Eu estava observando meus alunos esses dias – durante as aulas muitos deles, alternadamente, levantavam-se para procurar tomadas para carregar seus telefones num claro movimento de urgência e preocupação, um misto, indiferentes ao que esteja acontecendo na aula – parece que: “Se meu celular fica sem bateria eu fico também, não posso descarregar!”
Pensei se eu faria isso também. Faria, é a resposta. Já fiz, seria outra resposta. Provavelmente continuarei fazendo – uma terceira resposta.
A partir dessa observação me flagrei pensando: Nunca mais seremos inteiros! Nunca mais estaremos inteiros numa situação! Um pensamento afirmativo, querendo ser seguido de uma interrogação no lugar do ponto, mas não tenho certeza – aliás, tendo a pensar que se trata realmente de uma afirmação que ocupará nossas vidas por longos anos, décadas ou séculos.
Por alguma razão, sentimo-nos como que convocados a estarmos ligados a todos e tudo, e paradoxalmente, nossa atenção fica tão dispersa quanto nossos vínculos. Não estamos onde estamos, nem escutamos o que estamos ouvindo. Conectados em tempo integral, os olhos se lançam entre o que acontece ao redor, e as chamadas ou mensagens que “entram” na nossa tela – descarto, abro, respondo, volto para onde estava – ou não.
Qual a sensação de não se sentir inteiro em um lugar ou numa experiência? Será que nos transformamos em pessoas que podem viver pela metade – ocupar dois espaços ou estar conectados a vários estímulos e mesmo assim dar conta?
Qual o preço que se paga por deixar tanto em torno de nós mesmos passar como secundário? Pendura essa que pago mais tarde, tenho que checar minhas mensagens.