Skip to main content
All Posts By

Bibiana Malgarim

Empatia: Estar próximo, mas afastado

“Eu já passei por isso que você está passando, te entendo perfeitamente!”

Quem ainda não escutou essa frase? Quem já não disse essa frase?

Sem dúvida, na grande parte dos casos, é uma tentativa empática, entretanto, se prestarmos atenção nela perceberemos que não se trata de empatia. Trata-se de contar uma história sobre você, ainda que em pedaços, ainda que indiretamente. Escutar o outro é extremamente difícil. Lembro de um trecho do livro A Casa das Estrelas, no qual vários conceitos são apresentados pela ótica das crianças, e um deles é sobre o que é ser adulto – para um dos pequenos adulto é, aquele que primeiramente fala dele mesmo. Genial, triste e brutalmente real.

Empatia não passa necessariamente por ter vivido uma experiência equivalente – ou igual – a do outro para assim, poder entender a dor pela qual quem fala passa. Isso é de outra ordem, definitivamente não é empatia.

Empatia não depende de você ter vivido algo, sofrido por alguém, ter traumas semelhantes, ser do mesmo gênero ou mesma idade. A sua experiência não garante que você realmente consiga escutar e se colocar no lugar do outro. Ser empático, sim.

Empatia diz respeito a uma possibilidade de se desprender do que dói em você – ou do que te alegra – para sentir uma dor que, talvez, você nunca a tenha sentido e, mesmo assim, sentir tão profundamente como SE sua. Entretanto, ironicamente, você nunca vem em primeiro lugar: quem é escutado é a quem se acolhe com a simplicidade de se conceder genuinamente ouvidos e alma.

Empatia é um abraço que não precisa dos braços, precisa,em verdade, que você se afaste de você mesmo para dar espaço para o outro.

Antes da cor da minha boneca

crianca-garota-boneca-0417-1400x800

No ano anterior escrevi no BLOG sobre brincar de boneca, motivada especialmente por uma reportagem que falava do quanto brincar de boneca é importante para as crianças.

Esse brincar envolve um processo de identificação muito complexo e fundamental para o desenvolvimento psíquico do miúdo. A identificação é um dos mecanismos de defesa que os indivíduos (saudáveis, inclusive) utilizam e o qual serve como importante ferramenta para a constituição da identidade. Semana passada uma miúda chama atenção da mídia quando escolhe uma boneca negra para ganhar de sua mãe. A questão toda foi o impacto que essa escolha causou na vendedora da loja que não entendia a razão pela qual uma menina branca escolhia uma boneca negra. Ver reportagem: http://www.geledes.org.br/essa-boneca-nao-parece-com-voce-resposta-de-garota-de-2-anos-vendedora-e-fabulosa/

Sophia, a menina com sua boneca, deu uma aula sobre processos de identificação: a cor da boneca não era um fator para ela, antes disso (e mais importante que isso!) o que a chama e cola nela era o que a boneca representava: uma boneca bem sucedida e bonita. É claro que esses estereótipos também podem ser questionados, nada mais justo. Contudo, há de se convir que é um grande passo para uma miúda e para uma sociedade marcada historicamente pela escravidão e preconceito racial.

O fato de Sophia conseguir enxergar além do óbvio e da superfície que é a pele – dentro de uma sociedade que parece relutar para abrir mão de uma cultura de exclusão – pode nos indicar que há uma geração apontando com novas estruturas identificatória. Será bom? Será ruim? Será diferente? Só o tempo, como sempre, conseguirá dar conta desses questionamentos, mas dá uma certa esperança, não dá? 😉

Nós vamos desbotando? Estou pensando sobre isso…

Há poucos dias um colega me falou sobre esse curta de animação. Não sei exatamente o que pensar sobre ele, vou descrever muito brevemente o que percebo num primeiro momento: um colorido que invade, representado na vida de um miúdo, suficientemente intenso para contagiar e colorir o pai, já tão desbotado. Somos esse pai desbotado e “desbotante”? Como manter o colorido? O que nos desbota todos os dias? Quais cores deixam de nos habitar? Crescer é desbotar?

Veja Alike e me ajude a pensar sobre isso!

 

Freud + Pacha = Boas Risadas

1489934710958

Não é necessário ser alegre para ter humor, já nos foi dito isso! Freud já nos ensinou há bastante tempo que os chistes são formas poderosas de expressão. Boris Cyrulnik também nos ajuda a entender que o humor é uma importante faceta do sujeito resiliente: lançar mão do riso, do bom humor para se expressar, para compreender e para proteger também. Para Boris, “Essa reação [humor] desconcerta porque, ao descentrar o sujeito de sua fascinação pelo horror, livra-o do sofrimento e remaneja as imagens de pesadelo. Essa estratégia psicológica aproxima-se portanto dos mecanismos de defesa…” (CYRULNIK, p.45, 2009).

Um livro que nos ajuda a liberar o humor, sem ser pretensioso, é “As traumáticas aventuras do Filho do Freud” de Pacha Urbano.  No volume da foto as tirinhas ilustram as aventuras do filho de Freud no que seriam suas tentativas de lidar com as experiências edípicas. Tudo isso, com participações mais que especiais da sua irmã e outros personagens já conhecidos da história da Psicanálise.

O melhor disso tudo? É poder ver a graça de algo que, na nossa prática diária, é tão sério. E ainda, lembrar que nem o pai da Psicanálise estava imune a sua própria teoria… claro que, isso tudo com muito bom humor.

