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Psicologia

“Choveu na minha cama, mamãe!” O que pode ser isso?

 

Apesar do nome estranho a muitos, a Enurese é conhecida como “o xixi na cama” (depois da habitual idade de controle). Ela é definida como a emissão ativa completa e não controlada de urina, uma vez passada a idade da maturidade fisiológica – habitualmente adquirida entre os3 a 4 anos.

Em relação da razão pela qual isso ocorre, muitos fatores são citados, entretanto é possível entender que a Enurese é um sinal (sintoma) de um quadro mais complexo de sofrimento e funcionamento psíquico. Ainda assim, a literatura aponta algumas possibilidades as quais devem ser investigadas:

a)  O atraso de maturação fisiológica pode servir como ponto de fixação de um conflito afetivo de tipo retenção-expulsão.

b)   Fatores hereditários (ainda não esclarecidos suficientemente);

c)   Mecânica vesical do enurético;

d)   O sono;

e)   Fatores psicológicos.

Outro ponto que deve ser considerado nessas situações é o ambiente da criança, o qual, na verdade, pode ser de qualquer maneira com condições absolutamente variadas e pouco semelhantes entre si. Entretanto, buscando pensar sobre esse ponto especificamente, em alguns casos, os ambientes nos quais as crianças apresentam esse sintoma (Enurese), mostram-se de:

*      Carência / déficit ou superinvestimento;

*     Figuras cuidadoras obsessivas ou fóbicas que necessitam de um contexto educacional bem delimitado;

*      Resposta familiar no nível da agressividade: punições, ameaças; OU, complacência: prazer no uso das fraldas, etc.

Por isso:

É fato que a Enurese, na grande maioria dos casos ao menos, não aparece sozinha. É comum ela ser uma parte do quebra-cabeça, ou seja, um ponto a ser ligado a outro com a finalidade de compreender o que está se desenrolando com aquele sujeito.

Logo, o tratamento para esse transtorno deverá abarcar diversas variáveis (motivação do sujeito, ambiente familiar, medidas adequadas antes das crianças adormecerem, avaliação pediátrica / médica, etc.) e, levando em consideração que a Enurese possui um forte componente emocional e está ligada a um funcionamento amplo, a psicoterapia se torna indicada.

Volta as aulas!

Voltar as aulas pode ser um desafio para os pequenos! De fato, não somente para eles, mas em especial. As carinhas de preguiça são evidentes e em maioria!

Normal! Depois de muitas semanas de folga de horários e deveres os pequenos precisam de uns dias para se adequarem ao ritmo novamente. Por isso, nos primeiros dias é esperado que eles estejam mais distraídos ou sonolentos, embora alguns demostrem certa agitação ao voltar a escola.

Os pais podem ajudar nesse momento com pequenas ações, como por exemplo, retomar os horários das refeições, estabelecer horário para a criança ir dormir (de preferência respeitando boa quantidade de horas de sono), ajudar o pequeno ir relaxando antes de ir para cama para conseguir ter qualidade de sono, dentre outras pequenas coisinhas que podem ajudar muito na retomada da rotina.

Algumas crianças, que estão indo pela primeira vez para o colégio, podem apresentar uma alta ansiedade. A qual também é esperada visto que a experiência é totalmente nova. A tendência é que o pequeno logo se “solte” da mãe (ou cuidador) e fique a vontade na escola na companhia dos novos amiguinhos! Obviamente que esse processo dependerá da idade da criança, das condições ambientais (como os pais lidam com a autonomia do filho, etc.) e do amadurecimento dela.

O resto é curtir a experiência de aprender e matar a saudade dos amigos!

 

O Ato Médico: Por que não reconhecer e respeitar diferentes saberes?

O Ato Médico certamente é uma situação, no mínimo, inusitada que todos os profissionais da saúde tem tentado compreender e combater.

É fundamental que os profissionais da medicina consigam, em alguma instância, compreender as singularidades que perpassam a prática de CADA uma das DIFERENTES PROFISSÕES.

