“Demoramos anos tentando mudar a direção que olhamos: ou olhamos para dentro, ou olhamos para fora. Hoje eu entendi: não se trata de mudar de uma para outra direção, trata-se de olhar simultaneamente, estar dentro sem ficar de fora!”
de Bibiana
“Demoramos anos tentando mudar a direção que olhamos: ou olhamos para dentro, ou olhamos para fora. Hoje eu entendi: não se trata de mudar de uma para outra direção, trata-se de olhar simultaneamente, estar dentro sem ficar de fora!”
de Bibiana
Falemos com franqueza?
Você não quer saber da Franqueza. Não quer mesmo. E o mais interessante disso tudo é que quando “escuta” isso, ofende-se!
Franqueza é desastrosa. É um ideal dos sonhadores, utópicos, ingênuos, de alguns.
Franqueza é bruta. É sempre mais desorganizadora que se imagina, mais intensa do que se estava esperando, e em geral, não conserva em si a capacidade de “manter um bom clima” entre quem troca franquezas entre si.
Franqueza dói. Na maior parte das vezes, você é jogado para dentro dela, ou ainda, ela é jogada na sua cara, como um tapa mesmo. Ainda que muito bem educado, e quase não parecendo, é um tapa, acredite.
Franqueza congela. Ela pode deixar o tempo parado na expressão das suas palavras, na intensidade da voz, na expressão dos olhos. Ela não quer saber se você estava “aquecido” para tal maratona, ela arromba e: congela.
Franqueza é uma hóspede mal quista, embora, politicamente é adequadíssimo todos, em uníssimo, afirmarmos que sem ela não vivemos. E de fato, paradoxalmente não vivemos. A franqueza hoje é quase um tiro que recebemos a esmo.
Por vezes, nos jogamos na frente do atirador, de propósito, pois ainda que a franqueza conserve em si tantos aparentes adjetivos negativos, ela é poderosa, e hoje, ela movimenta. Muitas e muitas vezes, não a queremos, fugimos do tiroteio, só que somos cegos no escuro fugindo desses tiros. Na verdade, ou na superfície, não queremos saber sobre o que dói, sobre o que é feio ou sobre o que desassossega. Não queremos saber se somos mal, ou se o que dizemos, de fato, machuca os outros, ou se nossos olhares são cruéis demais.
A franqueza, é uma senhora, é perspicaz e experiente, e ainda sim, audaz como só um jovem consegue ser. Ela não quer ser poupada, e não poupa ninguém, e por sua vez não espera que após entre no salão o “clima” seja o mesmo, e não deve continuar o mesmo, de fato. Franqueza é o amargo necessário – e não será nunca doce, não se iluda – cuja medida nunca se acerta, embora se passe muito tempo tentando.
Recentemente está sendo veiculado uma notícia de que crianças francesas possuem menos TDAH do que crianças norte-americanas (Confira a notícia original no link).
O TDAH, conhecido popularmente como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, não é novidade nenhuma para nosso sociedade ou para nossas crianças. Ele só vem trocando de nome e, como uma tsunami, engolfando cada vez mais um número maior de sujeitos.
Esse diagnóstico fico tão popular, de uso tão banal, que a medicação que deveria ser utilizada em casos em que há uma real necessidade está igualmente banalizada, e é comum adultos utilizarem-a para poder, pelo menos em um plano teórico, ampliarem sua capacidade de concentração em véspera de provas, por exemplo. Hoje, qualquer um atribui o diagnóstico de TDHA à seus filhos, alunos, conhecidos e até a si mesmo. Basta mexer-se mais do que o tolerável e pronto: saindo mais um TDAH!
Entretanto, esse transtorno possui cerceamentos necessários de serem respeitados quando se pensa em diagnóstico, e com isso, o seu respectivo tratamento. O parâmetro não deve ser, em instância alguma, o quanto uma criança “incomoda” pontualmente um ou outro adulto com seu impeto infantil: mover-se, ser curioso, não satisfazer-se com o “Porque sim!” ou o “Porque não!”. Que criança saudável tolera a inércia? Ainda, concordo com a reportagem (link acima) com a questão de considerarmos o tempo todo que os fatores são multideterminados quando se tem esse quadro em vista.
Em resumo, o que se esquece parece que é o que se quer esquecer: o diagnóstico de qualquer transtorno ou doença mental é sério, necessita de uma avaliação minuciosa e requer paciência e investimento ( de tempo, de afeto e financeiro, por certo). Na ânsia por sanar a “agitação intolerável” e sem nome de uma criança, joga-se com as mesmas peças: rapidamente se localiza um diagnóstico, rapidamente se usa uma medicação, rapidamente se esquece do que aquele sofrimento então queria comunicar. E, por fim, cala-se.
Há alguns dias a música “Dança da Solidão” invadiu minha mente e quando a escuto a salta para mim as seguintes partes:
“Meu pai sempre me dizia:
Meu filho tome cuidado,
Quando eu penso no futuro,
Não esqueço o meu passado
Oh!..” (Paulinho da Viola)
Essa parte da música remete-me a história pessoal que cada um nós trilha para nos havermos com o que somos hoje. Ou seja, não é preciso poderes mágicos para entender o que está por vir na vida nossa de cada dia, basta não esquecer o passado.
