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Agora precisamos falar sobre os “Pequenos Psicopatas”

Em uma capa recente da Revista Super Interessante é possível ler o título da reportagem principal “Pequenos Psicopatas”. Como se a frase já não fosse suficiente para chamar a atenção, a imagem da capa não deixa por menos: uma criança com uma tesoura de gramado na eminência de decepar um ursinho triste.

Enfim, a capa tem impacto. Mas, o que me chamou atenção em especial foi a própria reportagem, a qual trás vários casos de crianças envolvidas em profundas situações de violência – sexual, tortura, etc. e algumas colocações importantes como a origem desse mal que habitaria essas crianças.

Não se questiona os atos de impressionante violência que algumas crianças realizaram e a dor dessas famílias, o que se propõem a pensar nesse momento são algumas frases, tais como:

“Tudo sem que haja um motivo ou fator causador, a não ser o puro instinto.” (Super Interessante, Ed. 304, maio 2012).

“[…] estudos sugerem que a psicopatia pode ser causada por problemas estruturais no cérebro, e não pode ser anulada por uma boa educação.” (Super Interessante, Ed. 304, maio 2012).

E a frase mais difícil de absorver: “É como se os psicopatas já nascessem sentenciados a serem maus […]”. (Super Interessante, Ed. 304, maio 2012).

 

A ideia não é questionar a validade dos estudos – os quais a reportagem não cita especificamente – e sim propor pensar no peso da sentença que esse forte diagnóstico pode ter na vida de uma criança e de sua família. Devemos poder entender que considerar o meio e, com isso, o entorno dessa criança incluindo a história da família, dos pais e da sociedade em que vive como fatores tão relevantes quanto a hereditariedade. E ainda, se a psicopatia poderá ser entendida como predominantemente herdada (daí talvez venha o termo utilizado, sentença) ou, de fato, diz respeito à genética exclusivamente, de onde esses genes vieram? Ou seja, é possível pensar que os pais seriam potenciais psicopatas também? E o que fez com que não o fossem então?

E ainda, entendo ser fundamental pontuar que não se trata exclusivamente de educação no que diz respeito a uma possível terapêutica para a psicopatia infantil (considerando que essa terminologia fosse adequada em algum grau), porque outras esferas são fundamentais para a organização psíquica de uma criança, incluindo questões de hereditariedade, educação, questões sociais, relações familiares e afetivas. Na mesma medida, entendo que os fatores etiológicos deveriam levar em consideração esses mesmos pontos.

Convenhamos, sentenciar uma criança como psicopata e afirmar que ela nasce mal e não há nada possível de ser feito, é, no mínimo, uma afirmação perigosa no mesmo nível que a psicopatia. Perigosa para a criança, para sua família e igualmente para a sociedade.

Quando me deparo com esses conteúdos condenadores de uma vida e o tom de determinismo deles, lembro do bom e “velho”  Freud, o qual na sua fórmula etiológica faz com que lembremos que uma personalidade é fruto da intersecção de muitas variáveis, incluindo questões de hereditariedade e questões do meio (relações, afetos, famílias, etc.). Isso não parece fazer mais sentido?

 

No Comments

  • Adriana Silva disse:

    Concordo com as colocações da Drª Bibiana. Não sou psicóloga mas me interesso e acredito na psicanálise, assim parabenizo-a pela inciativa e coragem de se posicionar e ponderar à respeito de afirmações sobre o ser humano de forma superficial e simplista. Penso que somos verdadeiramente complexos e para uma afirmação sobre um assunto delicado como a psicopatia é necessária mas que uma afirmação aparentemente sem base científica na capa de uma revista,é necessário um exame apurado sobre o assunto levando em consideração todos os fatores que interferem na estruturação do ser humano. Adriana.