A ideia atual do trabalho na área da saúde em especial (incluindo a própria definição de saúde da OMS), como já devia estar claro, é desenvolver um trabalho articulado e inter (trans)disciplinar cujo foco será o bem-estar e saúde do paciente. Mas, para tanto, é fundamental que os profissionais estejam capacitados para suas atividades e guardem entre si respeito sincero pelos conhecimentos e limites que suas práticas possuem.

Parece-nos que isso somente não está claro para a classe médica (pelo menos, na sua grande maioria em vista do Ato Médico!).

Que receios são esses guardados pela classe médica? O que se busca efetivamente com isso? Como as demais profissões da saúde vão executar na prática suas atividades, caso o Ato Médico seja de fato aprovado? Será que não há espaço para a convivência pacífica e respeitosa entre áreas do saber distintas? É preciso subjugar tanto conhecimento e tantos profissionais?

Que respostas podem nos ser oferecidas para todas essas questões?

 

Mais informações nos sites do Conselho Regional de Psicologia (http://www.crprs.org.br) e Conselho Federal de Psicologia (http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/).

Precisamos falar sobre o Kevin: De onde nasce o mal?

No jornal do dia 02 de fevereiro li uma resenha crítica sobre o filme “Precisamos falar sobre o Kevin” a qual trouxe considerações muito interessantes sobre o filme e pontos cruciais do mesmo. Contudo, coloca também que o “mal” (da maldade, perversão, etc.) pode aparecer em qualquer lugar, em qualquer lar, em qualquer situação, o que não é de todo errado, mas seria igualmente importante assinalar que para que um sujeito seja predominantemente mal é necessário pensar que houve uma história e um amplo caminho na construção psíquica desse.

Definitivamente o mal não surge do nada.

Fui ver o filme e nele esse desenrolar do nascimento de uma personalidade perversa aparece de forma angustiante: uma mãe profundamente ambivalente em relação a um filho e que, traça com ele e os demais familiares uma história de tristeza, frustração e dor. Narrado a partir das suas memórias e vivências atuais, Eva (mãe de Kevin) busca, a todo momento, genuinamente compreender o que se passa, entretanto não lhe é possível, de maneira espontânea, alcançar uma relação real, viva e vincular com seu filho.

O personagem materno sobrevive – em vários sentidos – a todos os ataques do filho (e que são muitos!) de forma heróica e toma para si, de uma maneira incomum e conformada, toda a avalanche precipitada por Kevin, sendo, em certo grau, secretamente cúmplice à obscuridade interna que se desenrola no filho. É interessante notar – e sentir – a relação que há entre essa díade e a palavra ambivalente não é suficiente para descrevê-la: ao mesmo tempo em que há claramente ódio e repulsa, há algo do plano do não dito e que é compartilhado de forma intimamente perversa por ambos.

A forma como o drama é narrado e as cenas são amarradas umas as outras oferece uma possibilidade extra para compreender como aquilo tudo pôde acontecer.

Não há resposta que seja suficiente ou completa para a pergunta “de onde vem o mal?”, mas sempre há uma história a ser contada, escutada e sustenta em cada um de nós.

Artigo Publicado – O abuso sexual: estudos de casos em cenas incestuosas

Divido com vocês um momento de gratificação: um artigo, fruto da dissertação de mestrado, publicado na Revista Estudos de Psicologia (Campinas).


RESUMO

A contribuição da perspectiva psicanalítica na compreensão do impacto do abuso sexual no funcionamento psíquico baseia-se na identificação da singularidade dos arranjos defensivos frente à angústia traumática. Assim, neste trabalho buscou-se compreender os processos mentais relativos ao funcionamento psíquico de vítimas dessa violência, a partir da perspectiva da teoria psicanalítica, além do impacto do processo traumático no funcionamento psíquico de dois casos de meninas em atendimento em um centro especializado para vítimas de abuso sexual. Para tal, foram utilizadas entrevistas de Hora de Jogo Diagnóstica e testes projetivos, como o Rorschach e o teste do desenho House-Tree-Person. Verificou-se que o funcionamento das meninas se caracterizava por uma dinâmica psíquica dissociativa de enfrentamento do trauma e por um processo identificatório ambivalente, que afetava a capacidade simbólica dos sujeitos. Em conclusão, o atendimento psicoterápico às vítimas de abuso sexual é um recurso indispensável no âmbito da saúde mental.

