIVAMENTE vai crescendo e começando a entender a si e o seu entorno, sua realidade. Com isso, vai adquirindo capacidades, recursos para comunicar-se e buscar o que quer e precisa. Estamos falando de um bebê que está nos seus primeiros meses. Entretanto, o NÃO estará sempre presente, desde o nascimento.

Como?

O bebê vai descobrindo que as suas necessidades não poderão ser atendidas tão imediatamente quando precisa, mesmo que isso signifique o tempo da mãe arrumar-se para dar o peito, ou esquentar a mamadeira, por exemplo. Isso já marca para a criança uma frustração.

Mas, quando o pequeno já está maior, estamos falando de uma criança que caminha para seus 2 anos, o NÃO dos pais precisa estar mais presente e mais claro para os pequenos. Esse NÃO que falo é aquele que vai ajudar as crianças a entenderem, gradativamente, que vivemos em conjunto e que há muitas necessidades e desejos para além dos seus: isso o tornará sociável. Embora, pareça frustrante, é fundamental.

O NÃO marca a ausência, a falta, e é na falta que podemos ter espaço para pensar, criar e olhar em torno. Logo, é absolutamente organizador da personalidade essa inscrição de que nem tudo é possível – e essa marca vai se organizando pelas pequenas coisas, situações rotineiras e aparentemente banais. O adolescente e o adulto que tolera, ou não, as frustrações dependerá diretamente da criança que foi: se nunca me “faltou nada”, se não houve os NÃOS necessários e pequenos (aparentemente),  qualquer negativa dos outros ou da vida, poderão ser devastadores.

Pense nisso: Um NÃO suficiente também é amor por seu pequeno!

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