  • Yanne Azevedo disse:

    Também concordo totalmente com as colocações da Dra Bibiana, sou psicóloga analista do comportamento e também acho que o comportamento é multideterminado. Estava fazendo essa discussão no facebook com outros colegas psicólogos. Acho que devemos nos posicionar para mostrar que reportagens deste tipo não são verdades absolutas.
    Meu post no face sobre a matéria:
    “Fiiquei horrorizada com essa matéria e, principalmente, com as implicações dela para a vida das pessoas. A partir de agora, mais do que antes, aumentam as chances das pessoas encaixarem as crianças no rótulo de psicopata e considerarem isso como uma sentença. É puro determinismo biológico, na medida em que desconsidera totalmente questões da história de vida e questões sociais. A reportagem diz que “as crianças nascem psicopatas e que independente da criação e de sua história de vida vão ter comportamentos perversos”, como se o comportamento não tivesse as outras dimensões, só a biológica. Se o que a reportagem defende for verdade, o que devemos fazer com esses “pequenos psicopatas”, prender ou tirar do convívio social desde a infância? Considero essa reportagem um retrocesso em relação a explicação do comportamento humano. Realmente lamentável, estou indignada”

  • Yanne Azevedo disse:

    Gostaria de deixar claro, que não estou defendendo que questões orgânicas sejam desconsideradas, o próprio Skinner defende que o comportamento tem origens filogenéticas (parte orgânica), ontogenéticas (história de vida) e culturais, o que estou considerando absurdo é a reportagem da Super interessante dizer que o biológico é que determina totalmente o comportamento e que não há nada que se possa fazer em relação a isso. Me questiono sobre como eles fizeram essas pesquisas que citam na matéria (eles não citam as fontes). A autora deste site, Bibiana Godoi, que critica a reportagem é psicanalista e também não concorda com esse absurdo. A proposta de que variáveis orgânicas são as únicas responsáveis por qualquer tipo de comportamento (que seja) é incompatível com a Psicologia como um todo, independente de qualquer referencial teórico. Se isso fosse verdade, qual seria o nosso papel enquanto psicólogos? Se for só o orgânico, para quê que serve a nossa profissão?

  • Bibiana disse:

    Olá pessoal,
    Obrigada pelas contribuições! Todas são bem-vindas e válidas para pensarmos nessas questões que são muito relevantes, ainda mais quando falamos no público infantil, não é? Abraços a todos!

  • aliny disse:

    é gente é de causar espantos mesmos,nao sou pscologa nem nada do ramo mas acho que tem criancas que agem por si mesmo,tenho dois filhos e por 2 anos cuidei dos 4 filhos da minha irma que estava em outro pais,tentei dar a todos o mesmo tratamento,de carinho e regras,mas vi que nao era o fato de serem irmaos ou primos que determinaria a personalidade deles a serem parecidas,ao contrario,sempre desde ao nascer um deles se mostrou diferente,mais agitado,sempre dando um pouquinho de trabalho a mais e sempre precisando mais de atencao,entao acho que ja nascemos do jeito que somos sim,acho,que so podemos molda los,ate que eles percebam que tambem podem ter suas escolhas e atitudes independentes de nossa vontade ou querer……Bom,essa e minha opiniao baseada na experiencia que tive nesses dois anos cuidando deles.

  • Olá, pessoa. Venho deixar bem claro o absurdo da reportagem e logo de capa. Não sou psicologo e nem trabalho na aréa infantil. Vejo com total repúdio as questões colocadas pela revista. A vida do ser humano não pode ser atribuidas a exemplo de outras que causam qualquer transtorno a sociedade. Na minha visão, a base familiar tem um divisor, para as transformações da personalidade da criança. Acho ainda que durante o período de gestação é extremamente importante a mãe esta confortável com sua gravidez. Uma vez que o período requer muita tranquilidade e compreensão de todos. Entretando, a familia deve manter o ambiente familiar saudavel. Caso contrario, a vida desta criança pode seguir um rumo bem diferente para o processo multifuncional de sua capacidade. Agradeço deste já atenção de todos. Assim deixo minha opnião

  • Erica chiaradia disse:

    Discordo! não e só uma questão de ser bom ou ruim , nesse caso não e só uma boa ou má formação, são pessoas extremanentes perigosas e sem nem uma noção de afeto , não dá pra querer acreditar que alguém que não tem a capacidade de se colocar no lugar do proximo possa ser bom. infelizmente existe sim … Há quem passe por um bosque e veja apenas lenha para fogueira

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