Unitermos: Abuso sexual. Feminino. Técnicas projetivas.


ABSTRACT

The psychoanalytical contribution to the comprehension of the impact of sexual abuse on psychic functioning is based upon the identification of the uniqueness of the defensive strategy when faced with traumatic anxiety. Accordingly, the aim of this work was to understand the mental processes involved in psychic functioning based on psychoanalytical theory, as well as the impact of the traumatic process on psychic functioning in the case of two girls referred to a special center for sexual abuse victims. Diagnostic playtime interviews and projective tests, such as Rorschach and the House-Tree-Person drawing test were employed. It was ascertained that the functioning of the girls was characterized by a dissociative dynamic of coping with trauma and by an ambivalent identification process, which affected the subjects’ symbolic abilities. In conclusion, psychotherapy for victims of sexual abuse is an essential resource for the field of mental health.

Uniterms: Sexual abuse. Female. Projective techniques

Contratransferência: Um dueto na psicoterapia

Texto dedicado aos jovens colegas

 

Quando pensamos em um atendimento psicoterapêutico é muito comum o foco recair sobre o paciente de maneira exclusiva. E esse raciocínio não está de todo equivocado, entretanto atualmente a psicanálise retomou e construiu novos paradigmas para a técnica. Para tanto, o conceito de Contratransferência começou a ocupar mais espaço nas discussões teóricas e na própria prática, trazendo o terapeuta como uma parte importante e ativa no tratamento. Dessa forma, uma definição para esse fenômeno pode ser como sendo o “conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste” (Laplanche e Pontalis, 1998, p. 102).

Nos últimos anos percebe-se um aumento nos estudos centrados na pessoa do terapeuta, bem como a sua relação com o paciente. Embora para Sandler et al (1976, p.55) o termo “contratransferência” venha sendo usado, de certa forma, excessivamente generalista, caracterizando esse processo como sendo a totalidade dos sentimentos e das atitudes do terapeuta em relação ao seu paciente, contudo, segundo o autor, essa definição se encontra longe da original descrita por Freud em 1910.

Mais atualmente, o fenômeno contratransferencial é entendido como sendo a constante interação que ocorre entre analista e paciente, a qual…

[…] implica em um processo de recíproca introjeção das identificações projetivas do outro. Quando isso ocorre, mais especificamente na pessoa do analista, pode mobilizar nele, durante a sessão, uma resposta emocional – surda ou manifesta – sob a forma de um conjunto de sentimentos, afetos, associações, fantasias, evocações, lapsos, imagens, sonhos, sensações corporais, etc.[…]

Dizendo com outras palavras, o fenômeno contratransferencial resulta das identificações projetivas oriundas do analisando, as quais    provocam no analista um estado de contra-identificação projetiva[…] (Zimerman, 2004, p. 144).

Segundo Zaslavsky e Santos (2005, p.295) embora existam diferenças entre as diversas escolas de psicanálise existe entre elas um ponto de convergência em relação a utilidade da contratransferência, vista então, como um elemento técnico para a compreensão do paciente. Este reconhecimento de que o paciente tentará fazer do seu analista (termo utilizado pelos autores) objeto de transferência é inegável, assim como a contratransferência será uma criação conjunta de contribuições do analista e do paciente.

O que ocorre em um setting, entre paciente e terapeuta, é um dueto e não um solo, desta forma, existe um efeito de nossas respostas contratransferenciais sobre os pacientes em virtude de que se recebemos sinais, também os transmitimos. A contratransferência pode ser entendida tanto como consciente como inconsciente, embora em ambos os casos ela não tenha sido processada, isto é, a contratransferência precisaria ser trabalhada quase que da mesma forma que a transferência do próprio paciente (Alvarez, 2001).

