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Autobiografia de um Espantalho: Caminhos para lembrar

Boris Cyrulnik, psiquiatra, etólogo e neurologista francês, conhece bem o tema Resiliência. Suas obras, as quais comecei a ler ainda no mestrado, possuem uma beleza e uma fluidez, e igualmente uma delicadeza dificilmente pensada quando a escrita se trata de trauma e vivências traumáticas de toda ordem. Estou escrevendo sobre memórias e trauma e recorrer ao que Boris escreve é inevitável.

A construção de memórias é um processo coletivo, não um processo individual. O que quero dizer é que, as lembranças que temos das nossas experiências só existem porque estão relacionadas com a experiência do outro, com o outro e a partir do outro. Nas palavras de Boris: “… seu mundo interno está povoado pelos outros!” (2009, p. 149). Não é por anda que as figuras parentais são tão importantes para seus filhos- que “outros” mais importantes pode haver na vida dos miúdos para serem tomados como referências?

Viver é construir memórias. Somos nossas memórias – e elas são vivas e atemporais porque se atualizam todos os dias através da nossa forma de ser e de se relacionar. Falar sobre nossa vida, sobre nossos sucessos e fracassos, é trazer a tona uma narrativa absolutamente particular e que dependem igualmente de quem acolhe nosso relato. Falar pode ser potencializador para a vida.

Evocando Boris novamente:

“O relato que fazemos do que aconteceu conosco adota a forma que nossa memória lhe dá. Mas nossas lembranças dependem tanto das reações de nossas figuras de apego quanto das histórias que nosso meio compõe com o nos aconteceu. […] Trata-se muito mais da memória de si, da representação que elaboramos de nosso passado do que dos fatos que realmente ocorreram.” (CYRULNILK, 2009, p.146)

Referência:

Cyrulnik, Boris. Autobiografia de um espantalho – Histórias de resiliência: O retorno à vida. São Paulo. Martins Fontes: 2009.

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