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“Bibiana, o que você chama de agressividade eu chamo de insistência…”

Essa frase foi enviada para mim por uma pessoa, um homem que não era meu paciente, numa situação em que ele estava em desacordo com minha conduta profissional.

Claramente, nós dois víamos a situação de formas muito diferentes: eu entendia que ele estava sendo violento verbalmente através de ameaças, ele, por sua vez, entendia que era simplesmente enfaticamente insistente (a palavra “enfática” também foi usada por ele).

O que eu quero discutir aqui?

Quero trazer um recorte do meu trabalho com crianças, do que eu vivo como mulher, do que eu leio e escuto de outras pessoas, o qual conta sobre as diferentes faces e nuances que a violência pode ter. 

Usualmente a violência mais explícita é a física, na qual as marcas no corpo são dificilmente dissimuladas, ainda que possam vir a ser. Há muitos tipos de violências, assim como há muitas nuances dela e assim, formas bastante perversas de “interpretação” do que é violento ou não. Discriminação, preconceito, homofobia, racismo, machismo, todas estas podem ser maquiadas e parecerem algo banal, ou, simplesmente, uma “insistência”. Mas, não o são. E não podem seguir sendo vistas dessa forma.

A violência psicológica, embora muito frequente, é pouco reconhecida, e, com isso, sua face não é clara para a maior parte da sociedade.
Talvez você pense: “Ah, Bibiana, agora tudo virou violência!”

Não, nem tudo é sobre isso, mas muita coisa é. E é sobre o que ainda é – e há muito, basta ver as estatísticas, caso isso seja necessário – que sistematicamente precisamos falar, pensar e, acima de tudo, mudar essa realidade.

Para fins de educação, irei utilizar algumas linhas conceituando o que é a violência psicológica:

Seu diagnóstico é bastante complexo e quanto detecta-se, frequentemente está associada a outros quadros severos de maltrato e ainda que confirmada a suspeita, a intervenção dos profissionais e/ou do sistema legal ocorre de forma mais cautelosa.

É caracterizada como hostilidade verbal crônica em forma de burla, desprezo, crítica ou ameaças. Quem maltrata psiquicamente pode adotar atitudes tais como ameaçadas indiretas, privação, humilhar frente aos outros, privar de saídas e de integração social, por exemplo.

A agressão verbal é uma das faces mais comuns da violência psicológica, e em contextos familiares, por exemplo, não raro está acompanhada da violência física. É uma forma usada para agredir uma pessoa com palavras. Usa por exemplo, xingamentos ou outras expressões que façam o outro se sentir inferior.

Com faces tão indistintas por vezes, a violência vai passando entre nós e naturalizando-se entre quem é agredido e agressores, tornando-se banal até um ponto crítico no qual eclode em uma situação fatal. Nesse ponto, a sociedade olha com pavor e pergunta-se: Como se chegou a esse ponto? É sobre isso que falo nesse texto: o processo, não o resultado trágico final.

Violência pode ter um o rosto que tiver, mas essas agressões cotidianas são corrosivas como ferrugem: aos poucos vão desmontando a coragem, a auto estima, a confiança. Sobrará o que, então?

Farei uma pergunta, do meu ponto de vista, mais esperançosa:

O que nós faremos para mudar essa face?

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