Sendo assim. a contratransferência inclui “todo sentimento que o terapeuta possa ter em relação ao paciente em qualquer momento. Isso pode incluir sua própria transferência não analisada ao paciente, ou um deslocamento do exterior para o paciente, mas também incluiria sentimentos depositados nele pelo paciente.” (ALVAREZ, 2001, P.127). Enfim, seja o sentimento que for ou aparecer durante o tratamento de um paciente, devemos estar atentos não somente para a origem desses, mas também para onde eles levarão o terapeuta e, por conseqüência, a dupla.

Sabe aquele paninho fedorento? Ele pode significar bastante!

Sabe aquele bichinho de pelúcia que o seu filho não larga?

Ou aquele paninho sujo, encardido o qual você é desesperada para lavar, mas que quando isso acontece o pequeno dá o maior ataque?

Esses objetos podem ser mais importantes do que julgam os adultos! Eles se chamam objeto transicional. Esses objetos, em geral macios, fazem parte de um mundo a parte que a criança constitui para ela, no sentido de inaugurar espaços de subjetivos de saúde, criatividade e amadurecimento.

O objeto transicional se organiza dentro do que a teoria winnicottiana denominou de área transional, ou seja, um espaço que não diz respeito exclusivamente a realidade interna da criança, nem a externa – veremos esse espaço amplamente utilizado na fase adulta através da religião e da arte, por exemplo.

O objetivo desse objeto é auxiliar a criança a lidar com ansiedades “esperas” para o desenvolvimento, sendo que gradual e naturalmente esse objeto será deixado de lado porque simplesmente ele perderá seu sentido.

Todos os bebês possuem objeto transicional? Não necessariamente, embora em alguns casos o objeto possa passar desapercebido porque pode não ser um objeto propriamente dito, pode ser uma canção, por exemplo.

Em clima de cinema: alguns filmes que, se não viu, tem que ver!

Recentemente vi o filme “A pele que habito” e realmente é um filme que nos rouba as palavras.  Isso se deve as inúmeras questões que aparecem no filme e a intensidade com que elas são abordadas.

É um filme que vale a pena ver!

Pensando nisso, fiz uma listinha de filmes – dos antigos, inclusive – que abordam pontos interessantes da vida ou algum aspecto psicopatológico diverso.

Qualquer um deles, gostando mais ou menos, certamente nos remete a pensar em algumas coisas – tantas quanto o tema do filme tocar em nossas questões!

Vai lá:

  • O Solista
  • A Origem
  • A ilha do medo
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Dragão Vermelho
  • Minha vida em cor de rosa
  • Seven
  • Tempos Moderno
  • Adam
  • O Talentoso Ripley
  • Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
  • Manhattan (Woody Allen)
  • Cisne Negro
  • Bem me quer, mal me quer
  • O fabuloso destino de Amelie Poulain
  • Bicho de Sete Cabeças
  • Estranho no Ninho
  • Garota Interrompida
  • A pele que habito
  • Piaf
  • Coração Louco
  • O discurso do rei
  • Abutres
  • Experiência
  • Melhor é Impossível
  • Os Substitutos

Boa sessão!

Um “causo” pessoal: O meu caminho

Escrevendo e pensando sobre a questão da constituição da identidade do profissional da psicologia, inevitavelmente pensei em como eu me construí. Então, aí segue alguns pontos do meu percurso, algo bem pessoal sem saber se foi acertado ou não.

Quando optei pela psicologia, ainda no vestibular, na verdade não optei, simplesmente me inscrevi no ímpeto da descoberta. Para minha grata surpresa, em uma das minhas primeiras aulas de psicologia com a professora Paula Uglione, já estava refém (no bom sentido!) da minha futura profissão. A psicanálise, desde esses primeiros momentos, também se mostrou como uma escolha absolutamente natural para que eu pudesse pensar sobre os processos psíquicos humanos.

Já enveredar para a clínica infantil não foi tão fácil.