O tal passado, longe de dever ser entendido como correntes pesadas e imobilizadoras, é uma espécie de livro que escrevemos diariamente e que se lido, folheado com cautela, pode nos ajudar a dar uma espiadinha no que nos aguarda a frente, no futuro. Nossas formas de relacionamentos, amores, desgostos, rancores, traumas, felicidades, todos esses vão delineando lentamente nossas personalidades e nos empurrando por caminhos que, embora possam ser doloroso em um primeiro momento, são da ordem do conhecido, são caminhos com os quais sabemos lidar e que podemos prever, dando a falsa sensação de controle sobre a vida.
Entender o passado não é um clichê psicanalítico, é uma forma poderosa de mergulho, cuja superfície não será, nem de longe, superficial.
Revisitando um artigo anterior – de novembro de 2011 (http://conversadegentemiuda.wordpress.com/2011/11/02/o-que-pode-acontecer-em-um-quarto/ ) – escrevendo sobre o livro “Quarto”, da autora Emma Donoghue, cujo história é sobre um menino de 5 anos que vive desde seu nascimento circunscrito a um quarto e cuja convivência é exclusivamente com sua mãe – eventualmente, recebendo a visita do “velho Nick”, sujeito que sequestrou essa jovem e a manteve em cativeiro, incluindo após o parto desse pequeno narrador.
Na época, ainda lendo o livro, não sabia exatamente como o texto iria transcorrer, mas no decorrer dele, um ponto que julgo interessante e que pode extrapolar o livro é justamente a noção de self que desenvolvemos e com isso, a perspectiva de mundo que temos – no caso desse pequeno refém, seu mundo era o quarto, e suas referências de mundo era esse local e sua mãe. Em várias passagens, o pequeno comenta que depois da janela – uma claraboia – o mundo acabava, não havia mais nada, e quando lia isso imediatamente pensava em tempo remotos da nossa história como civilização, na qual também tínhamos uma compreensão de que, onde não conhecíamos ou não enxergávamos, logo, não existia. Essa noção, essa ampliação, é desenvolvida no decorrer da maturidade da humanidade e de cada sujeito.
Ampliando essa questão, quando passamos por alguma situação qualquer no percurso da vida, tendemos a julga-la pelas referências que temos, o que pode ser muito limitado ou limitador. Parece-me que o preconceito entra nessa fresta mal acabada da nossa formação emocional, moral e social: quando não conhecemos, julga-se não a partir de uma realidade ampliada, mas exclusivamente por um crivo pessoal, singular e restrito, o qual desenvolvemos no decorrer de nossas vidas – e é fundamental – mas que não é A forma de ver e compreender os fenômenos, é UMA delas. E parece que lembrar disso é tão difícil, quanto aplicar!
No desenrolar da trama, algumas reviravoltas acontecem – e podem ficar tranquilos que não vou citar nada além do já referido, para não perder o gostinho de novidade quando o livro for lido, ok? – e a questão da percepção e suas implicações também se modificam, o que me fez pensar, então, no processo de amadurecimento esperado de todos nós: quando pequenos, nossas referência são restritas, afinal, nossas capacidades de absorção também são menores e portanto, precisam de uma dose mais homeopática. Crescendo, ampliando nossa capacidade de ver – vendo e conhecendo outras realidades – novas janelas se abrem e o que antes era absoluto, relativiza-se radicalmente. Parece fundamental, como para o pequeno refém do livro, nesse percurso possuir capacidades para essas aquisições, assim como uma larga flexibilidade para lidar com tudo o que é imprevisível e estranho.
Difícil mesmo é quando, o adulto, já se esperando essas aquisições de perspectiva e relativização dos fatos, encontra-se amarrado a uma visão muito pequenininha da vida, como se olhasse tudo não pela janela ou do jardim, mas pelo buraco da fechadura do quarto que cada um de nós constrói para si. Vamos sair dos nosso quartos, pessoal!
Num sábado de outono, a noite, escutei alguns músicos – artistas, na verdade – cantarem uma música, a qual já conhecia, mas não tinha me detido na sua letra ainda. Em tempo!
Os versos aos que me refiro são os seguintes:
“É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente”
(Tocando em Frente)
Quando escutei a música, então, em especial os últimos versos, pensei no processo psicoterapêutico e o que nos leva a ele, o que nos sustenta nele e o que nos faz sair dele – ou cair para fora.
O desejo pela vida e pelo caminho a percorrermos nela parece incessante, deslumbrante, promissor e em geral, difícil justamente por todas essas perspectivas, as quais devem se apresentar em algum momento desse percurso.
Entretanto, penso se, na verdade, a vida e todo seu percurso não diga respeito a justamente somente compreender que se trata do caminho e do ritmo com que se caminha por essa estrada – e nada mais, nem menos. Não há potes de ouro no fim, nem recompensa pelo bom comportamento, nem castigo pelas maldades de todos os dias.