Referências:

Cyrulnik,B. Autobiografia de um espantalho – Histórias de resiliência: O retorno à vida. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

Urbano, P. Filhos do Freud. Rio de Janeiro: Zás, 2013.

 

A segunda Lágrima

 

Não sou desses que crê, que se atira, que se derrete. Não sou o tipo que chora.

Não sou aquilo que se espera, mas ao mesmo tempo – e ironicamente – sou previsível.

Não há lágrimas a serem derramadas: não há dia, não há situação para isso.

Não me deixo abalar – aparentemente.

Não me deixo ser queixoso – na dúvida, lamento com alguns resmungos mudos que só o corpo sente.

Não me contenho, e na segunda lágrima, me exponho – e quem vê? Só quem puder ter olhos que enxergam dentro do que vai da gente e pode ver coisas que, muitas vezes, não são de gente, mas nos firmam todos os dias no que há de humanidade.

B.G.M, julho de 2016

Quando NÃO devemos encaminhar a criança para psicoterapia?

Uma criança não deve fazer psicoterapia porque está indo “mal” no colégio

Avaliações apressadas da situação da criança podem conduzir a alguns erros de encaminhamentos também. Muitas vezes a escola e o baixo rendimento nela de fato são sintomas de sofrimento infantil, e nesse caso uma avaliação psicológica cuidadosa verificará isso e o atendimento psicoterápico se justificará. Entretanto, não podemos tomar isso como regra absoluta: não ter um rendimento esperado na escola pode ser consequência de vários fatores, incluindo problemas de ordem física como dificuldades de visão e audição, só para citar algum exemplo.

 

Uma criança não deve fazer psicoterapia porque está triste com a perda do bichinho de estimação

Perder alguém ou algum bichinho de estimação pode ser uma experiência muito difícil, entretanto é importante também entendermos a perda e a morte como algo que faz parte da experiência humana. E ainda, ficar triste com ela também é um processo esperado e saudável. É diferente quando se observa que o sujeito – criança ou adulto – não consegue se recuperar dessa perda e alguns sintomas aparecem como sinalizadores desse sofrimento.

 

Uma criança não precisa necessariamente de psicoterapia porque apresenta sintomas

Para muitos psicanalistas infantis a ausência completa de sintomas na infância não indica saúde como a maioria das pessoas está inclinada a pensar. Sintoma pode ser entendido como um sinalizador de sofrimento, um conteúdo amarrado a outro de ordem inconsciente, uma comunicação, ou seja, algo que sempre tem um sentido próprio. Desenvolver sintomas no decorrer do desenvolvimento é um recurso psíquico importante e que denuncia, inclusive, quando o sofrimento precisa ser acolhido, compreendido e tratado. Antes disso, não se espera que passemos todo nosso desenvolvimento imunes porque somos sujeitos nascidos de outros sujeitos cujas histórias também possuem marcas. Nasceu o irmão mais novo e o mais velho deu sinais de incômodo expressos por uma dependência maior ou uns escapes de xixi na cama? Isso pode estar comunicando que a chegada do irmãozinho está demando dele, mas não quer dizer necessariamente patologia.

Os encaminhamentos para psicoterapia devem ser avaliados com cuidado e de maneira contextualizada: muitas vezes se subestima o sofrimento infantil – como já discuti no Post https://conversadegentemiuda.wordpress.com/2015/04/28/por-que-uma-crianca-faz-psicoterapia/ – outras, no entanto, encaminha-se para a área da psicologia porque não se sabe ao certo o que fazer ou do que se trata aquela situação. De qualquer forma, um profissional ético poderá auxiliar inclusive na compreensão dessa demanda, isto é, se ela justifica ou não o atendimento psicoterápico. A dificuldade – e/ou a beleza – da vida é que tudo e todas as experiências possuem diversas facetas e cada sujeito vivencia de maneira única.

Lembra do primeiro item desse post, sobre ter baixo rendimento no colégio? Ele por si só não indica necessidade de tratamento psicológico, entretanto uma grande parte das crianças que necessitam do tratamento psicoterapêutico apresentam dificuldades de aprendizagem. Deu para entender, certo?

Sobre ser feliz

Ser feliz é uma condição completamente interna. Pessoas felizes não dão fechadas no trânsito; pessoas felizes não se importam de ceder seu lugar na fila do supermercado para alguém que está com alguns produtos na mão; pessoas felizes não deixam de ter problemas.

A felicidade parece um santo gral; parece o prêmio depois de uma longa corrida; o tal pote de ouro no fim do arco-íris. Essa é a felicidade de pessoas infelizes, na verdade. A felicidade não está no fim; não é a recompensa pelas provações; não é um objetivo que será alcançado após uma série de tarefas ou fases cumpridas.

A felicidade não se tangencia. Imensurável por natureza, cabe a cada um reconhecer o que lhe faz feliz, entretanto, a felicidade está no dia-a-dia; está na surpresa; nos rostos conhecidos; nos momentos únicos. A felicidade está, ela não será.

Pessoas felizes nem sequer pensam sobre se são felizes. Elas são; elas estão. E ter gente feliz por perto é sensacional porque quem se sente feliz não deseja outra coisa que não continuar a viver a vida de uma forma não idealizada, bem-humorada e leve. Não é o tipo de pessoa ideal para se ter por perto?

Be happy!

Abrir chat
Precisando de ajuda?
Olá, me chamo Bibiana, qual seu nome e como posso te ajudar?