Sempre entendi que no período da faculdade seria o momento de descobrir as aptidões e os campos da psicologia para começar a delinear um futuro profissional. E assim o fiz. Andei pela psicologia hospitalar, psicologia organizacional, psicologia clínica e pesquisa. E confesso, a clínica infantil me parecia um grande e assustador desafio – e isso não mudou até hoje, com a diferença de não ser mais assustador e do fato de conseguir entender com mais clareza o meu papel e as singularidades dessa prática linda!

Mas, para que isso fosse possível, duas pessoas foram importantes nesse momento inicial: um psicólogo e psicanalista de Santa Maria que, em um momento de supervisão, pontuou-me algo sobre minha postura frente às crianças (como eu buscava entende-las e escutá-las) e, outra psicóloga, a qual me auxiliou como supervisora, inclusive após a colação de grau e a quem dedico um grande carinho!

Pessoas, professores ou profissionais, como os que cito, são fundamentais para essa construção do que é ser psicólogo. Tudo isso deve estar agregado a possibilidades de prática, de estudo e de escuta – escutar a si mesmo inclusive, para que assim, como diz Lya Luft, seja possível achar um tom único, só seu!

Foi importante ter tido a possibilidade de estudar ( e continuar estudando), de poder pensar profundamente sobre o que realmente se gosta de fazer, tomar contato com as dificuldades da clínica e, ainda, compreende de fato que é uma utopia crer que um dia estaremos “acabados” como profissionais. Como o próprio conceito de identidade dentro da psicologia, a identidade profissional também é mutável e ter isso claro para si é algo muito valioso. O fato é que, é muito bom descobrir possibilidades de ser o profissional que se é!

Então, em síntese, eu ora afino meus instrumentos, ora me permito tocá-los, buscando o meu tom.

A Construção da Identidade do Jovem Psicoterapeuta (Parte II)

Texto dedicado aos colegas e alunos  da área  psi.

 

Continuando a pensar na construção do “ser psicólogo”, Zimerman (1999) aponta que há muito tempo que já não se crê na idéia de que os fenômenos psíquicos de um indivíduo estejam centrados exclusivamente nele mesmo e sim, na interação desse mesmo indivíduo com o meio e, conseqüentemente nos relacionamentos estabelecidos com os demais. Assim também ocorre dentro de um setting entre paciente e psicólogo (ou analista). Desta forma, como cita o autor, torna-se quase que unânime a afirmação de que o processo psicoterápico repousa sobre a dinâmica que há dentro do campo analítico, isto é, entre o par psicoterapeuta e paciente.

Para isso, segundo Zimerman (1999), existem pontos cruciais (“condições necessárias”) para que um psicoterapeuta (analista, segundo o texto) desenvolva de forma bem articulada o seu trabalho e constitua-se como tal. Ressaltando os pontos que parecem ser de suma importância, o primeiro a ser revisado diz respeito a formação do psicoterapeuta sendo que, ela está além da formação acadêmica e teórica necessária, ou seja, o psicoterapeuta deve estar munido de si mesmo e das possibilidades não previsíveis que cada paciente pode lhe propor dentro do setting e para isso existe a necessidade da psicoterapia pessoal e de supervisão.

O par analítico, outro ponto, traduz toda a delicadeza da relação que se dará de forma única entre aquele psicoterapeuta e o paciente, ou seja, a tonalidade de cada encontro e de todas as interações desse par.

Além das necessidades acima, existem outras como o respeito pelo paciente e seus limites, a empatia, a capacidade de ser continente, paciência, curiosidade sadia, ter claro para a importância a abrangência da identificação projetiva e da contratransferência, etc., todas essas são habilidades que devem aparecer em um psicoterapeuta e serem trabalhadas com a finalidade do seu trabalho ser suficientemente abrangente e capacitado (ZIMERMAN, 2004).

Ferro (1995) ressalta que, entre as diversas necessidades de um analista, a primeira é a de não poluir a mente de seu paciente e estar verdadeiramente disponível para ele. O autor coloca o quanto a situação interna do analista é algo fundamental no seu trabalho e, por isso mesmo, deve ser freqüentemente revisada e atualizada. Entretanto, não se pode esquecer que, segundo Ferro (1995), trata-se sempre de um par, ou seja, dois pólos e sendo assim não poder-se-ia isolar um do outro.