Em psicoterapia, parece em alguns momentos, que vamos mediando um pouco disso a que Winnicott chamou de processo de ilusão e desilusão: é preciso acreditar em tudo e em um potencial máximo, para aos poucos, de forma gradual e afetuosa, percebermos que se trata de um caminho. E isso pode ser pouco para alguns, pode ser tudo para outros: cumprir ele é que se torna o desafio.
Estou lendo Crime e Castigo, de Dostoiévki, um livro que tornou-se um desafio particular, pois ele parece intenso demais, profundo demais, detalhado demais.
Uma frase me chamou a atenção hoje:
“Mentir a seu modo é quase melhor do que falar a verdade à moda alheia; no primeiro caso és um ser humano, no segundo, não passas de um pássaro.”
Freud estudou e analisou a obra desse autor, e em um texto de 1923 fala sobre a noção de culpa e crime e como isso dinamicamente se articula nas nossas instâncias pisquicas. Notadamente, o livro trás a tona essa questão do crime e da culpa advinda dessa ação. Mas, o que me chama atenção, no momento, não é exatamente isso, mas sim a perspectiva de que mentir uma mentira sua seria mais autêntico que utilizar a verdade de outrem.
Construir verdades e dissemina-las, de maneira aleatória, parece ser uma nova especialidade da nossa sociedade – e não é de hoje! E então, a facilidade com que tomamos essas verdades para nós como se desde sempre elas estivessem estado ali. É fácil de observar isso, basta ter olhos para ver e ouvidos para escutar. De maneira que, se seguirmos pensando assim – e você pode ficar com essa “minha verdade”, se quiser – fica razoavelmente fácil concluirmos que o “eu” é cada vez mais “eles”, ou nós – e isso não em um sentido de coletividade profícua.
Em um das vastas conversações dos personagens, mentir, um ato moralmente desonrado, parece tomar as vezes de mocinho uma vez que passa a ser visto como o que de mais autêntico pode ser produzido por um sujeito – e ainda que não seja de vangloriar-se, na pior das hipóteses nos conduz a condição de humanos – seja lá o que isso queira dizer, em um sentido mais profundo, sociológico ou filosófico. Mentir, na nossa discussão aqui e a partir do contexto do livro, seria reinventar algo dado por uma realidade, e daí, algo tão próprio.
Pode ser que você esteja pensando no impropério dessa ideia, mas vamos pensar juntos: quantas mentiras você julga contar no dia? Nenhuma? Pense melhor!
Não importa a intenção, não importa o quão bom queiramos ser, mentir é humano e nos conduz o tempo todo a esse estado de humanidade.
A partir de uma super dica da psicóloga Gabriela Wagner conheci esse vídeo que compartilho com vocês e diz respeito aos últimos artigos postado no BLOG.
Confiram que vale a pena!
Já falamos anteriormente sobre a questão da Obesidade Infantil e o quanto essa questão demora a ser abordada, seja porque é negligenciada, seja porque é negada. Entretanto, é preocupante esse fenômeno porque os índices estão altos – e crescem – na população infantil e jovem. O fato é que: a obesidade é uma doença e deve ser tratada.
Mas, qual é a causa da obesidade? Qual é a sua raiz?
O que origina pontualmente a Obesidade não é claro para os cientistas, pois as variáveis envolvidas são inúmeras, ou seja, as causas são genéticas, orgânicas, metabólicas, nutricionais, emocionais e sociais, e isso tudo pode ser concomitantemente. Sendo assim, o fenômeno é complexo e com isso, em geral, muitos dos fatores citados estão articulados entre si e o tratamento exigira mais de um profissional envolvido.
Um dos problemas da Obesidade Infantil são as consequências a longo prazo, ou seja, na adultez, como referido no artigo anterior, período no qual problemas sérios como doenças coronarianas podem levar o sujeito a morte. Entretanto, nesse momento abordaremos as consequências a curto prazo, as quais também são importantes e graves, pois problemas de ordem física – como transtornos endócrinos ou relativos a pressão arterial, aparecem muito precocemente fragilizando um organismo em constituição – e de ordem emocional – baixa-estima, dificuldades nas relações interpessoais, depressão, dentre outros – podem ser percebidos tão logo o quadro de Obesidade está instalado e muito diferentemente do tom pseudo carinhoso do “fofinho”, estamos falando de um problema sério e com consequências igualmente importantes para o sujeito.
No tocante ao tratamento, como já referido, possivelmente seja necessário um tratamento multidisciplinar, contudo ressalta-se que o tratamento emocional é fundamental nesse processo, pois questões emocionais estão profundamente vinculadas ao quadro da Obesidade Infantil, pois o excesso de peso pode, inclusive, estar a serviço de um outro quadro como a depressão, por exemplo, ou ainda, encobrir como um mecanismo protetivo uma situação de violência.
Criança com obesidade não é “fofa”, é um sujeito que necessita de atenção e auxílio.
OBS.: Hoje começa uma campanha do governo federal a respeito do combate a Obesidade Infantil.