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Em 1919 Freud escreveu um texto chamado “Deve-se ensinar a Psicanálise nas universidades?” no qual ele aponta se a Psicanálise é para a universidade. Se considerarmos que a formação para psicanalistas é orientada para o que se chama de tripé analítico – estudo, supervisão e prática – o ensino da psicanálise é bastante restrito no contexto universitário. Freud afirma dos ganhos que os profissionais teriam ao estudar essa ciência, entretanto, ao fim do texto ele afirma “o estudante de medicina jamais aprenderá a psicanálise. […] é suficiente que ele aprenda sobre e com a psicanálise…” (p.381, 1919/2010).

O ponto é: os cursos universitários formam psicanalistas? Não, não formam. O objetivo da maioria dos cursos de graduação atualmente, se não todos, é uma formação generalista – o que se opõe a uma formação profunda em algo, como a psicanálise. Então, o que se aprende em um curso de Psicologia, por exemplo? Para que a psicanálise na graduação?

Farei uma metáfora para exemplificar:

Quando o bebê nasce você não oferece uma maçã para ele. Com o passar dos meses você oferecerá o suco da maçã; mais meses se passam, a maçã em forma de purê; em seguida um pedaço da maçã, o qual o bebê irá brincar, cheirar e sentir a textura da fruta. A criança, enfim, recebe a fruta maçã, tal como é: irá comer ou brincar? Ou ambos? Adulto, a maçã se transforma em sofisticadas receitas.

Na universidade o que se oferece é o suco. É tudo que pode ser uma maçã? Nunca. Não é maçã? Sim, é, mas com toda certeza é uma ideia bastante básica de tudo o que a fruta pode oferecer e ser. Para que ela é oferecida? Porque é uma prática consagrada pela sua relevância clínica, pela condição de compreensão de processos complexos típicos do humano, pela prática como uma via de pesquisa que se dá no campo – no setting –, da prática para a teoria, e não o contrário, etc. São muitas as razões.

E então, você provou dessa fruta?

Referência:

Freud, S. História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”): além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

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