Diversas são as necessidades que existem para um analista, psicólogo ou psicoterapeuta e para Grolnick (1993) o “terapeuta estudante” deverá manter seu conhecimento psicanalítico mais ao fundo de sua mente para que próximo à superfície esteja a possibilidade de contato com seu paciente. O processo de “escavação” que ocorrerá dentro da análise ou da psicoterapia deve ocorrer, segundo o autor, com calma e o terapeuta deve ter claro que ele é um facilitador, não a força motriz e, dessa forma, tolerar que cometerá erros e sentirá sentimentos diversos às vezes (incluindo os negativos, como ódio, por exemplo).

Winnicott (apud Grolnick, 1993) coloca que o terapeuta bem preparado tem a possibilidade de movimento dentro dos níveis evolutivos e dos diagnósticos dos seus pacientes, ou seja, ele estaria aparelhado para lidar com pacientes que tenham sofrido profundamente. Entretanto, isso ainda não basta, o terapeuta tem que contar com uma boa capacidade de sustentar, manusear, ser criativo, ter tido algumas boas possibilidades de desenvolvimento e estudar, sendo que conforme Grolnick (1993) o fazer terapia é uma das formas mais eficientes de se alcançar alguns desses pontos.

Grolnick (1993) embasado no trabalho desenvolvido por Winnicott, cita:

… a técnica é ajustada ao nível de desenvolvimento do paciente e aos limites da compreensão do terapeuta. Quando precisam ser satisfeitas necessidades não-verbais, palavras em demasia e significados em excesso podem obstruir a compreensão. (Grolnick, 1993, p. 132)

 

O que o autor busca afirmar com a citação é a importância em evitar o erro de crer que o aspecto cognitivo da interpretação é de superior importância e que somente ele é que opera a modificação no paciente, antes ao contrário, a boa evolução do paciente em terapia (e na vida, como acrescenta o autor) se dá quando significado e sentimento estão o mais unido possível.

 

A literal construção de um psicoterapeuta já vem sendo discutida à longa data e notadamente mais aprofundada pelos estudiosos. Ironicamente, quanto mais se estuda, muitos outros pontos são avistados e exigem aprofundamento cada vez maior na formação de um jovem psicólogo. O que pode ficar razoavelmente claro é que, quando se fala em exigências não se refere simplesmente à formação acadêmica, inclui-se em igual importância a formação pessoal do psicólogo através de sua análise, da supervisão, sua prática e, por incrível que pareça, a capacidade de viver e possuir experiências pessoais.

Essa prática inicial indica ser sempre portadora de alguma ansiedade que por sua vez se torna útil na medida em que gera um movimento de busca pelo que falta. Outro ponto é o fato de que não é possível conceber que se terá um profissional pronto e amplamente acabado, logo não faz sentindo assorear-se correndo o risco de deixar vias importantes de entendimento entulhadas, ou, tomar-se de angústia pelo extenso caminho a ser trilhado no processo de formação e prática profissional.

Logo, a questão que parece muito relevante nesse momento é a possibilidade de submeter a teoria à prática e, em cima dessa última passar a construir algo que singularize o trabalho do profissional e acabe por dizer algo dele mesmo. Crê-se que isso é a busca pela identidade: procurar fazer do seu trabalho algo único e verdadeiramente seu, isto é, apropriar-se da sua prática. De fato não existem fórmulas – nem textos que dêem conta desse desafio –, existe sim um par que deverá se constituir e entre ele se dará a busca pelo tom único que marcará essa relação.

 

Referências:

Ferro, A. (1995). A técnica na psicanálise infantil: a criança e o analista da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago.

Grolnick, Simon A. (1993). Winnicott o trabalho e o brinquedo: uma leitura introdutória. Porto Alegre: Artes Médicas.

Zimerman, David. (1999). Fundamentos Psicaníliticos. Porto Alegre: Artmed.

_____________. (2004). Manual de técnica psicanalítica – uma re-visão. Porto Alegre: Artmed.

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